“O nosso trabalho vive não só dos dinheiros do Ministério da Cultura e da Câmara Municipal de Sines, como também das vendas dos nossos espetáculos e, neste momento, temos datas canceladas, suspensas e outras que já estão efetivamente empurradas para o final do verão”, avançou à agência Lusa a diretora artística do Teatro do Mar, Julieta Aurora Santos.
Com cerca de 30 a 40 espetáculos por ano, no estrangeiro, a companhia de teatro itinerante, que conseguiu manter o apoio financeiro da Direção-Geral das Artes e do município de Sines, está “mais do que nunca a viver cada dia” e a “planificar de acordo com tudo o que vai acontecer” nos próximos meses.
“As datas até junho estão praticamente canceladas, acima de 10 espetáculos o que é bastante substancial. Tínhamos uma estreia prevista para abril ou maio, que implicava algum investimento, e que está suspenso. Na verdade tentávamos desenhar um caminho e agora fazemos vários desenhos consoante as possibilidades”, reconheceu.
Com uma “estrutura humana” composta por nove funcionários fixos “em teletrabalho”, na “investigação, planeamento e design”, a encenadora, que está solidária com as companhias de teatro “que não foram abrangidas pelos apoios do Ministério”, fala “num panorama de grande instabilidade” para o setor.
“Para manter os postos de trabalho tivemos de fazer reajustes nos vencimentos. Não podemos ter tudo e todos têm a consciência de que vão ganhar uma parte do que recebiam mantendo-se em atividade e há muita coisa para pensar”, acrescentou.
Além da atividade regular, a companhia de teatro de rua, com sede em Sines, no litoral alentejano, é responsável pela produção de uma mostra de artes de rua, em setembro, que se mantém no calendário, embora “num formato mais pequeno”.
“Estamos a trabalhar para a Mostra de Artes de Rua [M.A.R.], tendo plena consciência que, a acontecer, será um milagre e obviamente que numa versão mais pequena porque os meios são infinitamente menores”, reconheceu.
Com o início da pandemia de COVID-19, o Teatro do Mar, que completou 34 anos de existência, em março, enfrenta uma nova realidade que “atingiu em força o setor da cultura” e resiste para já em aderir “ao teatro online”.
“Penso que o setor cultural e artístico foi o primeiro e provavelmente será o último a retomar a atividade em pleno, porque o teatro nunca existirá sem o público e sem ele pouco podemos fazer a não ser planear. O teatro vive da proximidade e da troca das energias e sem a experiência das artes performativas vamos acabar todos a fazer vídeos”, questionou.
A encenadora, que olha para o futuro “como uma bruma”, admite que para uma companhia de teatro de rua “não ter a proximidade é corromper completamente com um dos principais objetivos do nosso trabalho”.
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