Vencedora de um Nobel de Literatura e de um Pulitzer, referência da literatura afro-americana, a escritora Toni Morrison abordou o legado da escravidão nos Estados Unidos com uma voz poética e ao mesmo tempo crua, influenciando gerações de autores. Da sua obra, há cinco títulos que de destacam especialmente, embora a maioria não tenha edição portuguesa:
"The Bluest Eye" (1970)
Primeiro romance de Morrison, publicado ao 39 anos, este livro conta a história de uma rapariga negra na década de 1940 em Ohio, que sonha ter olhos azuis. Para a protagonista, esse traço é um sinónimo de brancura e de beleza num mundo assombrado pela escravidão. Vívido, sensível, mas também duro e sem filtros, o livro foi descrito pelo jornal The New York Times como "uma prosa tão precisa, tão fiel ao discurso e tão carregada de dor e assombro que o romance se torna poesia". Na altura, teve uma resposta ambivalente do público, com baixas vendas. Começou a ganhar reconhecimento após ser incluído numa lista de leitura de uma universidade. Desde então, enfrentou desafios legais e chegou a ser banido em escolas de vários estados americanos por tratar de temas tabu como incesto e abuso sexual infantil.
"Song of Solomon" (1977)
O segundo romance de Morrison, vencedor do prestigiado US National Book Critics Circle Award, mistura realismo mágico, folclore e sociologia para contar a história de uma adolescente que tenta esquecer o seu passado como escrava. Apresenta um dos temas caros à escrita de Morrison: a conturbada descoberta da identidade num mundo hostil.
"Amada" (1987)
Com o seu quinto livro, Morrison tornou-se uma celebridade repentinamente, ao dramatizar a dolorosa história real de Margaret Garner, uma escrava fugitiva que matou a filha em 1856 para a salvar de uma vida de servidão. "É uma obra-prima americana que repensa, de uma forma curiosa, todos os grandes romances da época em que é escrito", escreveu A.S. Byatt, no jornal The Guardian. O livro foi preterido em dois dos principais prémios norte-americanos na altura da edição, levando 48 escritores a assinarem uma carta aberta na New York Times Book Review denunciando o não reconhecimento de Morrison. Em 1988, chegou finalmente o Prémio Pulitzer. O livro foi adaptado para o cinema por Jonathan Demme, num filme protagonizado por Oprah Winfrey.
"Paradise" (1998)
"Paradise" completou a trilogia de romances de Morrison iniciada com "Amada" e seguida por "Jazz" (1992), desafiando a leitura dominante do passado, ao explorar, especificamente, a história afro-americana desde meados do século XIX até aos dias de hoje. Primeiro livro escrito depois de ser agraciada com o Nobel de Literatura, em 1993, apresenta o seu típico estilo de múltiplas vozes narrativas com saltos temporais para abordar as causas de um brutal assassinato numa cidade de Oklahoma nos anos 1970.
"Home" (2012)
"De quem é esta casa?" é a pergunta que abre este romance, que trata de um outro tema recorrente no trabalho de Morrison: o que é um lar e como isso nos molda ou nos dilacera. Conta a história de um rapaz que volta para casa, em Seattle, depois de lutar na Guerra da Coreia. Um jovem que deixa "um exército integrado" para regressar a "um país segregado", como escreveu o jornal The New York Times na altura do lançamento.
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