Pôr em palco o filme escrito, realizado por Pedro Almodóvar, estreado em 1999, e que é também o seu “favorito” do cineasta espanhol, “é um sonho antigo” de Daniel Gorjão, acrescentou o encenador, em declarações hoje à agência Lusa.
Dar voz a temas que estão na ordem do dia, como a identidade de género ou a orientação sexual, e levar o público a refletir sobre eles, evidenciando intérpretes e corpos 'queer', foram objetivos de Daniel Gorjão.
A vontade de fazer uma peça sobre a comédia dramática cuja ação gira à volta de uma mãe solteira, Manuela, que vê o seu único filho, Esteban, morrer aos 17 anos de forma trágica quando corre para obter o autógrafo de uma atriz, data de “há muitos anos, por aí 2008/2009”, indicou.
Daniel Gorjão era então ator e trabalhava com Filipe La Feria quando este encenador pensou fazer o espetáculo sobre aquela mãe que, depois da morte do filho, parte para Barcelona em busca do pai, mas que acaba por se ver enredada na vida de várias mulheres, antes “de poder exorcizar a culpa”, indicou.
“Na altura, gostava de ter feito Esteban, mas o espetáculo acabou por não se concretizar”, referiu Daniel Gorjão, acrescentando ter “ficado sempre” com vontade de pôr a peça em palco.
A vontade manteve-se, por o filme abordar “temáticas importantes, como as LGBT, de género, ou a sororidade”, que se “inscrevem bem” no trabalho realizado enquanto encenador, e “aumentou” quando “teve conhecimento” do texto adaptado para teatro por Samuel Adamson.
A versão para teatro do dramaturgo e argumentista nascido na Austrália e residente no Reino Unido Samuel Adamson estreou-se em setembro de 2007, no Old Vic Theatre, em Londres, numa encenação do conhecido diretor de ópera Tom Cairns, irlandês.
O espetáculo de teatro sobre o filme que em 2000 vencera o Óscar e o Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, um ano depois de ter garantido a Almodóvar a Palma de Ouro de Melhor Realizador no Festival de Cannes, foi coproduzido por Kevin Spacey, que dirigia o Old Vic desde 2004, e Sam Mendes.
Só agora o diretor artístico e cofundador, com Teresa Tavares e Sara Garrinhas, da associação cultural Teatro do Vão, consegue concretizar “o sonho de anos”, numa coprodução com o Teatro Municipal do Porto e o S. Luiz Teatro Municipal.
No S. Luiz, a peça estará em cena na sala Luis Miguel Cintra, de 11 a 22 de janeiro de 2023, com sessões de quarta-feira a sábado, às 20h00, e, ao domingo, às 17h30. No dia 20 de janeiro, a sessão terá tradução em Língua Gestual Portuguesa e, nos dias 20 e 22, haverá audiodescrição. De 27 a 29 de janeiro, subirá ao palco do Teatro Municipal do Porto – Campo Alegre.
Uma peça sobre “a incondicionalidade do amor, que se mantém além da morte” é também como Daniel Gorjão define “Tudo Sobre a Minha Mãe”, sublinhando ainda a “sororidade”, ou seja, a empatia e solidariedade reais das personagens femininas do filme de Almodóvar, "que são umas autênticas mulheres-símbolo de resistência e sobrevivência femininas", disse.
Com direção artística de Daniel Gorjão e assistência de encenação de João Candeias Luís e Filipa Leão, “Tudo Sobre a Minha Mãe” tem tradução para português de Hugo van der Ding.
A interpretar estão André Patrício, Catarina Wallenstein, Filipa Leão, Filipa Matta, Gaya de Medeiros, João Candeias Luís, João Sá Nogueira, Maria João Luís, Maria João Vicente, Sílvia Filipe e Teresa Tavares.
A música é de Alberto Iglésias, o desenho de som de Miguel Lucas Mendes, a captação de vídeo de João Garrinhas – Outros Ângulos, a execução de figurinos do atelier Jaqueline Roxo e o 'styling' de Federico Rudari.
Comentários