A marcha foi anunciada hoje pelo produtor musical Nuno Levy, adiantando à agência Lusa que o protesto nasceu na ilha do Sal, a mais turística do arquipélago e, consequentemente, a com maior concentração de pessoas que vivem exclusivamente da música.
Nuno Levy reconheceu que o país está a viver um “momento difícil” em termos de saúde pública, mas a classe dos artistas quer utilizar o 18 de outubro, Dia Nacional da Cultura, para chamar a atenção da “situação difícil e insustentável” que estão a viver, ao fim de cerca de oito meses de desemprego motivados pela pandemia da COVID-19.
“Não temos outro rendimento. Desde março, quando os hotéis fecharam, estamos sem trabalho”, descreveu o produtor musical, referindo que os artistas e músicos já realizaram várias atividades para ir enfrentando as dificuldades e têm sido “super solidários” com todas as outras classes no país, mas que “já atingiram o fundo”.
Nuno Levy disse que os melhores pagamentos mensais são feitos pelos hotéis, mas neste momento não há clientes, sendo que outros espaços mais pequenos que tentam fazer alguma animação são “perseguidos” pela Inspeção Geral da Atividades Económicas (IGAE).
“Se estão abertos é porque estão a cumprir as normas impostas pela Direção-Geral da Saúde, mas mesmo assim tentam fazer uma música e a IGAE vai lá e para e há espaços que já foram fechados no meio do funcionamento e os clientes saíram sem pagar”, denunciou o produtor musical.
Nuno Levy reconheceu que se trata de uma “situação complexa”, mas disse que os músicos e artistas só precisam de espaços para trabalhar. “Não estamos a pedir esmola, mesmo que todo o apoio seja sempre bem-vindo, mas precisamos de espaços para trabalhar”.
A situação é de tal forma geral que Nuno Levy disse que a manifestação foi organizada no Sal e rapidamente mereceu adesão de colegas das outras ilhas como Santo Antão, São Vicente, Santiago e Boa Vista, enquanto Fogo não aderiu por “medo de represálias”.
“Mesmo sabendo que estamos em momento de campanha [para as eleições autárquicas de 25 de outubro], para nós é o momento certo, porque quando mais deixarmos, menos oportunidades teremos de ser ouvidos”, continuou a mesma fonte.
Na quinta-feira, após reunião do Conselho de Ministros, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, anunciou uma série de medidas para o setor cultural no país, entre elas a possibilidade de abertura de espaços culturais para eventos com lotação máxima de 100 pessoas, desde que passem por uma vistoria e obtenham uma autorização prévia da Direção-Geral da Saúde, para evitar propagação da COVID-19.
Nuno Levy disse que os promotores da manifestação estão a fazer o máximo para não terem conotação política, mas considerou que o anúncio foi uma “resposta direita” às reivindicações do grupo de artistas e profissionais das artes e espetáculos.
“Para nós, isso é muito bom porque quer dizer que antes de ser feita já estamos a ser ouvidos. E essa é a primeira motivação para a nossa marcha, estamos contentes com o que o ministro disse, embora ainda não vimos na prática”, afirmou.
A manifestação está marcada para as 17:00 locais de domingo (19:00 em Lisboa), em várias ilhas, nomeadamente Sal, Santiago, Santo Antão, São Vicente e Boa Vista.
Os artistas marcharão em silêncio, devidamente distanciados, usando máscaras faciais e empunhando os seus instrumentos de trabalho, avançaram os promotores.
Cabo Verde tinha até quinta-feira um acumulado de 7.444 casos positivos desde 19 de março, dos quais 79 óbitos, dois doentes transferidos e 6.348 casos recuperados.
A pandemia de COVID-19 já provocou mais de um milhão e noventa e três mil mortos e mais de 38,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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