A caminho dos
Óscares 2025
"Ainda Estou Aqui", a esperança do Brasil para a glória nos Óscares, concentra-se nos anos da ditadura militar do país (1965-1985), mas também é "um filme sobre o presente", disse a atriz principal, Fernanda Torres, à agência France-Presse (AFP).
O filme, que ganhou o prémio de Melhor Argumento no Festival de Cinema de Veneza de 2024 e chega aos cinemas portugueses a 16 de janeiro, provou ser popular entre o público brasileiro e obteve uns impressionantes 90% de reações positivas no 'site' de agregação de críticas Rotten Tomatoes.
As nomeações aos Óscares serão anunciadas a 17 de janeiro, com "Ainda Estou Aqui" na lista dos 15 finalistas para concorrer às cinco nomeações na categoria de Melhor Filme Internacional, mas de olho noutras, incluindo a de Melhor Atriz. Também concorre ao Globo de Ouro no domingo precisamente nessas duas categorias.
O filme baseia-se na história real de Rubens Paiva, um político de esquerda que desapareceu durante a ditadura à qual se opunha (papel de Selton Mello), olhando para a luta que a sua esposa Eunice Paiva travou para descobrir o que lhe aconteceu após ser sequestrado por agentes do regime em 1971.
A ditadura militar brasileira foi responsável pela morte e desaparecimento de mais de 400 pessoas, segundo a Comissão Nacional da Verdade que investigou as violações dos seus direitos.
Com “Ainda Estou Aqui”, o realizador Walter Salles regressa após uma década e meio de ausência e no meio de muita expectativa após o sucesso de crítica dos seus filmes “Central do Brasil”, de 1998, e “Diários de Che Guevara”, de 2004.
A própria mãe de Torres, Fernanda Montenegro, de 95 anos, nomeada às estatuetas douradas por "Central do Brasil", aparece no final de "Ainda Estou Aqui" interpretando a idosa Eunice Paiva.
Eis o que Salles e Torres disseram à AFP sobre o filme numa entrevista conjunta numa altura em que acelera a temporada de prémios de Hollywood.
Passado e presente
Salles: “Quando iniciámos o projeto em 2016, pensámos que seria uma oportunidade de olhar para o passado para entender de onde viemos. Mas dada a ascensão da extrema direita no Brasil, a partir de 2017, percebemos que o filme também funciona para entender o presente."
Torres: "É um filme sobre o presente. Tivemos um presidente [Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022] que elogiou um torturador do regime e acreditou que os militares salvaram o Brasil do comunismo... Quem vê o filme pensa: 'Isto está errado, não havia qualquer razão para perseguir esta família'."
Receção no exterior
Salles: “Nos festivais internacionais tivemos reações semelhantes às do Brasil, porque não somos o único país que vê o quão frágil é a democracia, ou que vive ou viveu o trauma de ter uma extrema direita."
“Sean Penn viu o filme no dia da eleição de Donald Trump e, quando o apresentou em Los Angeles, disse que o sorriso de Eunice Paiva era um exemplo de resistência para o que ao que está a chegar nos EUA."
Torres: “Vivemos num mundo volátil, onde as novas tecnologias estão a mudar as relações sociais. Em momentos como este, vemos um aumento no desejo de um governo autoritário para restaurar a ordem."
“Através da perspetiva desta família, o filme mostra o que isso significa num país com um governo violento que suspende os direitos civis.”
Flashbacks
Salles (sobre a história nos anos 1970): “Estas eram lembranças da minha adolescência. A minha namorada de 13 ou 14 anos era amiga de uma das filhas do Paiva, portanto eu passava muito tempo com eles."
“Na casa deles era outro mundo, com discussão política livre, onde se podia falar de livros e discos censurados, onde se sonhava com um país mais inclusivo.”
“Mas também descobri uma violência que não conhecia. O dia em que Rubens foi sequestrado, para nunca mais ser visto, deixou uma forte impressão quando tudo mudou para todos os que estavam naquele microcosmos. Qualquer que fosse a inocência que tivéssemos foi perdida naquele dia."
Nomeação para os Óscares
Salles: "Os prémios funcionam para trazer mais gente para ver filmes, portanto estou feliz nesse sentido. Se [a nomeação] acontecer, seria ótimo. Se não, a vida continua. O meu princípio é que alguém que é otimista está mal informado."
TRAILER.
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