Ambos atores nomeados para os óscares, Andrew Garfield e Florence Pugh têm dificuldade em explicar exatamente como é criada a química no ecrã, mas não é algo que lhes falte no emocionante filme romântico "We Live in Time", que estreou no Festival de Cinema de Toronto.
O filme conta a história da chef Almut (Pugh), distinguida com uma estrela Michelin, e de Tobias (Garfield), funcionário de uma empresa de cereais, que se conhecem da maneira talvez mais estranha possível: ela atropela-o com o carro.
O realizador John Crowley leva o público numa jornada íntima da sua história de amor, desde o namoro e sexo intenso até à construção de uma família e o confronto com um cancro, através de instantâneos da sua existência - todos apresentados fora de ordem.
Para Pugh, esse processo permitiu que os dois atores aprendessem mais sobre as suas personagens e um sobre o outro à medida que avançava a rodagem.
"Foi uma experiência tão mágica", disse a atriz britânica de 28 anos à France-Presse (AFP) no sábado, pouco depois da estreia calorosa do filme no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF).
E acrescenta: “Andamos a tentar falar sobre o que é a química e de onde ela vem e, no fim das contas, não sabemos nada além do facto de que nós dois estávamos dispostos a saltar juntos, e é provavelmente por isso que parece tão louco e cru".
Na verdade, há momentos brutais de raiva entre o casal, mas também de tristeza paralisante e, antes disso, a emoção selvagem de ter um filho – um parto de emergência na casa de banho de um posto de gasolina.
“Estou muito feliz por ter feito isto e por ter sido com a Florence”, diz Garfield.
“Acho que não estava destinado a ser com mais ninguém”, acrescentou o ator de 41 anos, que estava a fazer uma pausa profissional quando recebeu o argumento de Nick Payne e rapidamente aproveitou a oportunidade de trabalhar com Crowley, que o dirigira em "Rapaz A" (2007), que ajudou a lançar a sua carreira.
O ator anglo-americano disse no sábado que o filme era “como um ritual sagrado de cura”, permitindo-lhe lidar com “certas perdas que experimentei e com certos anseios que estava a experimentar”, numa referência indireta que abarca o que se sabe ter sido o trauma pela morte da mãe, vítima de cancro do pâncreas, em novembro de 2019.
Alma antiga
Para Crowley, a estrutura não linear de Payne ofereceu um "convite divertido ao público para começar a montar isto".
Ele disse à AFP que a rodagem estava obviamente fora de ordem, embora a equipa não quisesse que Garfield e Pugh "pulassem esquizofrenicamente demasiado longe" entre os períodos de um determinado dia.
Nos poucos dias com cenas em três períodos de tempo, “isso foi realmente arrasador para eles a nível mental”, recorda.
"Foi um exercício técnico e emocional muito interessante", concretiza.
Após trabalhar no grande sucesso “Oppenheimer” e no épico de ficção científica “Dune - Parte 2”, Pugh disse que estava entusiasmada com a mudança de género de “We Live in Time”, que terá um lançamento limitado a 11 de outubro nos cinemas da América do Norte.
“Há algum tempo que queria fazer uma história de amor”, disse à AFP.
Após a sua personagem Almut ser diagnosticada com cancro do ovário, ela luta para equilibrar o tempo limitado que resta entre a sua família e os seus objetivos profissionais.
“As coisas pelas quais ela está a passar na história são as coisas que vejo nos meus amigos, nas minhas irmãs e na minha mãe, em mim mesma agora”, diz Pugh, referindo-se ao malabarismo frenético entre carreira, amor, maternidade e saúde.
Quando questionado sobre a diferença de idade de 13 anos entre os atores, Crowley disse que isso rapidamente se tornou irrelevante por causa da palpável ligação entre os dois.
“Florence é uma alma antiga”, reage o realizador.
“Ela carrega mais peso e, de certa forma, Andrew, que também tem uma alma velha, carrega uma espécie de infantilidade – sempre carregou.”, completou.
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