António-Pedro Vasconcelos conheceu Ruiz na capital francesa, na década de 1980, por intermédio do produtor Paulo Branco. «Ele chegou a escrever um guião para um filme que eu iria fazer, uma adaptação de ‘Minha Mãe’, de Georges Bataille, que por vicissitudes do cinema português acabei por não filmar», contou.
Raúl Ruiz era «um cineasta com uma capacidade extraordinária de se adaptar às circunstâncias, que filmava com o dinheiro que tinha, filmava o que queria, e estava sempre a inovar e a procurar novos caminhos», disse António-Pedro Vasconcelos.
«Pessoa encantadora, muito doce», Raúl Ruiz tinha «uma cultura incrível, e era uma inteligência avara».
«Tinha curiosidade por todas as culturas e todas as línguas, e lembrava o [Jorge Luís] Borges, [com quem] tinha certas afinidades, conhecia os livros e os escritos mais inesperados e secretos e [tinha] uma grande abertura a todas as outras culturas».
«Tinha uma enorme curiosidade por todas as outras culturas e línguas», acrescentou.
«A ele ficamos a dever a redescoberta de Camilo Castelo Branco, romancista que lia em português», disse António Pedro Vasconcelos referindo-se ao último filme de Ruiz,
«Os Mistérios de Lisboa».
O realizador português lamentou «ter ficado por fazer o filme que Ruiz tinha projetado sobre a batalha das Linhas de Torres».
Raúl Ruiz morreu hoje em Paris, aos 70 anos, vítima de doença prolongada. O realizador rodou nove filmes em Portugal, o mais recente, «Os Mistérios de Lisboa», estreou-se no princípio do mês nos Estados Unidos.
A cerimónia fúnebre realizar-se-á a 23 de agosto, às 10:30, na Igreja Saint-Paul, em Paris. O corpo do cineasta será sepultado no Chile, em Puerto Montt, onde o realizador nasceu em 1941.
@Lusa
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