O comité que escolhe os finalistas e o eventual candidato da França ao Óscar de Melhor Filme Internacional vai ter mais membros para reforçar a sua independência.
A decisão foi anunciada esta sexta-feira pelo Centro Nacional de Cinema de França (CNC), a principal instituição cinematográfica do país, que supervisiona o financiamento estatal de filmes e TV.
De sete membros, o comité passará a ter 11 e cinco suplentes, que continuam a ser nomeados pelo Ministra da Cultura (que deverá mudar com as próximas eleições), por sugestão do presidente do CNC, a partir de uma seleção de profissionais da indústria, para suportar a “colegialidade” dos debates internos, os diversos pontos de vista e também proteger melhor os votos secretos.
O comité também passa a ser nomeado para dois anos em vez de um e o presidente do CNC participará como observador nas reuniões.
“Estas três modificações contribuirão para fortalecer a independência do comité, tanto no que diz respeito às autoridades públicas como aos interesses profissionais”, disse o diretor geral do CNC, Olivier Henrard, atualmente a exercer as funções de presidente após a demissão na semana passada de Dominique Boutonnat, considerado culpado de agressão sexual.
A reforma é vista como uma resposta à grande polémica do ano passado no interior da indústria francesa, quando "Anatomia de uma Queda", de Justine Triet, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes, foi preterido em favor de “O Sabor da Vida”, de Trần Anh Hùng, como a candidatura ao Óscar de Melhor Filme Internacional.
Muitos no interior da indústria interpretaram a decisão como o resultado de pressões e uma 'punição' por Triet ter criticado o governo do presidente Emmanuel Macron durante o seu discurso em Cannes.
Outros defenderam que algumas pessoas do comité escolheram um filme mais 'tradicional' por manterem a imagem de que os votantes dos Óscares na categoria são mais velhas e nostálgicas, não levando em conta que a Academia se tornou mais jovem e diversificada.
A França acabou por deixar 'fugir' a melhor oportunidade de ganhar numa categoria que não ganha desde "Indochina" (1992) e onde nem sequer tem nomeados desde 2020: a drama histórico com Juliette Binoche e Benoît Magimel foi um dos 15 finalistas, mas falhou a nomeação, enquanto o drama jurídico de Triet teve uma grande trajetória, conseguindo cinco nomeações, incluindo Melhor Filme, Realização e Atriz (Sandra Hüller), conquistando a estatueta de Melhor Argumento Original.
O comité já tinha passado por uma reforma recente após outra escolha controvérsia em 2021, quando "Titane", vencedor da Palma de Ouro, mas considerado uma proposta mais 'difícil', foi escolhido em vez de "O Acontecimento", que ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza.
A decisão foi encarada como outra oportunidade perdida pois a história do segundo centrava-se numa jovem que tentava obter acesso a um aborto, tema que estava na ordem do dia nos EUA.
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