No filme, o seu regresso ao cinema desde "O Décimo Homem" (2016), Burman conta a história de uma famosa cantora transexual iídiche que retorna às suas origens na Argentina para confrontar sua família e a tradição judaica da qual fazem parte.
A pré-estreia mundial do filme acontece como parte do programa Cinéma de la Plage, um evento especial do festival, onde os filmes são exibidos num ecrã gigante montado na praia da Croisette e aberto ao público.
A cantora Mumy Singer, interpretada pela atriz trans espanhola Penélope Guerrero, decide voltar à sua cidade natal de Buenos Aires para relembrar a sua infância e recordar a cerimónia judaica de Bar ou Bat Mitzvah, que marca a passagem de um menino ou menina para a vida adulta.
Burman diz que o filme questiona "muitas coisas que têm a ver com nossa identidade" de uma forma geral.
Na sua opinião, a protagonista, "uma mulher que fez a transição", não tem um problema com sua identidade de género, mas sim um conflito com a sua própria identidade, mais global.
"Foco excessivo"
"A verdadeira transição de que o filme fala não é de menino para menina, de homem para mulher, de mulher para homem, mas da infância para a idade adulta", diz ele.
"É uma transição que nunca terminamos, mas que é comum a todos os mortais", acrescentou.
O cineasta garante que há "um foco excessivo na identidade de género como o único pilar da identidade" e, às vezes, há até um "reducionismo" em relação a esse tipo de questão, quando na realidade temos muitas facetas.
"Temos de tornar essas situações visíveis, mas não encapsulá-las", acrescenta.
Assim que as pessoas trans ou de outras minorias são enquadradas nesse critério único, "é como 'condenar' aqueles que fazem parte de grupos a contar apenas as histórias que os fazem pertencer a esse grupo", insistiu. "Isso é totalmente conservador e repete o preconceito", sublinhou.
A atriz Penélope Guerrero concorda que o filme vai muito além das questões trans e que se concentra, acima de tudo, numa pessoa que tem as suas inseguranças e que as circunstâncias "a fazem repensar se está no lugar certo".
"Não se trata tanto de identidade, mas do próprio ser humano", acrescenta.
Quando chegou a hora de fazer o filme, Burman pediu à artista que participasse da finalização do roteiro para que ele ficasse mais de acordo com a realidade.
O cineasta quis ter muito cuidado nesse aspeto justamente para evitar "repetir lugares comuns e o politicamente correto e para não encapsular" mais uma vez as questões de género.
Burman também compôs alguns temas musicais para o filme, que inclui várias cenas de dança e canções iídiche.
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