Nascido a 30 de julho de 1947 e a viver na Áustria do pós-Segunda Guerra Mundial, Arnold Schwarzenegger sonhava com os EUA desde os 10 anos. Aos 14, escolheu o culturismo em vez do futebol como o caminho para lá chegar. Aos 20, concretizou o sonho de ser Mister Universo e tornou-se o mais novo de sempre. Aos 21, em 1968, chegava aos EUA e já com o outro sonho: o de se tornar uma grande estrela de cinema.
Entretanto, conquistou seis títulos consecutivos como Mr. Olympia entre 1970 e 1975, mais um em 1980. O seu braço chegou a medir 55,88 centímetros e permanece uma das figuras mais míticas do culturismo de todos os tempos.
Sem surpresa, o físico que o levou aos EUA também lhe abriu as portas do cinema aos 22 anos e logo com o papel de Hércules em "Hercules in New York" (1970), usando o nome de "Arnold Strong" e um um sotaque tão carregado que acabou por ser dobrado por outro ator. Não teve esse problema com o papel secundário no segundo filme, "O Imenso Adeus" (1973): era um assassino surdo-mudo.
Uma maior notoriedade chegou com o terceiro filme, "À Força de Músculos" (1976), que até lhe valeu o Globo para Melhor Ator Revelação, onde conheceu pela primeira vez o futuro rival Sylvester Stallone, na cerimónia em que "Rocky" ganhou os prémios de Melhor Filme e Melhor Realização, que recordaria em 2012 a sua reação: "Eu vi-o lá, enorme e fiquei estupefacto quando ele ganhou [...]. Pois se eu nem conseguia pronunciar o nome dele". E a mãe de "Sly" foi mesmo ter com ele e disse-lhe que parecia "um carregador de pianos".
Apesar do prémio e de aumentar a sua visibilidade com a participação no célebre documentário sobre culturismo "O Homem dos Músculos de Aço" (1977), Schwarzenegger descreveu as dificuldades destes primeiros tempos: "Os agentes e as pessoas dos 'castings' diziam que o meu corpo era 'demasiado esquisito', que tinha um sotaque engraçado e que o meu nome era demasiado comprido. Quem quer que fosse, e disseram-me que o tinha de mudar. Essencialmente, para onde me virasse, diziam-me que não tinha qualquer hipóteses".
Retirado do culturismo, foi mesmo "à força de músculos" que o estrelato chegou, como o protagonista perfeito de "Conan e os Bárbaros" (1982), que se tornou um grande sucesso de bilheteira, ao contrário da sequela, "Conan o Destruidor" (1984).
O percalço do segundo "Conan" foi ofuscado pela estreia no mesmo ano do filme que viria a ser decisivo, "O Exterminador Implacável" (1984), o primeiro de três encontros no cinema com James Cameron, o realizador que melhor soube tirar partido das suas qualidades: um raro papel de vilão que a transformação na sequela e um punhado de frases que ficaram para a história ("I´ll be back", etc.) tornaram no papel mais emblemático da carreira.
A construção do mito e uma rivalidade para a história
Após "Kalidor: A Lenda do Talismã" (1985), que descreveu como o pior trabalho que fez, e apesar das dificuldades em pronunciar "Schwarzenegger" (ou escrever), estava definitivamente lançada a carreira como estrela internacional do cinema de ação.
Os filmes populares à prova dos críticos e com títulos que, em inglês ou português, não deixavam espaço para ambiguidades, como "Comando", "O Massacre", "O Gladiador" ou "Inferno Vermelho", lançaram uma célebre rivalidade nos anos 1980 e 1990, menos saudável do que é agora, com a outra estrela do género, Stallone, que incluiu ataques na imprensa e tentativas de se ultrapassarem no grande ecrã.
"Eu e o Sly sempre fomos competitivos. Se ele matou 288 pessoas, então eu matei 289. Estávamos sempre a concorrer para ver quem tinha morto mais gente, quem tinha feito o assassínio mais brutal, quem tinha mais músculos, quem tinha mais óleo nos músculos...", recordaria ao lado do rival na Comic-Con de 2012.
Enquanto o rival se destacava como Rambo e Rocky, mas continuava preso no cinema de ação, Schwarzenegger floresceu artisticamente, principalmente a partir de "O Predador" (1987), realizado por John McTiernan, claramente superior a outros do género, e ao impacto da viragem para a comédia com "Gémeos" (1988), às ordens de Ivan Reitman, fazendo uma dupla de sucesso gigantesco com Danny DeVito.
Completando o sonho americano com o casamento em 1986 com Maria Shriver, sobrinha do falecido presidente norte-americano John F. Kennedy, começa o período decisivo até 1994 para estabelecer o ícone mítico do cinema, que resiste até à atualidade, com "Desafio Total", "Um Polícia no Jardim-Escola", "O Exterminador Implacável 2 - O Dia do Julgamento", "A Verdade da Mentira" e o reencontro com Reitman e DeVito em "Junior" (1994), onde interpretou uma personagem que... engravidava. Mesmo o famoso fracasso na altura de "O Último Grande Herói" (1993), tem vindo a conquistar fãs com o passar dos anos.
SUCESSOS E FRACASSOS DA CARREIRA.
"Eraser" (1996), a comédia "O Tesouro de Natal" (1996) e principalmente o regresso a um papel de vilão em "Batman & Robin" (1997) assinalaram uma notória decadência artística e nas bilheteiras, que continuou com "Os Dias do Fim" (1998), "O 6º Dia" (2000) ou "Danos Colaterais" (2002). Outra desilusão foi o regresso à saga que o tornou um super estrela, "Exterminador Implacável 3 - Ascensão das Máquinas" (2003).
"Hasta la vista..."
Com a carreira no cinema a decair, 2003 acabou por ser o ano em que Schwarzenegger concretizou as longas aspirações políticas: conhecido membro do Partido Republicano que só nunca concorreu à presidência por ter nascido na Áustria, apesar de manter dupla nacionalidade desde 1983, mas conservador em temas fiscais e liberal nas questões sociais, apostou e ganhou a candidatura para governador do estado da Califórnia (EUA), sobrevivendo à denúncia de alguns comportamentos indiscretos com mulheres ao admitir que se 'portou mal' e que algumas das acusações eram verdadeiras, pedindo desculpa.
Reeleito em 2006, terminou o percurso político ao atingir o limite de mandatos cinco anos depois, ao mesmo tempo que chegava ao fim o seu casamento de "sonho" após Maria Shriver o confrontar com a existência de um filho ilegítimo de 14 anos, resultado de um "caso" com a empregada doméstica.
No cinema, "Arnie" regressou ironicamente ao lado do rival Stallone, primeiro com uma participação simbólica em "Os Mercenários" (2010), e a seguir integrado na sequela em 2012: longe dos melhores tempos como estrelas de ação, a dupla agarrou-se ao sucesso do encontro e repetiu em "Plano de Fuga" (2013) e "Os Mercenários 3" (2014).
Apesar das tentativas, com exceção de "Maggie" (2015), um filme sobre zombies de baixo orçamento com lançamento limitado, mas muito elogiado e onde surpreendeu como ator, esta fase da carreira tem sido em tom menor, feita de projetos não concretizados e vários fracassos, incluindo o regresso à saga "Exterminador Implacável" com dois filmes, ""Genisys" (2015) e "Destino Sombrio" (2019), que de notável apenas tiveram os salários "à antiga" que exigiu e conseguiu dos estúdios.
Pelo meio, outro equívoco, a passagem pelo programa "The New Celebrity Apprentice" (2016-2017), substituindo Donald Trump, de quem se tornou um frequente críticos da sua presidência.
E o futuro? Mantendo uma importante intervenção cívica e política na sociedade americana, bem como a ligação à cultura física, tudo indica que as próximas aventuras passarão pelas sequelas de outros sucessos antigos, "Gémeos" e "Conan". E "Utap" para a Netflix, a primeira série como protagonista, sobre as aventuras no mundo da espionagem global de pai e filha (Monica Barbaro, de "top Gun: Maverick"), com ares de "A Verdade da Mentira"...
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