Mas não é uma relação qualquer - o pai é interpretado por Christopher Plummer, o filho por Ewan McGregor e o filme parte da história do próprio realizador.
Aos 75 anos, Hal (
Christopher Plummer) assumiu a sua homossexualidade depois de passar parte da vida ao lado de uma mulher que, apesar de tudo, tentou amar à sua maneira. A revelação, feita depois do falecimento da esposa, mostrou-se uma surpresa para muitos e foi sobretudo difícil de digerir pelo filho, Oliver (
Ewan McGregor).
Mas esta é só parte da história de
«Assim é o Amor», o segundo filme de
Mike Mills, autor de
«Chupa no Dedo» (2005), dramedy de travo indie centrada na adolescência. Noutros momentos, o filme segue Oliver, que tenta lidar com a morte e orientação sexual do pai; Cosmo, o seu cão e confidente (e irresistível comic relief); e Anna, que na pele de
Mélanie Laurent traz uma bem-vinda luminosidade a um olhar sobre o luto.
Mélanie Laurent, a atriz de um «jogo» intimista
«Assim é o Amor» chega esta semana às salas, mas o SAPO Cinema já o viu e falou com o realizador norte-americano e a atriz francesa em Londres.
Mesmo que não reproduza a papel químico a relação entre Mike Mills e o seu pai - ou outros aspetos das suas vidas -, o filme não deixa de ter uma mão cheia de sequências de um intimismo desarmante. E foi esse um dos aspetos que levou Mélanie Laurent, que raramente vemos em produções norte-americanas, a participar no filme. "Recebi o argumento e quis muito participar", conta a jovem atriz que se tornou mais familiar junto do grande público com a participação em
«Sacanas sem Lei» (2009), de Quentin Tarantino.
A atriz conta que a postura do realizador foi essencial para chegar a esse resultado, facilitando a interação e a espontaneidade: "O Mike queria que fôssemos super livres, e a maneira como trabalhou contribuiu para isso. Ele preparava todos os aspetos técnicos durante a manhã e depois disso era só atuar. Quando não tens de estar sempre a parar por causa de questões técnicas, estás lá para uma peça. Tudo se torna um jogo, podes dedicar muito tempo a uma cena. O que fizemos já estava no argumento, mas a forma como o fizemos fomos decidindo na altura, sobretudo em relação ao espaço: podíamos andar à vontade pela sala que a câmara vinha sempre atrás de nós".
Mike Mills, «o anfitrião da festa»
Filme de emoções, de relações e de personagens, «Assim é o Amor» obrigou a um olhar atento sobre as especificidades dos atores, dos principais aos secundários. Mike Mills, o maestro desta orquestra minimalista, tentou assegurar que todos os instrumentos se complementassem. "Cada ator funciona de forma diferente, são como as pessoas... Cada pessoa tem uma chave diferente para cada porta. E isso é uma das minhas partes preferidas de ser realizador: encontrar pessoas, tentar entendê-las e ajudá-las. Para mim, o realizador é o anfitrião da festa, incita os atores a arriscar e a serem corajosos, a serem livres. Por isso, eles são muito diferentes. O Christopher vem do palco, do teatro. O Ewan também já fez teatro, tem muita experiência, e também é uma pessoa muito doce. É o homem mais simpático e normal que se pode conhecer. Mas confia muito nos instintos, é assim que funciona. E a Mélanie confia violentamente nos instintos, é toda instinto. O Cosmo... Bem, o Cosmo é o Cosmo. O que vês no ecrã é a sua alma e a personalidade. O Cosmo é uma das figuras mais envolventes que podes conhecer. Está aqui, depois corre para o pé de alguém, dá beijos e abraços, salta para o colo... e isso é o que acontece no ecrã", explica o realizador, entre alguns risos, ao recordar um dos cães mais carismáticos que temos visto no cinema.
Filme indie? Nem por isso, diz o realizador
Se «Chupa no Dedo», o seu filme anterior, foi frequentemente associado à escola indie norte-americana - tanto pelos temas como pela estética ou alguns atores -, Mike Mills acha que esse rótulo pode limitar o que «Assim é o Amor» tem para oferecer: "Na América, quando as pessoas dizem «indie» querem dizer pequeno e estranho. E para mim este é um filme sobre o amor, sobre alguém que sai do armário e que se atreve a ser quem quis ser durante tanto tempo... sobre a morte, sobre a família... é a maior história que se pode ter, ou que eu posso ter. Por isso, não é uma história indie, ou pequena, ou «espertinha», ou estranha, lida com temas muito fortes. Não pensei pequeno quando pensei nela, tentei chegar ao maior número de pessoas possível, não quis excluir ninguém". Mélanie Laurent conclui de forma mais sintética, resumindo o que lhe agrada neste estudo de personagens: "É um filme honesto, e é raro fazer-se um filme realmente honesto".
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