O grupo feminino Doce, retratado no filme "Bem Bom" que se estreia na quinta-feira, contribuiu há 40 anos para mudar mentalidades sobre as mulheres, com "modernidade e ousadia", afirmou à Lusa a realizadora Patrícia Sequeira.
"Bem Bom", produzido pela Santa Rita Filmes, é um filme de ficção que recria o aparecimento e sucesso das Doce - com Fátima Padinha, Helena Coelho, Teresa Miguel e Laura Diogo -, entre 1979 e meados dos anos 1980.
Além do filme, cuja estreia foi várias vezes adiada por causa da pandemia de COVID-19, foi feita ainda uma série de sete episódios, que deverá estrear-se este ano na RTP, e que conta a história das Doce de uma forma mais alargada.
"Bem Bom" é protagonizado pelas atrizes Bárbara Branco, Carolina Carvalho, Lia Carvalho e Ana Marta Ferreira, mas no filme entram ainda Eduardo Breda, que faz de Tozé Brito, um dos criadores das Doce, e Nuno Nolasco, no papel do ‘designer’ de moda José Carlos, responsável pelo visual do grupo.
“Comecei numa ideia muito ingénua de alegria e felicidade, quase um desejo de fazer um musical e depois confronto-me com uma história de mulheres, o preconceito, a condição feminina, a frágil condição do artista”, explicou a realizadora Patrícia Sequeira.
O filme tem argumento de Filipa Martins e Cucha Carvalheiro e contou com consultoria histórica de Helena Matos. No trabalho de pesquisa e desenvolvimento, também houve conversas com as cantoras e com os que estiveram na génese do grupo, referiu a realizadora.
Na abordagem à história do grupo, Patrícia Sequeira disse que nunca quis endeusar as Doce.
"O que eu encontrei foi muita modernidade e ousadia. Talvez há 40 anos, ninguém estava verdadeiramente preparado, no Portugal ainda a preto e branco, para aquela explosão de cor. Cai por terra essa ideia de que eram parolas", considerou.
As Doce nasceram em 1979 como "um produto fabricado para fazer sucesso" e "extremamente machista na sua criação, porque há uma loira, uma morena, uma ruiva, mas feito por homens extraordinários, à frente do seu tempo".
As Doce, que ficaram conhecidas por canções como "Amanhã de manhã", "Ali babá", "OK KO" e "Bem Bom", foram quatro vezes concorrentes ao Festival da Canção.
"Ninguém estava propriamente preparado para a ousadia de se falar, nas letras, do prazer no feminino; acho que o que as Doce trazem é esse abanão de serem tão populares e de repente terem tanta gente a permitir-se a por um bâton vermelho", afirmou Patrícia Sequeira.
"Bem Bom" é o mais recente projeto da realizadora, depois de ter feito "Snu" (2019) e "Jogo de Damas" (2015), dois filmes marcadamente femininos, além de ter assinado a realização de séries televisivas e telenovelas como "Mar Salgado", "Terapia" e "Amor Maior".
"Eu conto histórias no feminino e rodeio-me muito de equipas de mulheres, eu tento compensar essa lacuna [de haver menos cinema em Portugal feito por mulheres], mas de facto não sou apoiada, não tenho subsídios ICA”, disse.
Patrícia Sequeira, 47 anos, diz que "enquanto mulher e realizadora" não faz distinção de qualidade em relação a um homem, mas lamenta "viver num país que não valoriza o cinema no feminino, não nomeia filmes que são considerados, têm bilheteira, não valoriza a mulher realizadora".
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