O programa do Festival de Cinema de Cannes na quarta-feira é um dia forte para a representação feminina, incluindo o novo "Mad Max", uma 'masterclass' com Meryl Streep e a principal figura do movimento francês #MeToo.

“Furiosa”, o mais recente capítulo da saga pós-apocalíptica “Mad Max”, apresenta Anya Taylor-Joy no sangrento papel principal, ao lado da estrela da Marvel Chris Hemsworth., numa versão mais jovem da personagem interpretada por Charlize Theron no filme anterior, “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015).

Eles são esperados na passadeira vermelha para a estreia mundial, numa apresentação fora de competição no festival na Côte d'Azur, que vai até 25 de maio.

Entretanto, duas histórias muito diferentes sobre mulheres dão início à corrida pelo prémio principal do festival, a Palma de Ouro.

"Pigen med nålen" ("The Girl with the Needle", do realizador sueco Magnus von Horn, é apresentado como a história de uma mulher dinamarquesa que criou uma agência de adoção clandestina após a Primeira Guerra Mundial.

Já “Diamant brut” segue uma adolescente francesa que procura fama e reconhecimento ao candidatar-se a um 'reality show', da realizadora estreante Agathe Riedinger.

Uma 'masterclass' com Streep

Meryl Streep

Uma das mulheres mais icónicas do cinema, Meryl Streep, também dará uma 'masterclass', um dia depois de receber a Palma de Ouro honorária na cerimónia de abertura.

“Estou muito grata por vocês não terem enjoado da minha cara”, brincou a atriz de 74 anos ao receber a distinção da atriz francesa Juliette Binoche.

Palma de Ouro honorária do festival, Meryl Streep emocionada teve Cannes aos seus pés
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E há a exibição de uma curta-metragem sobre abuso sexual, "Moi Aussi" ("Me Too"), da atriz francesa Judith Godrèche.

Ela tornou-se uma figura de destaque no movimento #MeToo na França depois de acusar dois cineastas de violação quando era adolescente na década de 1980 - chegando a comparecer perante o Senado este ano para pedir maiores proteções nos sets de rodagem.

Isto acontece no momento de uma onda de novas acusações na França, principalmente contra o ator veterano Gérard Depardieu, e rumores persistentes de que mais grandes nomes enfrentarão acusações.

Godreche disse à France-Presse que tem uma visão diferenciada do movimento #MeToo.

“Há uma consciência crescente, mas às vezes as coisas são anunciadas de uma forma que parece demasiado encenada. Não é muito espetacular ser abusado, não é muito engraçado, não é muito teatral”, explicou.

Gerwig esperançosa

Lily Gladstone, Greta Gerwig e Ebru Ceylan

A escolha da Palma de Ouro deste ano cabe a um júri liderado por Greta Gerwig, que se tornou a primeira mulher realizadora a fazer sozinha um filme que arrecadou mais de mil milhões de dólares nas bilheteiras, o que aconteceu no ano passado com "Barbie".

“Todos os anos festejo quando há cada vez mais mulheres representadas”, disse Gerwig aos jornalistas numa conferência de imprensa na terça-feira.

“Há 15 anos, não poderia imaginar o número de mulheres representadas não apenas em festivais internacionais, mas também nas discussões de distribuição e de direção [dos estúdios], e portanto tenho esperança que isso continue”, destacou.

Ainda na 77.ª edição do festival está o aguardado regresso na quinta-feira do cineasta de "O Padrinho", Francis Ford Coppola, com o seu épico "Megalopolis", que foi pensado há décadas.

Na disputa pela Palma de Ouro está “Grand Tour”, do português Miguel Gomes, que vai competir com um 'biopic' sobre Donald Trump ("The Apprentice") e novos filmes dos favoritos da cinema 'indie', como o canadiano David Cronenberg (The Shrouds"), o italiano Paolo Sorrentino ("Parthenope"), bem como "Emilia Perez", um improvável musical sobre um chefe de cartel mexicano que muda de sexo, do vencedor da Palma de Ouro Jacques Audiard.