O Monstra - Festival de Animação de Lisboa decorre entre 15 a 26 de março, tendo como espaços principais os cinemas São Jorge, Alvalade e El Corte Inglés e a Cinemateca Portuguesa - mas com sessões também no Museu Oriente, no Centro Cultural de Carnide e no Museu de Etnologia.
As sessões de cinema começam só na quinta-feira, mas hoje é inaugurada uma exposição na Cinemateca Portuguesa sobre os 100 anos da animação, através de 100 filmes representativos das histórias e “estórias” desta arte.
No ano em que Portugal chegou aos Óscares pela primeira vez, justamente com uma animação (“Ice Merchants”, que já estava programada para a Competição de Curtas do festival), o evento traz um forte conjunto de obras lusitanas - ao qual acresce um ambicioso panorama dedicado a um dos maiores produtores de cinema de animação do mundo, o Japão.
Conforme lembra ao SAPO Mag o diretor do Monstra, Fernando Galrito, apesar da compreensível notoriedade alcançada pela animação com a nomeação, não é de agora que o género vem evoluindo em Portugal, tendo já conquistado prémios em vários festivais importantes, como Annecy.
Este ano, aliás, indica o centenário da primeira animação portuguesa que sobreviveu ao tempo, “O Pesadelo de António Maria”, de Joaquim Guerreiro.
“Nem sempre a visibilidade é a mesma dos filmes com atores reais. É mais difícil de vender ‘carinhas larocas’”, brinca o diretor.
A sessão de abertura, no cinema São Jorge, incluirá “Páscoa”, de André Ruivo, e um 'teaser' de apresentação do projeto “Saudade, talvez…”, de José Manuel Barata. Destaque também para a longa lusitana “Os Demónios do meu Avô”, de Nuno Beato.
O poderio da produção japonesa
O poderio da produção japonesa dispensa apresentações e, dentro de uma programação ambiciosa, serão exibidos 97 filmes - entre os quais 16 longas-metragens. Aqui não faltarão os clássicos, como o legado dos estúdios Ghibli e alguns trabalhos do seu grande mestre, Hayao Miyazaki, assim como o incontornável “Akira”.
Quanto a este último, aliás, Galrito convoca mesmo os fãs a não perder a hipótese de ver o filme num grande ecrã - “uma experiência completamente diferente”, assegura.
Dentro das 11 secções nas quais se divide a mostra japonesa, o diretor do Monstra destaca obras como “Winter Days”, onde 20 realizadores de todo o mundo foram convidados a produzir “haikus” (os célebres poemas típicos do país) animados.
Mestres como Koji Yamamura e Osamu Tesuka têm retrospetivas, assim como talentos da nova geração - entre os quais Atsushi Wada.
No universo das longas são imperdíveis os filmes da secção 'grandes estúdios' - estão lá “Paprika”, “O Rapaz e o Monstro”, “Demon Slayer” e “Sky Crawlers”.
Entre outros destaques para além das Competições de Longas e Curtas, estão mostras como a dedicada ao germânico Raimund Krume e a Anima CPLP, que reúne obras dos nove países incluídas na Comunidade. Uma série de masterclasses darão voz a vários convidados ao longo de todo o festival.
Apoio regular
“Ice Merchants” teve coprodução do ICA - algo importante, para além dos fundos, para se conseguir parcerias internacionais.
Para Galrito, o próximo passo agora seria haver um apoio regular, pois a cada trabalho forma-se um grupo de profissionais especializados que, na falta de novos projetos, acaba por emigrar - ocasionando que, a cada um novo, tenha que se formar outra vez a equipa.
Velho debate no cinema português, há sempre a reivindicação de que as grandes empresas, as quais muitas vezes nem sequer pagam impostos no país, fossem obrigadas a contribuir com a cultura.
“Há muitas empresas com lucros milionários que oferecem muito pouco à sociedade onde vão buscar os seus lucros”, observa.
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