
Godzilla, o monstro japonês que transcendeu fronteiras durante décadas, teve centenas de facetas, mas se algo não mudou ao longo do tempo foi a devoção dos seus fãs, muitos dos quais juntaram-se em Comic-Con de San Diego para continuar a festejar o seu 70.º aniversário.
A Toho Studios, criadora da saga, segue um calendário de comemorações com a presença do monstro japonês em festivais e eventos, incluindo a aclamada Comic-Con.
Godzilla nasceu a 3 de novembro de 1954, com o lançamento do seu primeiro filme, dirigido por Ishiro Honda.
"Sou uma verdadeira fã de Godzilla", disse a professora Angela Hill, que viajou do Arizona para esta cidade no litoral da Califórnia para participar no famoso festival de cultura pop, que este ano dedicou diversos espaços para homenagear o chamado "Rei dos Monstros".
"Acho que [sua permanência] se deve ao facto de ter vindo de um evento histórico tão traumático. Muitos outros monstros são apenas criaturas interessantes, mas não contêm a dor de uma nação", comentou Hill.

O filme apresenta o monstro, uma espécie de dinossauro que passou por mutações por causa de testes nucleares que emerge do mar e causa estragos em Tóquio, aterrorizando também os cientistas que tentam detê-lo.
No cerne da história de Godzilla está um alerta velado sobre os perigos da guerra e das armas nucleares.
No Centro de Convenções de San Diego, dezenas de pessoas fizeram fila para tirar fotografias e vídeos com Godzilla, também tema de um painel na sexta-feira com Shinji Higuchi, correalizador de "Godzilla Resurgence" (2016).
A saga "Godzilla", que surgiu diretamente do cinema, gerou centenas de produções animadas e cinematográficas, além de séries de televisão e extensas coleções de banda desenhada.
"Acaba-se por torcer por ele"

No sábado, os escritores Ed Godziszewski e Steve Ryfle deram autógrafos para o seu livro "Godzilla: Os Primeiros 70 Anos" (tradução literal), que esgotou na Comic-Con.
"É uma história muito rica", disse Ryfle em entrevista à agência France-Presse.
"Esta é a saga cinematográfica mais longa da história do cinema focada numa única personagem contínua. É mais antiga do que James Bond!", comentou.
O escritor observou que a chave para essa longevidade é que Godzilla evoluiu ao longo do tempo, permanecendo fiel às suas origens.
"Godzilla tem sido sério, assustador, heroico e engraçado, mas, ao mesmo tempo, é uma personagem cinematográfica enraizada em algo muito real, que é o trauma que o Japão experimentou tanto durante a Segunda Guerra Mundial quanto depois [com as bombas atómicas] em Hiroshima e Nagasaki", acrescentou.

Ryfle observou que Honda, o realizador do primeiro filme "Godzilla", era um veterano de guerra que usou o filme como uma mensagem antiguerra, especialmente contra a energia nuclear.
Uma mensagem que, segundo o autor, é o legado do reverenciado monstro.
O seu coautor, Ed Godziszewski, concorda.
"Godzilla ainda é muito relevante hoje como uma mensagem antinuclear. Ele é o produto de uma bomba atómica e, no mundo incerto de hoje, acho que é uma mensagem ainda mais relevante para o público contemporâneo, porque é algo com o qual eles podem realmente identificar-se e, com sorte, levar a sério", disse Godziszewski.
Michelle Peña, uma fã que esperou na fila para conseguir os autógrafos dos autores, disse que parte da magia de Godzilla é a maleabilidade da personagem. "Ele é bom, mau, um herói, um anti-herói. Gosto disso."
"Não é suposto que seja adorável", disse Peña. "É uma espécie de dinossauro gigante, é assustador. Mas, na verdade, acaba-se por torcer por ele."
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