Foi o fim da linha para os jornalistas da mítica revista mensal "Cahiers du cinéma": a equipa editorial daquela que foi a grande difusora da "Nouvelle vague" francesa decidiu esta quinta-feira (27) deixar definitivamente a publicação, por não concordar com as orientações e o perfil dos seus novos acionistas.
Os 15 redatores assalariados da revista anunciaram em comunicado que optaram pela cláusula de cessão, um dispositivo de demissão que os jornalistas podem ativar em caso de mudança de propriedade.
Uma decisão motivada, no início de fevereiro, pela venda da famosa revista da Sétima Arte, popular entre muitos espectadores de todo o mundo, que desempenhou um papel fundamental no nascimento do "Nouvelle vague" na década de 1950.
Richard Schlagman, ex-proprietário do Ediciones Phaïdon, que comprou o jornal "Le Monde" em 2009, vendeu a revista a um grupo de cerca de 20 personalidades, entre as quais proprietários de provedores de televisão a cabo, redes de notícias e sites de namoro na Internet, além de produtores de filmes (Marc du Pontavice, Toufik Ayadi, Christophe Barral, Pascal Caucheteux).
"Os novos acionistas, incluindo oito produtores, levantam um conflito de interesses imediato numa revista de crítica. Quaisquer que sejam os artigos publicados nos filmes desses produtores, eles serão suspeitos de complacência", destaca o comunicado conjunto de demissão.
Os jornalistas da revista mensal já tinham expressado publicamente os seus receios e consideram que os novos proprietários não os ouviram.
Autêntica Bíblia dos cinéfilos, fundada em 1951 por André Bazin, o "Cahiers du Cinéma" contribuiu decisivamente para o nascimento da "Nouvelle Vague", com colaboradores que imediatamente passaram a dirigir filmes de grande sucesso, como Jean-Luc Godard, François Truffaut ou Claude Chabrol.
As vendas da revista caíram nos últimos anos, de 15.000 exemplares em média em 2015 para 12.000 no ano passado.
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