O realizador grego Yorgos Lanthimos voltou a dissecar os males da sociedade contemporânea, como a solidão, o egoísmo e a manipulação, com "Histórias de Bondade", que estreou esta sexta-feira no Festival de Cannes, onde disputa a Palma de Ouro.

A estreia nos cinemas portugueses já está anunciada para 4 de julho.

AS ESTRELAS NA PASSADEIRA VERMELHA.

Lanthimos, de 50 anos, lançou há menos de um ano "Pobres Criaturas" com Emma Stone, Willem Dafoe e, num papel menor, Margaret Qualley.

O filme foi um dos sucessos de 2023 e ganhou quatro estatuetas dos Óscares em março, uma delas para Stone como Melhor Atriz.

Em "Histórias de Bondade", o trio de atores repete a parceria, ao lado de Jesse Plemons, Hong Chau, Joe Alwyin e Mamoudou Athie.

Trata-se de um filme sombrio, de 2 horas e 44 minutos, uma antologia dividida em três capítulos sem relação entre si.

O primeiro conta a história de um homem que se nega a cometer um crime exigido pelo seu chefe. No segundo, um polícia reencontra a esposa que desaparecera, mas suspeita que ela é outra pessoa. E o último aborda a obsessão de um casal em encontrar uma mulher com o poder de ressuscitar os mortos.

"Tenho sempre a sensação a sensação de que forçamos as coisas ao extremo. Mas, muitas vezes, essas coisas acabam realmente por acontecer. Às vezes, a realidade é até mais louca do que o que nós tentamos criar", explicou Lanthimos em entrevista à France-Presse.

Dotado de um humor ácido, "Histórias de Bondade" foi filmado enquanto a equipa ainda nem finalizara completamente "Pobres Criaturas", contou o cineasta.

O diálogo com Stone para desenvolver o material é estreito, disse Lanthimos.

"Creio que estamos a aprofundar cada vez mais a nossa relação [...], confiamos muito. E isso permite-nos ser mais arriscados e ousados", comentou.

Antestreia mundial em Cannes: Hong Chau, Willem Dafoe, Emma Stone, Yorgos Lanthimos e Jesse Plemons

Usar os mesmos intérpretes nos três episódios que compõem o filme, encarnando personagens absolutamente diferentes, acrescenta nuances, apontou: "Enriquece o capítulo seguinte e cria também uma espécie de consistência e continuidade".

Mas a intenção da longa-metragem parece ser, antes de mais, criar incómodo no espectador, que acompanha personagens desamparadas, que enfrentam escolhas angustiantes e situações absurdas.

Lanthimos já ganhou em Cannes o Prémio na mostra Un Certain Regard por "Canino" (2009) e o Prémio do Júri por "A Lagosta" (2015), a que se juntam no Festival de Veneza os prémios pelo Argumento de "Alpeis" (2011) e o Leão de Ouro por "A Favorita" (2018).