O documentário passou em Portugal no final de 2010, no âmbito do Estoril Film Festival, onde o realizador romeno esteve presente. Para
«Autobiografia de Nicolae Ceauseascu», Andrei Ujica não precisou sequer de ligar a câmara. Foi aos arquivos nacionais pesquisar centenas de horas de imagens para documentar o percurso político do ditador romeno
Nicolae Ceauseascu, em busca de uma verdade sobre o seu país.

«Queria saber mais sobre ele [Ceausescu] e esperava que quando o conhecesse como ser humano e não como um cliché histórico teria a chance de me libertar da sua influência. E foi isso que aconteceu», disse na altura o realizador à agência Lusa.

Para este filme, que encerra uma trilogia sobre o fim de uma era no comunismo, sobre manipulação e o poder das imagens, Ujica tentou ser objetivo apenas do ponto de vista estético.

«Na História tem que se ser explícito, mas é impossível. Uma boa obra de arte pode alcançar a objetividade implícita e temos mais hipóteses de chegar à verdade», defendeu.

Andrei Ujica reforça a teoria de que a arte é o meio para chegar à verdade: «Aprendemos mais sobre Napoleão com «Guerra e Paz», de Tolstoi, do que num qualquer livro de História».

«Autobiografia de Nicolae Ceausescu» é um objeto de cinema difícil de catalogar, admitiu, e a melhor descrição foi feita por um crítico de cinema romeno seu amigo: «É um filme de ficção com pessoas verdadeiras».

No ano passado o filme foi exibido no festival de cinema de Cannes, em França, e uns meses depois em Bucareste, numa estreia nacional esgotada numa sala que Ceausescu utilizou para fazer muitos dos seus discursos públicos.

Andre Ujica não esqueceu a reação do público a esta estreia: «Na Roménia, o interesse pelo cinema e pelos realizadores não é muito. Estava apreensivo que estivesse pouca gente, mas o momento foi inesquecível», recordou.

«Autobiografia de Nicolae Ceauseascu» faz parte de uma trilogia de Andrei Ujica sobre o regime comunista na Roménia, que se junta a
«Videograms of a Revolution» (1992), co-realizado com Harun Farocki, e
«Out of the Present» (1995).

Nicolae Ceausescu tomou posse em 1965 e foi executado a 25 de dezembro de 1989.

@Lusa