Edgar Morais anunciou a sua saída da Academia Portuguesa de Cinema, lançando duras críticas à instituição e ao processo de nomeações dos Prémios Sophia. A decisão surge na sequência da divulgação dos nomeados para a edição de 2025, na sexta-feira passada, onde apenas o seu irmão gémeo, Rafael Morais, foi reconhecido pelo desempenho no filme "Um Café e Um Par de Sapatos Novos", do albanês Gentian Koçi, apesar de ambos serem protagonistas e de partilharem o mesmo tempo de ecrã.

Em carta aberta, o ator considera esta decisão uma demonstração clara da falta de transparência e legitimidade da Academia, alegando que os prémios não são atribuídos com base no mérito. "Como pode uma instituição afirmar representar o cinema português quando nem sequer se dá ao trabalho de conhecer os filmes que nomeia?", questiona, acrescentando que a organização revela uma "grave cumplicidade" com práticas que considera tendenciosas e passíveis de manipulação.

"A Academia não só revelou e admitiu sem reserva alguma que os seus prémios e nomeações são ilegítimos e não se baseiam em mérito, como também não se preocupa com essa questão, mostrando assim a todos os seus membros, publicamente e em voz alta, não só que a própria associação não está certamente de forma alguma familiarizada com os filmes que nomeia, mas que, assumindo que os votos são de facto contados, a maioria dos seus membros também não está familiarizada ou nem sequer assiste aos filmes nos quais votam e que são por isso, naturalmente, tendenciosos nas suas escolhas, fazendo com que os seus prémios deixem automaticamente de ter qualquer valor para todos os nomeados e vencedores, passados e presentes", pode ler-se no comunicado.

Um Café e Um Par de Sapatos Novos
Um Café e Um Par de Sapatos Novos créditos: promo

Além da polémica em torno das nomeações, o ator denuncia a existência de favoritismo e conflitos de interesse dentro da Academia, apontando que muitas das produções nomeadas pertencem a membros que têm relações diretas com os organizadores dos prémios. Para si, estas ligações criam um ambiente de "corrupção institucionalizada", onde certas produções e profissionais são favorecidos em detrimento de outros.

"As bem conhecidas dinâmicas entre os organizadores e órgãos sociais da Academia, sejam eles os órgãos oficiais ou os não oficiais que operam nas suas sombras, e que mesmo assim exercem poder sobre a associação e os seus membros, e que são frequentemente contratados por e/ou empregam pessoalmente muitos dos membros da própria associação e as produtoras que a associação reconhece regularmente com nomeações e prémios, criam um conflito de interesses vergonhoso e sujeito a abuso, que facilita e promove o favoritismo e a corrupção por parte dos seus representantes e que influencia direta e indiretamente, quais os profissionais e projetos que são reconhecidos pela Academia", declara.

Na carta aberta, Edgar Morais apresenta ainda várias sugestões para reorganizar e restaurar a confiança na instituição. Entre as medidas propostas estão a "reestruturação dos organizadores e órgãos sociais da Academia" de forma a incluir uma representação mais diversa, a revisão da plataforma de votação para os Prémios Sophia de modo a promover a transparência nas votações e garantir que apenas quem vê os filmes pode votar, a contratação de uma entidade independente para validar os votos e a criação de um canal anónimo para denunciar casos de corrupção e favoritismo.

O ator sublinha ainda a importância da transparência na gestão da Academia, recordando que a instituição é financiada por fundos públicos, incluindo apoios do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA). "Se a Academia recebe dinheiro dos contribuintes, tem a obrigação de garantir que os seus processos são justos e imparciais", conclui.