A caminho dos
Óscares 2025
Um dia antes do anúncio dos nomeados os Óscares, o cineasta francês Jacques Audiard fala sobre as dificuldades que o seu filme “Emília Pérez”, um musical surrealista sobre a história de Manitas, um traficante de drogas mexicano que faz a transição para mulher e se torna Emília, pode enfrentar na competição.
“É possível” que o regresso do multimilionário republicano Donald Trump ao poder nos EUA e os incêndios devastadores em Los Angeles voltem o olhar do júri para o cinema mais local, diz Audiard em conversa com a agência France-Presse (AFP) na Cinemateca de Bogotá (Colômbia).
“Com o que aconteceu em Los Angeles, a grande dificuldade que eles devem estar a passar no momento, eles terão que, como posso dizer, jogar localmente. Terão que se reafirmar para recuperar a sua confiança e provavelmente será através do cinema”, diz o cineasta.
Com o governo Trump, "2025 não será um ano muito divertido", acrescenta.
Protagonizado pela atriz transgénero espanhola Karla Sofía Gascón, “Emília Pérez” é um dos favoritos para ganhar o Óscar de Melhor Filme e disputar as categorias de representação e realização.
O anúncio das nomeações será feito online na quinta-feira, 23 de janeiro, depois de ter sido adiado duas vezes devido aos graves incêndios que deixaram 27 pessoas mortas em Los Angeles desde o início do mês.
"Filme bastardo"
Vencedor do Prémio do Júri em Cannes e de quatro Globos de Ouro, “Emília Pérez” é aclamado em festivais, mas é um fracasso no México, país que o inspirou.
Audiard é alvo de uma avalanche de críticas neste país, acusado de falta de rigor ao tratar de um assunto delicado como os desaparecidos e a violência. Ele também é acusado de ter preferido filmar em estúdios franceses, além de queixas por ter escolhido apenas uma atriz mexicana para o elenco.
“É um filme rodado em Paris e falado em castelhano. É um filme bastardo. Sou um bastardo!" diz o realizador, que nos garante ter feito anteriormente uma pesquisa "sociológica" e "criminal" que durou mais de quatro anos, com dezenas de entrevistas.
No entanto, a certa altura é preciso suspender a documentação “porque senão acaba por se fazer um documentário”, acrescenta.
Antes de “Emília Pérez”, o seu plano “em 2016 era fazer uma comédia musical sobre narcotraficantes na Colômbia”, a maior produtora de cocaína do mundo.
Audiard esquiva-se das críticas explicando que as suas obras “excedem o verosímil”; neste caso, o ponto de partida foi uma ópera e ele está empenhado em contar histórias mais universais.
“Além de Adriana [Paz], não há atrizes mexicanas, mas quando se anda pelas ruas de Bogotá, na Cidade do México, o que é, entre aspas, o 'tipo mexicano'? (...) Selena [Gómez] e Zoe [Saldaña] trouxeram uma dimensão comercial, não se pode negar, e ao mesmo tempo, acho que isso estava a empurrar o acelerador da diversidade”, explica.
"Detesto" a narcocultura
O cineasta nega ter qualquer “fascínio” pelas representações de narcotraficantes, muito presentes em telenovelas, séries e filmes sobre a Colômbia, onde Pablo Escobar e outros chefes do tráfico já foram protagonistas.
“Detesto-os (...) Não suporto ataques à democracia, a narcocultura é um ataque à democracia, para mim eles são fascistas”, afirma.
VEJA O TRAILER.
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