Segundo o coordenador-geral dos Encontros Cinematográficos, Mário Fernandes, o principal intuito para a criação do evento, que vai para a 13.ª edição, foi “dar a ver um cinema diferente e de forma também diferenciada”.
“O que nos interessava era ter uns Encontros na verdadeira aceção da palavra, não num formato competitivo, mas mais numa lógica de partilha, de convívio e, depois, outra coisa muito importante, que é procurar resgatar do esquecimento obras e autores importantes, dar também oportunidade a realizadores emergentes e ver filmes que estão fora do circuito comercial e, muitas vezes, até dos próprios festivais”, explicou, em declarações à agência Lusa, o programador, Mário Fernandes.
De acordo com o também cineasta, o propósito é fazer “uma coisa mais informal, mais genuína, de proximidade aos autores”.
Mário Fernandes destacou a importância de “ninguém estar a comparar se uma obra é melhor do que a outra”, com vista à atribuição de um prémio, mas sim “a partilha de experiências, métodos de trabalho, convicções, ideias”.
Existe também, realçou, a preocupação “em produzir conhecimento”, através da organização de um catálogo com uma entrevista a todos os realizadores e textos inéditos sobre cada um dos filmes.
Para assinalar os cem anos do cinema de animação em Portugal, a organização convidou os realizadores Abi Feijó, Regina Pessoa, Nelson Fernandes, Bruno Caetano e João Gonzalez e vão ser projetadas as películas “Os Salteadores”, “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias”, “Ice Merchants”, “Motus” e “Making of Motus”.
“Quisemos confrontar um pouco esses vários universos de maneiras diferentes de fazer cinema de animação, mas todas elas muito poéticas e muito próprias”, realçou Mário Fernandes.
A edição deste ano, que se realiza na Moagem – Cidade do Engenho e das Artes, mas com sessões em outros locais do Fundão, no distrito de Castelo Branco, é palco da estreia da primeira longa-metragem filmada na serra da Gardunha, “Senhora da Gardunha”, da autoria de João Dias e com sessão agendada para dia 12, às 15h00.
“É uma ficção muito inspirada nas lendas da Gardunha e no culto mariano. Existe muita mitologia associada à Gardunha. É um filme que parte da lenda da Senhora da Penha, transformada numa espécie de alegoria política”, adianta o programador dos Encontros Cinematográficos.
No mesmo dia, é exibido “Benilde ou a Virgem Mãe”, de Manoel de Oliveira, para fazer sempre “uma ponte entre o passado e o presente do cinema, um diálogo entre um filme contemporâneo e um filme mais remoto da história do cinema, convocando novas leituras”, acentuou, à Lusa, Mário Fernandes.
Dentro desse segmento, são também projetados, dia 14, “Uma Aldeia Japonesa, Furuyashikimura”, de Ogawa Shinsuke, e “Terra que Marca”, de Raul Domingues.
O destaque para realizadores emergentes vai para Mariana Neves, com a projeção do bloco de curtas-metragens “À Beira, a Nova Terra”, no dia 14 de agosto.
Da programação constam ainda a exibição de filmes como “Hiroshima, Meu Amor”, de Alain Resnais, ou de “Beco do Paraíso”, de Sylvester Stallone, além da apresentação de livros, música, debates e uma caminhada pela serra da Gardunha.
Mário Fernandes salientou tratar-se de uma iniciativa levada a cabo por “voluntários, que o fazem por paixão e dedicação”, numa zona do país onde a oferta destes eventos não é abundante e de onde germinou, ao longo dos anos, “muita coisa importante”.
“Há pessoas que começaram a vir e são hoje realizadoras”, vincou o diretor-geral.
Os Encontros Cinematográficos do Fundão são organizados pela Associação ARD-ID, dedicada à investigação artística, com a colaboração do Cineclube Gardunha, o apoio logístico da Câmara do Fundão e com uma extensão, em setembro, na Cinemateca.
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