Foi anunciada a programação da 77.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, que decorrerá entre 14 e 25 de maio, com a presença do filme português “Grand Tour”, de Miguel Gomes, na competição pela Palma de Ouro.
Não havia um filme de um realizador português na principal secção competitiva do festival de cinema mais importante do mundo desde "Juventude em Marcha", de Pedro Costa... em 2006!
Também é a primeira vez que Miguel Gomes integra a competição pela Palma, mas o cinema do realizador tem tido presença regular em Cannes, nomeadamente na Quinzena de Realizadores, onde apresentou “Aquele querido mês de agosto” (2008), “As mil e uma noites” (2015) e “Diários de Otsoga” (2021), correalizado com Maureen Fazendeiro.
Rodado em Lisboa e Roma (Itália), com várias paragens da Ásia, o filme protagonizado por Crista Alfaiate e Gonçalo Waddington acompanha "os noivos Edward e Molly, em 1918, da Birmânia à China, numa viagem emocional e física, ligando o Oriente e o Ocidente, género e sexo, tempo e espaço, realidade e ficção, mundo e cinema", lê-se na sinopse a partir do argumento assinado por Gomes, Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro.
Na apresentação da programação, o diretor-geral do festival, Thierry Frémaux, sublinhou "o grande virtuosismo visual" do filme, que tem coprodução da portuguesa Uma Pedra no Sapato com Itália, França, Alemanha, China e Japão.
Atualmente, Miguel Gomes está a trabalhar nos projetos "Selvajaria", a partir do livro "Os Sertões", do escritor brasileiro Euclides da Cunha, e “Cantiga”, baseado no livro ilustrado “Romance” (2013), do autor francês Blexbolex.
O júri que vai decidir a Palma será presidido pelo cineasta norte-americana Greta Gerwig ("Lady Bird", "Barbie").
Normalmente, cerca de 20 filmes competem pela cobiçada Palma, o que pode dar um grande impulso para filmes artísticos, como foi o aso do vencedor do ano passado, "Anatomia de uma Queda", de Justine Triet, que chegou ao Óscar de Melhor Argumento Original.
Falando em 21-22 para refletir 'nos próximos dias', Frémaux anunciou 19, com a habitual seleção de veteranos e relativos "estreantes" a juntar, entre outros, “Megalopolis”, um ambicioso projeto independente de Francis Ford Coppola com mais de 40 anos, "The Shrouds", de David Cronenberg e com Diane Kruger, Vincent Cassel e Guy Pearce, "Motel Destino", do realizador brasileiro Karim Ainouz, "Emilia Perez", de Jacques Audiard e com Zoe Saldana, Selena Gomez e Edgar Ramírez, “Marcello Mio”, de Christophe Honoré e com Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni, “Parthenope”, de Paolo Sorrentino e com Gary Oldman, ou "Kinds of Kindness", do grego Yorgos Lanthimos, novamente com Emma Stone.
A presença de "Megalopolis", de Coppola, um dos filmes mais aguardados do ano, é sem dúvida um bom presságio para a competição de Cannes.
"Estamos muito satisfeitos que ele nos dê a honra de vir apresentar este filme", disse Frémaux sobre o aclamado cineasta de 85 anos.
Este ambicioso filme de ficção científica, com um orçamento superior a 100 milhões de dólares, financiado pelo próprio Coppola, narra a reconstrução de uma cidade com ares de Nova Iorque, com Adam Driver e Forest Whitaker entre os protagonistas.
Há 50 anos, o cineasta venceu a sua primeira Palma de Ouro, com "O Vigilante". Cinco anos depois, recebeu a segunda por "Apocalypse Now", num empate com o filme alemão "O Tambor".
Menos três do que no ano passado, quando foi um recorde, as realizadoras selecionadas são Andrea Arnold ("Bird", com Barry Keoghan), Coralie Fargeat (“The Substance”, com Margaret Qualley e Demi Moore), Payal Kapadia (“All We Imagine as Light”) e Agathe Riedinger (“Diamant Brut”).
"Metade de uma década é necessária para avaliar uma tendência, mas há quatro realizadoras, não esqueçamos. A tendência é que tenhamos cada vez mais realizadoras no mundo", disse Frémaux, acrescentando que um estudo será publicado nos próximos dias que mostrará que há muito mais realizadoras na seleção oficial, em percentagem, do que no resto do mundo.
Após as greves de Hollywood do ano passado, os únicos realizadores americanos são Coppola, Sean Baker (“Anora”) e Paul Schrader (“Oh Canada”, com Jacob Elordi, Uma Thurman e Richard Gere).
Mas são dez filmes em inglês e um deles é o intrigante “The Apprentice”, do realizador iraniano Ali Abbasi ("Holy Spider"), com Sebastian Stan (Universo Cinematográfico Marvel) como um jovem Donald Trump e Jeremy Strong ("Succession") como o seu mentor Roy Cohn.
Dois mil filmes foram submetidos à seleção oficial e a programação de várias secções foi revelada esta quinta-feira à imprensa internacional na sala de cinema UGC Normandie em Paris por Frémaux com a presidente Iris Knobloch, destacando que não se tratou de uma seleção fácil de fazer.
Anteriormente já fora anunciado que "Le Deuxième Acte", de Quentin Dupieux, seria o filme de abertura do festival e teriam antestreia mundial "Furiosa: Uma Saga Mad Max", o último capítulo pós-apocalíptico de George Miller, e "Horizon, An American Saga", o primeiro de uma nova saga sobre o Oeste americano dirigida por Kevin Costner, que também surge no ecrã ao Sienna Miller e um vasto elenco.
Já George Lucas – o homem por detrás de “Star Wars” e “Indiana Jones” – receberá uma Palma de Ouro honorária pela carreira na cerimónia de encerramento a 25 de maio.
O festival, que normalmente reflete a situação geopolítica do momento, vai exibir "La belle de Gaza" sobre pessoas palestinianas em transição de género, numa alusão ao conflito na Faixa de Gaza entre Israel e o movimento islamista Hamas.
Nos próximos dias serão anunciadas as programações das mostras paralelas, dedicadas aos novos talentos, "Un Certain Regard" e a Semana da Crítica.
Competição pela Palma de Ouro
“Megalopolis”, de Francis Ford Coppola
“The Apprentice”, de Ali Abbasi
“Motel Destino”, de Karim Ainouz
“Bird”, de Andrea Arnold
“Emilia Perez”, de Jacques Audiard
“Anora”, de Sean Baker
“The Shrouds”, de David Cronenberg
“The Substance”, de Coralie Fargeat
“Grand Tour”, de Miguel Gomes
“Marcello Mio”, de Christophe Honoré
“Caught by the Tides” (“Feng Liu Yi Dai”), de Jia Zhang-Ke
“All We Imagine as Light”, de Payal Kapadia
“Kinds of Kindness”, de Yorgos Lanthimos
“L’Amour Ouf”, de Gilles Lellouche
“Diamant Brut”, de Agathe Riedinger
“Oh Canada”, de Paul Schrader
“Liminov – The Ballad”, de Kirill Serebrennikov
“Parthenope”, de Paolo Sorrentino
“The Girl With the Needle”, de Magnus von Horn
"Um Certain Regard"
(destinado a filmes mais alternativos e de cineastas menos conhecidos)
“Norah”, de Tawfik Alzaidi
“The Shameless”, de Konstantin Bojanov
“Le Royaume”, de Julien Colonna
“Vingt Dieux!”, de Louise Courvoisier
“Le Proces du Chien”, de Laetitia Dosch
“Black Dog” (“Gou Zhen”), de Guan Hu
“The Village Next to Paradise”, de Mo Harawe
“September Says”, de Ariane Labed
“L’Histoire de Souleymane”, de Boris Lojkine
“Les Damnes”, de Roberto Minervini
“On Becoming a Guinea Fowl”, de Rungano Nyoni
“My Sunshine” (“Boku No Ohisama”), de Hiroshi Okuyama
“Santosh”, de Sandhya Suri
“Viet and Nam”, de Truong Minh Quy
“Armand”, de Halfdan Ullman Tondel
Fora da competição
"Le Deuxième Acte", de Quentin Dupieux (Filme de Abertura)
“Furiosa: Uma Saga Mad Max”, de George Miller
“Horizon, an American Saga”, de Kevin Costner
"She Has No Name", de Peter Chan
"Rumeurs", de Guy Maddin e Evan et Galen Johnson
Cannes Premiere
“Misericorde”, de Alain Guiraudie
“C’est Pas Moi”, de Leos Carax
“Everybody Loves Touda”, de Nabil Ayouch
“En Fanfare”, de Emmanuel Courcol
“Rendez-Vous Avec Pol Pot”, de Rithy Panh
“Le Roman de Jim”, de Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu
Sessões da Meia-Noite
“Twilight of the Warrior Walled In”, de Soi Cheang
“I, the Executioner”, de Seung Wan Ryoo
"The Surfer", de Lorcan Finnegan
"Les Femmes au Balcon", de Noémie Merlant
Sessões Especiais
“La Belle de Gaza”, de Yolande Zauberman
“Apprendre”, de Claire Simon
“L’Invasion”, de Sergei Loznitsa
“Ernest Cole, Lost and Found”, de Raoul Peck
“Le Fil”, de Daniel Auteuil
Comentários