Um dos realizadores portugueses mais prestigiados dos últimos anos, João Salaviza já venceu a Palma de Ouro de Melhor Curta-Metragem em Cannes com "Arena" e o Urso de Ouro na mesma categoria no Festival de Berlim com "Rafa".
Agora, quase todas as suas obras ficam disponíveis na plataforma "online" Filmin. De fora ficam apenas as curtas "Duas Pessoas" (2004) e "Cães de Caça (2008).
A lista inclui precisamente "Arena", de 2009, a sua terceira curta-metragem e um dos seus trabalhos mais marcantes, que narra um pequeno episódio ocorrido num bairro social, onde um homem (Carloto Cotto) com pulseira eletrónica é atacado dentro de casa por um grupo de adolescentes. Além da distinção em Cannes, venceu por cá o prémio da categoria no IndieLisboa.
Antes de voltar ao drama mais característico de "Cerro Negro" e "Rafa" para compor a sua chamada “trilogia acidental”, em 2010 o cineasta inspirou-se no trabalho de Pina Bausch para produzir "Hotel Muller".
No ano a seguir, para a participação portuguesa na Bienal de Veneza de Arquitetura, produziu "Casa na Comporta" e ainda "Strokkur", filmado numa localidade a 100 quilómetros de Reijavik, na Islândia, documentando a ação de um vulcão e as dificuldades para a sua observação no meio de condições climatéricas adversas.
"Cerro Negro", sobre uma família de imigrantes brasileiros onde o pai está preso e o filho recusa-se a visitá-lo, fornece um belo capítulo da sua abordagem sobre relações familiares. O título refere-se a cidade de origem dos protagonistas – pairando como uma espécie de símbolo de um sonho dourado que correu muito mal.
Com "Rafa" retorna o tema social no drama de uma adolescente da margem sul que vai à Lisboa buscar a mãe – retida numa esquadra por causar um acidente sem carta de condução. Em causa estão temas como a maternidade e família, com um final simbólico sobre as situações de abandono.
Depois deste sólido percurso nas curtas-metragens, João Salaviza finalmente apresentou a sua esperada estreia nas longas-metragens com "Montanha", que reuniu os ambientes e temas da sua “trilogia acidental”, aqui acompanhando as violentas transformações de adolescência através da trajetória de um rapaz do bairro.
Também está disponível "Altas Cidades de Ossadas", estreado na Berlinale e exibido na última edição do DocLisboa, que é uma abordagem que reúne “rap crioulo”, numa parceria com o músico Karlom, e uma trajetória de exclusão da grande cidade.
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