A caminho dos
Óscares 2020
"Faço tudo aquilo que não é possível filmar, e tentamos fazer da forma mais realista possível. Se o nosso trabalho for bem feito, as pessoas nem duvidam dele nem é notado", afirmou Gonçalo Cabaça à agência Lusa.
O artista português, em equipa com Don Wong, Thibault Gauriau e François-Maxence Desplanques, foi distinguido pelos pares, nos prémios anuais da organização Visual Effects Society, que reconhecem especificidades em matéria de efeitos visuais e especiais no cinema.
Nas vésperas da cerimónia de entrega dos Óscares, marcada para domingo e em que o último filme da saga "Star Wars" está nomeado para o prémio de melhores efeitos visuais, Gonçalo Cabaça explica que ele é só mais um elemento de uma equipa técnica gigantesca que trabalhou aquela produção, através da Industrial Light & Magic (ILM), a empresa que George Lucas fundou em 1975.
A partir da Singapura, onde tem trabalhado nos últimos anos na ILM, Gonçalo Cabaça contou que lidera alguns projetos no departamento de efeitos da empresa, trabalhando em tudo o que é animado, num filme que tenha imagem real, como explosões, tempestades, acidentes, ou precise de "efeitos de indole mágica ou fantasiosa".
O prémio que conquistou nos Estados Unidos diz respeito a uma sequência com mais de cem planos em "Star Wars: A ascensão de Skywalker", numa cena de luta junto ao mar entre os atores Adam Driver e Daisy Ridley, e cuja criação em digital envolveu várias pessoas durante oito meses.
É um trabalho muito específico e que fica quase diluído entre as centenas de pessoas que fizeram parte de uma produção de grande escala cinematográfica como "A Guerra das Estrelas", mas junta-se a um currículo marcado por outros filmes de entretenimento, como "Vingadores: Endgame" (2019), "Kong: A ilha da caveira" (2017) e "A grande muralha" (2016).
Gonçalo Cabaça, nascido em Lisboa em 1972, recordou à Lusa um percurso que incluiu estudos em Design Industrial, em Teatro e uma experiência profissional como professor, durante 11 anos no Faial, Açores.
"Era um desafio por um ano e acabei por ficar onze. Era professor de Educação Visual e de Artes. Acabei por desenvolver com os alunos muito trabalho na área da animação e dos filmes", contou.
Depois, trocou o ensino por um mestrado em efeitos visuais, no Reino Unido, e conseguiu um estágio em Los Angeles (Califórnia), "onde existia a indústria de cinema de pós-produção na altura", e que lhe abriu todas as portas seguintes.
A partir daí trabalhou em Sidney (Austrália), Nova Iorque e São Francisco (Estados Unidos), até ir para Singapura, trabalhar numa das divisões da ILM.
"Eu não participo nas decisões criativas da história [de um filme]. Há um plano daquilo que se pretende e nós desenvolvemos o trabalho dentro desse plano e, eventualmente, conseguimos mudar alguma coisa, mas o objetivo não é esse. A nossa parte criativa é nas soluções encontradas para aquilo que nos é pedido", disse.
Atualmente trabalha no filme "Free Guy", de Shawn Levy, protagonizado por Ryan Reynolds, e que deverá estrear-se no verão.
Sobre os Óscares, Gonçalo Cabaça não dá palpites sobre quem ganhará o de melhor efeitos visuais.
"Muitas vezes, os filmes escolhidos até não têm muitos efeitos, mas servem muito bem a história que está a ser contada. São menos impressionantes do ponto de vista do trabalho, mas mais impressionantes no quão o trabalho beneficia a história que está a ser contada", disse.
Gonçalo Cabaça fala de um meio competitivo, mas numa escala menos agressiva se comparada com a área da representação ou da realização, e deixa dois conselhos: "Sinalizar uma licenciatura, procurar qual a melhor universidade do mundo da área que a pessoa mais quer. Não criar um plano a longo prazo".
"É estar disponível para as oportunidades e depois é ter sorte", resumiu.
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