A caminho dos
Óscares 2025

Miki Zohar, ministro da Cultura israelita, descreveu na segunda-feira como um “momento triste para o mundo do cinema” a atribuição de um Óscar ao documentário israelo-palestiniano “No Other Land”, sobre a colonização na Cisjordânia.
O filme, codirigido pelo palestiniano Basel Adra e pelo israelita Yuval Abraham, aborda a colonização de Israel na Cisjordânia do ponto de vista de um jovem.
No domingo, ganhou o Óscar de Melhor Documentário, a mesma categoria que já recebera no Festival de Berlim em 2024.
“Em vez de apresentar a complexidade da realidade israelita, os cineastas optaram por amplificar histórias que distorcem a imagem de Israel perante o público internacional”, escreveu Zohar, membro do Likud, o partido do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).
“A liberdade de expressão é um valor importante, mas fazer da difamação de Israel uma ferramenta de promoção internacional não é arte, é sabotagem contra o Estado de Israel, especialmente depois do massacre de 7 de Outubro [2023] e da guerra em curso”, acrescentou, referindo-se ao ataque sem precedentes do movimento islâmico palestiniano Hamas e à subsequente guerra na Faixa de Gaza.
O trabalho com 95 minutos que pode ser visto em Portugal na plataforma Filmin passa-se em Massafer Yatta, área no sul da Cisjordânia, território palestiniano ocupado por Israel desde 1967, e retrata a vida de um jovem palestiniano que luta contra o que a ONU considera o deslocamento forçado dos habitantes da região.

O Óscar foi o momento mais político da 97.ª cerimónia.
Basel Adra, jornalista e ativista palestiniano, considerou "uma grande honra" a distinção. O documentário não teve distribuidor nos EUA, tendo sido exibido apenas em cinemas selecionados de todo o país.
"Há cerca de dois meses, fui pai, e espero que a minha filha não tenha de viver a mesma vida que estou a viver agora, sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e as deslocações forçadas que a minha comunidade, Masafer Yatta, está a viver e a enfrentar todos os dias sob a ocupação israelita", disse o realizador.
"'No Other Land' reflete a dura realidade que enfrentamos há décadas e a que resistimos, ao mesmo tempo que apelamos ao mundo para que tome medidas sérias para pôr fim à injustiça e à limpeza étnica do povo palestiniano".

Já Yuval Abraham, um jornalista israelita que recebeu ameaças de morte após "No Other Land" ganhar em Berlim, recordou que "fizemos este filme, palestinianos e israelitas, porque juntas as nossas vozes são mais fortes. Vemo-nos uns aos outros, a destruição atroz de Gaza e do seu povo, que deve acabar, os reféns israelitas, brutalmente capturados no crime de 7 de Outubro, que devem ser libertados".
"Quando olho para o Basel, vejo o meu irmão, mas somos desiguais", prosseguiu. "Vivemos num regime em que sou livre ao abrigo da lei civil, e o Basel está sujeito a leis militares que lhe destroem a vida e que ele não consegue controlar".
Na sua intervenção, disse ainda "que há um caminho diferente, uma solução política sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os nossos povos" e alertou que a atual política externa dos EUA “está a ajudar a bloquear esse caminho.”
Abraham sublinhou que os dois povos, israelita e palestiniano, estão interligados. "O meu povo pode estar realmente seguro se o povo de Basel estiver realmente livre e em segurança", afirmou, insistindo "noutra forma" de resolver o conflito. "Não é tarde para a vida, para os vivos. Não há outro caminho", concluiu.
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