"Era imperdoável não lembrar a figura Miguel Franco. O meu pai foi uma das pessoas intelectualmente mais importantes de Leiria - e não digo isto por ter sido meu pai. Mas se não fosse eu a contactar uns amigos, estou convencida que nada se faria", lamenta a pintora Maria João Franco, que lidera a organização da comemoração.
Miguel Franco, que morreu em 1988 e que dá nome a uma das salas de espetáculo de Leiria, destacou-se como ator de cinema, sobretudo nas décadas de 60, 70 e 80 do século XX.
Integrou o elenco de mais de uma dúzia de filmes do novo cinema português, como "O Crime de Aldeia Velha" (1964), de Manuel Guimarães, "O Cerco" (1969), de António Cunha Telles, "O Rei das Berlengas" (1978), de Artur Semedo, ou "Manhã Submersa" (1980), de Lauro António.
Antes, dinamizou o teatro em Leiria, levando peças ao Castelo de Leiria e também ao Mosteiro da Batalha e Convento de Cristo, em Tomar, onde encenou "A Farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente. Criou ainda o Grupo de Teatro Miguel Leitão.
Escreveu "O Motim", editado em 1963, mas censurado pelo Estado Novo, levando ao cancelamento da peça.
O realizador e produtor Miguel Cardoso, que trabalhou com Miguel Franco em diversos filmes, recorda-o como "um ator nato", com "qualidades raras em Portugal".
"De cada vez que vejo um filme dele, não vejo o Miguel Franco; vejo a personagem que está a representar. O Miguel Franco apaga-se", sublinha, lamentando a falta de reconhecimento a que foi votado.
Miguel Cardoso compara Miguel Franco a Aquilino Ribeiro: "Apesar de serem génios, nunca tiveram o reconhecimento que mereciam" porque "foram pessoas com atividade regional, subvalorizadas e menos apreciadas".
Em Leiria, ao longo de 2018, o programa de comemorações do centenário de Miguel Franco procura dar a conhecer a sua obra e combater o esquecimento: depois da homenagem no sábado, com apresentação do documentário biográfico realizado por Miguel Cardoso e presença do dramaturgo Hélder Costa, inicia-se um ciclo de cinema, com dez sessões, até 28 de julho.
A 29 de setembro e 8 de outubro, o texto "A legenda do cidadão Miguel Lino", de Miguel Franco, terá leituras encenadas no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria.
Em novembro, será inaugurada uma exposição biográfica.
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