O trabalho da cineasta francesa Sarah Maldoror, que foi casada com o primeiro presidente do MPLA, o nacionalista Mário Pinto de Andrade, chega na quinta-feira a Luanda, através da exposição “Cinema Tricontinental”, pela primeira vez em África.
Com abertura marcada para 28 de abril, a exposição com curadoria de François Piron e Annouchka de Andrade vai estar patente no Palácio de Ferro, depois de passar pelo Palais de Tokyo, em Paris, e Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa.
A exposição celebra e reconhece um ícone que foi pioneiro em apresentar na cena internacional a luta do povo angolano pela sua independência, usando o cinema como uma arma, segundo um comunicado da organização do evento.
A proposta centra-se numa “deambulação numa paisagem – com efeito, aqui, uma paisagem de filmes – misturando imagens animadas, documentos, correspondência, fotografias e poesia”.
Será consagrado um espaço à ligação que a cineasta estabelecia com Angola através do testemunho de duas personalidades emblemáticas, o escritor Luandino Vieira e, sobretudo, o intelectual e político Mário Pinto de Andrade, seu companheiro de toda a vida, refere a nota.
À margem da exposição vão realizar-se ‘master classes’, uma mesa-redonda e exibições de filmes, bem como visitas guiadas no mês de maio.
Com mais de 45 filmes, de vários géneros, e outros tantos projetos que não concluiu, nenhum “obedece completamente às leis do género cinematográfico – documentário, ficção, retrato, paisagem, entre outros –, mas todos eles se assemelham no cuidado que demonstram em colocar a poesia à frente do discurso, em combater o preconceito e o racismo e em nunca sacrificar a experiência quotidiana da vida das pessoas em prol das ideias”, realçam os organizadores.
A iniciativa é da Associação de Amigos de Sarah Maldoror & Mário de Andrade, em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo, a Embaixada de França, a Fundação BAI e Academia BAI e o Camões-Centro Cultural Português.
Sarah Maldoror nasceu Sarah Ducados em 1929, no sudoeste de França, filha de pai francês originário de Guadalupe e de mãe francesa e adotou o nome de Maldoror em alusão ao herói maléfico dos Cantos de Maldoror (1868) do Conde de Lautréamont.
Nos anos de 1950, em Paris cofundou a primeira companhia de teatro negro em França: ‘Les Griots’ e foi também na capital francesa que se deu o seu encontro com o poeta e ativista político Mário Pinto de Andrade, que se tornará seu companheiro e a levará até à Guiné-Conacri, onde surge o seu desejo de trabalhar com cinema, bem como a oportunidade de estudar cinema em Moscovo.
A cumplicidade com Mário Pinto de Andrade, que se tornou líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), e Amílcar Cabral, levará Sarah a dedicar a sua primeira longa-metragem à guerrilha na Guiné-Bissau.
Uma das suas maiores realizações é o lançamento de “Sambizanga” em 1972, que conta a ascensão da consciência contra o jugo colonial entre o povo de Angola, através da viagem de Maria, uma mulher à procura do seu marido, detido nas prisões portuguesas.
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