Trata-se do filme que tem encantado sucessivas gerações de espectadores: foi a 11 de agosto de 1939 que tiveram lugar três primeiros visionamentos de
«O Feiticeiro de Oz».
Com um custo de 2 milhões e 777 mil dólares, foi à época a produção mais dispendiosa de sempre do estúdio que clamava ter «mais estrelas do que o céu», a MGM, o que deixava os seus administradores compreensivelmente nervosos. Aquando da antestreia em Hollywood, no lendário Grauman's Chinese Theatre, no dia 15, e a expansão para o mercado nacional a 25, tinham sido cortados 9 minutos e ainda podiam ter sido mais: responsáveis do estúdio pensaram seriamente cortar «Over the Rainbow» por acharem que a balada tornava o filme longo, quando o resto da banda sonora tinha um tom muito mais rápido e apelativo, e que era «degradante»
Judy Garland cantar num curral. No final, optou-se por cortar uma repetição, cantada quando Dorothy está no covil da Bruxa Má.
Eis outras curiosidades para assinalar a efeméride:
Rentável? Sim, mas só mais tarde
Apesar de ser um dos títulos mais reconhecidos da grande colheita cinematográfica de 1939, «O Feiticeiro de Oz» só rendeu três milhões de dólares, tornando-se apenas rentável com o relançamento nas salas em 1949.
Eventualmente tornar-se-ia o terceiro mais lucrativo dos anos 30, atrás de
«E Tudo o Vento Levou» e
«Branca de Neve e os Sete Anões»; a televisão contribuiu depois para ganhar o estatuto de clássico, com transmissões anuais introduzidas por artistas como
Danny Kaye e
Dick Van Dyke a começarem em 1956; o filme chegou ao vídeo em 1980.
Concorrer com Branca de Neve
A decisão de avançar com o filme ocorreu depois do sucesso comercial e crítico do clássico da Disney que o patrão da MGM Louis B. Mayer queria bater. Foi também ele que mais tarde também teve a ideia de mudar a cor dos sapatos de prateado para vermelho vivo.
Afinal, Dorothy não queria voltar a casa?
Uma das grandes alterações em relação ao espírito da obra de L. Frank Baum (1856-1919)é o final «não há como a nossa casa»: na verdade, Dorothy tem a possibilidade de regressar a Oz no final do primeiro livro, o que faz em variadíssimas ocasiões para escapar à dura realidade da quinta do Kansas, acabando por se mudar permanentemente com Toto e os tios.
Judy Garland estava mais perto, mas o estúdio procurou longe
O produtor Mervyn LeRoy sofreu grandes pressões para fazer testes a Shirley Temple, então a maior estrela infantil da indústria, para a personagem de Dorothy, apesar de ser de um estúdio rival, mas as suas capacidades vocais deixavam algo a desejar; após serem consideradas outras candidatas, foi por insistência do compositor Arthur Freed que a MGM considerou a sua própria funcionário, Judy Garland.
Um filme feito a várias mãos
Ao longo da produção estiveram envolvidos 10 argumentistas e seis realizadores:
Richard Thorpe, que não chegou a filmar,
George Cukor,
Victor Fleming, Mervyn LeRoy,
Norman Taurog e
King Vidor.
Um rodagem infernal
Com exceção das nuvens no genérico inicial, foi tudo feito em estúdio durante cinco meses (o que contribuiu para os muitos erros que se veem no filme, desde logo no tamanho do cabelo de Garland), seis dias por semana. Muitos atores tinham de se apresentar às quatro e cinco da manhã por causa do guarda-roupa e caracterização e trabalhavam até às sete e oito da noite num estúdio que aquecia até aos 38º por causa da iluminação necessária para as filmagens em Technicolor.
Quando Judy Garland não conseguiu parar de rir na cena em que tinha de dar uma bofetada ao leão cobarde, Victor Fleming levou-a para os bastidores e deu-lhe uma bofetada; quando regressou, a cena foi filmada numa única vez; depois ele pediu-lhe desculpa e a atriz diria mais tarde que ainda o admirava como realizador.
Vestida de negro e caracterização verde, Margaret Hamilton foi uma magnífica Bruxa Má do Oeste, mas foi tão assustadora que muitas das suas cenas sofreram bastantes cortes ou foram completamente eliminadas. E a atriz sofreu pela arte: teve queimaduras durante a rodagem da cena em que desaparece numa nuvem de fumo e passaram meses até a tintura verde desaparecer completamente. A atriz regressou à personagem de forma mais calma e cómica num episódio de 1976 de «Rua Sésamo». De acordo com o filho, gostou tanto da sua frase «I'll get you, my pretty, and your little dog, too!» que a usou várias vezes ao longo da sua vida.
Relações estranhas
Buddy Ebsen foi contratado para interpretar o Homem de Palha e
Ray Bolger o Homem de Lata, mas Bolger, que viria a ser o último membro do elenco principal a morrer na altura, em janeiro de 1987, desesperado por interpretar a personagem do outro, convenceu-o a trocar.
Depois de dois dias, Ebsen teve uma reação alérgica à caracterização do fato de alumínio e foi parar ao hospital, sendo substituído por Jack Haley... cujo filho casaria nos anos 70 com Liza Minelli, filha de Garland.
Frank Morgan foi mais do que o feiticeiro
Esteve longe de ser o principal candidato ao o papel do Feiceiro, mas
Frank Morgan ganhou depois de um grande teste. Muitos se surpreendem por ele aparecer logo a seguir a Judy Garland nos créditos, mas o ator fazia cinco personagens.
A certa altura decidiu-se que era necessário um velho e gasto casaco para o professor Marvel (Morgan) e comprou-se um conjunto inteiro numa loja em segunda mão. O responsável pelo guarda-roupa e o realizador escolheram um de que gostaram e um dia o ator encontrou uma etiqueta no interior que dizia «L. Frank Baum», o nome do autor do romance. O casaco foi oferecido à viúva após a rodagem.
O cão que era cadela valia o seu peso em ouro
Cada ator que interpreta um Munchkin ganhava 50 dólares de 1939 por semana (atualmente corresponde a 600 euros). Toto, que na verdade era uma Cairn Terrier chamada Terry, recebia 125 (1494 euros).
Efeitos especiais da época
O fogo que envolve as mãos da bruxa quando tenta tirar os sapatos vermelhos era na verdade sumo de maçã expelido dos mesmos. A película foi então acelerada para parecer que era fogo.
Demorou a voltar a Oz
O estúdio pensou em fazer uma sequela com o mesmo elenco, mas os planos caíram por terra quando Garland se tornou uma grande estrela. Margaret Hamilton também expressou dúvidas sobre a viabilidade de tal projeto por a sua personagem ser demasiado assustadora.
Em 1985, a Disney fez «O Mundo Fantástico de Oz», que se tornou um clássico de qualidade muito diferente. Uma prequela,
«Oz - O Grande e Poderoso», surgiu em 2013, realizada por
Sam Raimi.
Playlist!
De forma não intencional, o álbum «Dark Side of the Moon», dos Pink Floyd, está sincronizado de forma quase perfeita com o filme se começar a tocar o disco a partir do terceiro rugido do leão da MGM.
Alguns membros da banda ficam zangados com a insistente associação, mas o baterista Nick Mason encarou a curiosidade com humor à MTV: «Não faz qualquer sentido. Não tem nada a ver com «O Feiticeiro de Oz». Foi todo baseado no «Música no Coração».
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