
O cineasta brasileiro Karim Aïnouz está a concluir a montagem do seu último filme, "Rosebush Pruning", uma nova produção internacional após "Motel Destino" (2024), uma comédia ácida e erótica, ambientada no Brasil.
Estabelecido em Berlim há cerca de 15 anos, mas sempre disposto a cruzar fronteiras, Aïnouz diz que, aos 59 anos, sente-se bem "na aventura". Ele foi é um dos nomes estrelados convidados do 37º festival Cinelatino de Toulouse (sudoeste da França), que decorre entre 21 e 30 de março e inclui uma retrospetiva da sua obra, onde falou com a agência France-Presse (AFP).
AFP: Filmou grandes produções internacionais, como "O Jogo da Rainha" ("Firebrand", de 2023), filmes independentes como "Madame Satã" (2002) ou um documentário na Argélia sobre as suas origens paternas, "Marinheiro das Montanhas" (2021). Onde se sente mais confortável?
Não saberia dizer, para ser honesto. Talvez em todas as partes. A diferença é a língua. Falo inglês desde os dez anos, morei nos EUA durante 15 anos, então não é um problema. Mas num plateau, como me sinto melhor, é com a minha língua materna, o português. Mas um filme não é simplesmente um plateau, é todo um processo de produção. E aí sinto-me mais confortável num sistema anglo-saxónico. Adoro a organização e nesse sistema tudo está muito determinado, as pessoas são super competentes. E, ao mesmo tempo, este desafio de fazer um filme sem grandes meios... Talvez diria que onde me sinto melhor é na aventura.
AFP: Não é cansativo?
Pelo contrário, é genial. Não estudei numa escola de cinema. Estudei arquitetura. E para mim, o cinema era, desde o princípio, jogar em campos diferentes. Quando fiz "Motel Destino", tudo o que foi improvisado ficou na montagem final. Tudo o que estava planeado ficou de fora. Ou seja, testo uma coisa aqui [no Brasil] que nos EUA não poderia funcionar... É um desafio. Construí um repertório de ferramentas, como um pintor.
AFP: O que nos pode dizer sobre "Rosebush Pruning"?
Estamos em plena montagem, de facto ausentei-me por três dias para vir a Toulouse. É uma comédia contemporânea, sobre o mundo dos privilégios. É baseado muito livremente num filme italiano, um grande clássico de [Marco] Bellocchio, que se chama "I pugni in tasca" (1965, "De Punhos Cerrados", em tradução literal). Nós filmámos em parte em Castellterçol, perto de Barcelona, embora o local seja um país imaginário em certa medida... É o filme mais maluco que fiz na minha vida. E o elenco é fantástico: Ellen Fanning, Callum Turner, Pamela Anderson, a espanhola Elena Anaya... é um filme sobre uma família, algo que nunca fiz até agora. É realmente uma experiência de grupo, como uma peça de teatro, de certa maneira".
AFP: Por que morar em Berlim?
É uma cidade que adoro, é uma cidade muito, muito livre. Tenho ali o meu pequeno estúdio. Fica um pouco fora da Alemanha, chamo-lhe a República Livre de Berlim. E é uma cidade que inspira muito.
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