A 12 de junho de 1981 nasceu oficialmente um dos maiores heróis da história do cinema: Indiana Jones.
Ou podemos dizer Harrison Ford: desde essa altura que são inseparáveis um do outro, chapéu e chicote incluídos, a tal ponto que o ator está agora a filmar, a um mês de festejar os 79 anos, a quinta aventura.
Por enquanto, fazem parte da série "Indiana Jones e o Templo Perdido" (1984), "Indiana Jones e a Grande Cruzada" (1989) e "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal" (2008), mas aquele que é frequentemente considerado o melhor é o primeiro, "Os Salteadores da Arca Perdida" (rebatizado "Indiana Jones e os Salteadores da Arca Perdida" em 2000, título que nenhum purista que se preze utiliza).
Uma versão moderna dos seriados de aventuras dos anos 1930 e 1940, o arqueólogo e aventureiro e a sua fogosa ex-paixão Marion Ravenwood (Karen Allen) contornavam armadilhas, enfrentavam Nazis e afugentavam cobras na sua incrível busca pela mística Arca da Aliança ao longo de 115 minutos, mas realmente bastaram os primeiros dez, em que "Indy" atravessava um antigo templo cheio de armadilhas mortais no Peru para recuperar um ídolo de ouro e fugia de um gigantesco pedregulho, para andarmos a dizer há 40 anos que "a aventura tem um nome" (ironicamente, a adaptação de um slogan do segundo filme, "If adventure has a name... it must be Indiana Jones").
"Os Salteadores da Arca Perdida" também é o resultado de vários "acasos" felizes que se encontram em quase todos os clássicos do cinema, para lá daquele que será o mais conhecido: o de que Harrison Ford só foi Indiana Jones porque o primeiro escolhido, Tom Selleck, teve de recusar porque estava comprometido com a série "Magnum PI" (e quando ficou outra vez disponível por causa de uma greve, já Ford estava com o papel).
A "aventura" começou em 1973, quando George Lucas escreveu um rascunho de "As Aventuras de Indiana Smith", que discutiu depois com o argumentista e realizador Philip Kaufman, que contribuiu com a ideia central, o genial "Macguffin" que dava sentido a toda a história: a Arca onde teriam sido guardadas as tábuas dos Dez mandamentos e outros objetos sagrados.
Quatro anos mais tarde, em maio de 1977, descrente das hipóteses de sucesso de "Star Wars", Lucas escapou para umas férias no Havai, convidando Spielberg, que dali a uns meses também lançaria nos cinemas "Encontros Imediatos do Terceiro Grau". E foi a conversar na praia sobre os próximos projetos, quando o amigo revela que sempre quis fazer um filme "007", que Lucas lhe apresenta o conceito de "As Aventuras de Indiana Smith".
No início de 1978, reforçados com os sucessos dos seus filmes no ano anterior, os dois juntaram-se a Lawrence Kasdan para discutir ideias durante cinco intensos dias, em que se definiriam muitos os elementos que conhecemos: Spielberg quis o pedregulho a rebolar e passar o herói de Smith para Jones; Lucas queria um submarino e um macaco no Cairo a fazer a saudação nazi; e Kasdan, que percebeu que os outros dois tinham várias sequências na cabeça e precisavam de alguém que as ligasse, foi quem se lembrou do diminutivo "Indy". Pelo meio, Lucas foi convencido pelos seus interlocutores a deixar cair a ideia de um académico e arqueólogo praticante de artes marciais e mulherengo à imagem de... James Bond.
Outro feliz acaso: quando finalmente estavam prontos para avançar, a sorte de Spielberg tinha mudado drasticamente: o realizador de "Tubarão" e "Encontros Imediatos..." enfrentava as consequências do grande fracasso comercial de "1941 - Ano Louco em Hollywood" (1979).
A sua reputação por exceder prazos e orçamentos era tão má em Hollywood que vários estúdios recusaram o projeto porque não o queriam como realizador, principalmente quando Lucas também exigia um orçamento de 20 milhões de dólares, manter o controlo dos direitos e das sequelas, e não aceitava nenhuma interferência criativa. E o envolvimento de Spielberg não era negociável.
O realizador estava a lutar pela sobrevivência e fazer "bem" a "encomenda" que era "Os Salteadores da Arca Perdida" também se tornou uma questão de brio profissional.
Como recordaria Lucas mais tarde, o amigo revelou-se "um mestre da inventividade, um mestre da necessidade" ao longo de uns rapidíssimos 73 dias de rodagem e infindavelmente imaginativo a resolver problemas criativos, como aquele em que Indiana Jones é desafiado por um espadachim no Cairo e saca da arma para o matar... a complexa cena que estava planeada foi descartada por causa de uma intoxicação alimentar que afetou Harrison Ford e outros membros da equipa (diga-se que tanto o realizador como o ator reclamam a autoria da ideia).
O resto já se sabe: no verão de 1981, Ford deixou de ser principalmente o Han Solo de "Star Wars" para se tornar uma grande estrela de cinema e Spielberg começou a construir um percurso, de "E.T. O Extraterrestre" às duas sequelas "Indiana Jones", que o tornaram um dos homens mais poderosos de Hollywood. A tal ponto de conseguiu fazer, nos primeiros anos da década seguinte, um filme muito pessoal a preto e branco sobre o Holocausto chamado "A Lista de Schindler", que finalmente lhe valeu o "respeito" dos colegas e os Óscares.
Presença habitual nas listas dos melhores de sempre, os fãs já viram "Os Salteadores da Arca Perdida" muitas vezes: é um dos poucos filmes "antigos" que passam com frequência a horas decentes nos canais de televisão. Dos atores (John Rhys-Davies como Sallah, Denholm Elliott como Marcus, Paul Freeman como o arquélogo rival René Belloq, Ronald Lacey como o sádico agente da Gestapo Arnold Toht) à banda sonora de John Williams, tudo parece estar em estado de graça. E entre a aventura, a emoção e a incrível imaginação, há sempre algo de novo para descobrir nesta carta de amor ao cinema de aventura...
Comentários