João Salaviza começou por dizer que estava «muito surpreendido e que teria preparado um discurso bonito se soubesse que ia ganhar». No seu agradecimento, perante 1600 espetadores, disse ainda que dedicaria o prémio ao governo português. «Mas só na condição de nos ajudarem nos próximos anos, porque não sabemos o que vai acontecer com o nosso cinema», sublinhou.

No improviso, João Salaviza destacou ainda o trabalho do protagonista do filme, Rodrigo Perdigão.

«Ele fez mais do que eu pelo filme», mas não pode estar presente em Berlim. A terminar, dedicou ainda o prémio à família. «Amo-vos muito», disse o jovem cineasta português, que já tinha ganho a Palma de Ouro das curtas-metragens em Cannes, com
«Arena», em 2009.

A curta-metragem de João Salaviza, um dos 27 trabalhos a concurso, é sobre um miúdo de 13 anos preocupado com a mãe, detida numa esquadra da polícia por conduzir sem carta. A curta-metragem foi aplaudida na sua estreia mundial em Berlim, na quarta-feira passada.

O júri formado, pela atriz palestiniana Emily Jacir, pelo cineasta irlandês David Oreilly e pela atriz alemã Sandra Hueller, destacou a «impressionante representação» de Rodrigo Perdigão, «no papel de um jovem a caminho de se tornar adulto». No mesmo Festival,
Miguel Gomes venceu o Prémio Alfred Bauer pelo filme «Tabu».

O argumento de «Rafa» nasceu quando Salaviza estreou o premiado filme «Arena». Protagonizado por Rodrigo Perdigão, «Rafa» acompanha um dia na vida de um adolescente que vive na margem sul e descobre que a mãe foi detida por causa de um acidente de automóvel.

Rafa ruma a Lisboa para ir buscar a mãe e essa travessia na ponte sobre o Tejo e a deambulação pela cidade, ao longo de todo o dia, representam uma espécie de transição da zona de conforto para uma certa maturidade, explicou Salaviza.

O filme «aborda as mesmas questões de «Arena»: Uma certa dificuldade de o indivíduo existir dentro de uma coisa mais abrangente que é a sociedade».

Em ambos há «um desejo dos protagonistas de inserção numa sociedade e foca-se no desencontro entre indivíduos e instituições», explicou João Salaviza em declarações à Lusa.

Além de «Arena» e «Rafa», João Salaviza fez ainda a curta-metragem «Cerro Negro», no âmbito de um programa da Gulbenkian.

O júri do Festival de Cinema de Berlim distinguiu hoje, ainda, na categoria de curtas-metragens,
«Gurehto Rabbitto», do japonês Atsushi Wada, com o Urso de Prata, e
«The Man That Got Away», do canadiano Trevor Anderson, com o prémio DAAD.

«Vilaine Fille Mauvais Garçon», da francesa Justine Triet, é a curta que a Berlinale irá candidatar aos Prémios Europeus de Cinema.

O
Urso de Ouro do Festival de Berlim foi para «Cesare deve Morire» dos irmãos
Paolo e
Vittorio Taviani, e o
Urso de Prata - Prémio Especial do Júri foi para «Csak a szél», de Bence Fliegauf. O troféu de
Melhor Realizador foi para
Christian Petzold por «Barbara», o de
Melhor Ator para Mikkel Boe Følsgaard por «En Kongelig Affære» e o de
Melhor Atriz para Rachel Mwanza «Rebelle».

@Lusa