O que diabo é isso de "Star Wars"?
Para alguns é apenas um conjunto de filmes de aventuras, para outros é quase uma religião, para outros tantos ainda é um imenso ponto de interrogação traduzido num universo incompreensível que leva adultos a vestirem-se como crianças e a atafulharem a casa de bonecada da saga.
Uma coisa é certa: é um verdadeiro fenómeno global e em 2015, após dez anos de ausência do grande ecrã, “Star Wars: O Despertar da Força” conseguiu reacender a paixão dos adultos que já conheciam o universo de trás para a frente e iniciá-la nas crianças que nunca tinham viram um único filme da saga. Mas de que é que falamos afinal quando falamos de “Star Wars”?
Se quisermos associar um género aos nove filmes da saga principal, talvez escolhêssemos dizer que são verdadeiros épicos com elementos de western e de fitas de capa e espada injectados num universo de ficção científica.
Há princesas, pistolas, duelos, dinastias, espadas, cavalgadas heróicas, naves espaciais, robôs e criaturas alienígenas, num enredo que mistura ciência e feitiçaria, vitórias esfuziantes e tragédias épicas, bons que passam a maus e maus que passam a bons, e relações de aprendizagem e ruptura entre pais e filhos e entre mestres e aprendizes. E claro, é preciso não esquecer a influência dos conto de fadas, bem marcada pela inscrição que abre cada filme:
“A long time ago, in a galaxy far, far away…”.
A paixão assolapada pelos filmes levou à criação, ao longo de 42 anos, de toda a uma série de derivados, que compõem o universo mais alargado de “Star Wars”, e que integram não só o mais variado "merchandise" como também séries televisivas de animação e livros em prosa e em BD, que amplificam o universo original.
A maioria dos apaixonados fica-se só pelos filmes, mas os mais fanáticos mergulham, com graus variáveis de paixão, em todo o oceano de produtos e séries derivadas, num grau de devoção e dedicação superior ao de qualquer outro universo criado para o cinema. Por isso mesmo, e pelo secretismo que tipicamente envolve a rodagem de cada uma das fitas, a estreia de qualquer filme da saga "Star Wars" é sempre fanaticamente aguardada por fãs das mais diversas idades e intensidades.
Mas porque é que o IV vem antes do I? A complicação dos Episódios
Vamos a ela, que ainda deixa muita gente de pé atrás e faz coçar a cabeça aos novos espectadores...
O primeiro filme da série, escrito e realizado por George Lucas, estreou em maio de 1977 e chamava-se apenas “Star Wars” (“A Guerra das Estrelas” entre nós). Para surpresa de praticamente toda a gente, tornou-se o maior sucesso da história do cinema até àquela data. Ora, a sequela não se fez esperar e estrearia logo em 1980, data em que o filme inicial foi reposto com a adição “Episódio IV: A Nova Esperança” no título (sim, fãs, não nos tínhamos enganado no título ali em cima) e no texto que surge inicialmente a contextualizar a ação.
O racional apresentado por Lucas para tal era o de que a série se inspirava nos “serials” de aventuras dos anos 30 e 40, apresentados em episódios numerados e muitas vezes com idêntico texto a amarinhar pelo ecrã acima no arranque da fita para explicar o que vinha atrás, ficando neste caso à imaginação do espectador a tarefa de preencher os detalhes do passado daquele universo galáctico.
Assim, nesse ano de 1980, estrearia “O Império Contra-Ataca”, o Episódio V, e em 1983 “O Regresso de Jedi”, correspondente ao Episódio VI. Já por essa altura, Lucas indicava que sempre tivera em mente uma saga em nove episódios e por isso, na década de 90, decidiu dedicar-se a recuar na cronologia e criar os Episódios I, II e III, que estreariam em 1999, 2002 e 2005 (a saber, “A Ameaça Fantasma”, “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”), e que teriam uma recepção menos consensual por parte do público. A reboque disso, ainda relançou as três fitas originais (as chamadas Edições Especiais) com novos efeitos digitais e algumas alterações que enfureceram os fãs.
Depois, em 2015, estreia o Episódio VII, designado "O Despertar da Força", que recupera as personagens que fizeram sonhar os espectadores na trilogia original e que localiza a ação 30 anos depois do Episódio VI, seguindo-se em 2017 o Episódio VIII, "Os Últimos Jedi", e chegando agora às salas muito esperado Episódio IX, "A Ascensão de Skywalker", que deverá fechar todas as pontas das nove fitas.
Nos anos intermédios aos da estreia desta terceira trilogia, foram ainda planeados mais dois filmes isolados, os chamados "Anthology films", com episódios focados em personagens ou temas centrais do passado da saga, mas com respeito escrupuloso pela continuidade das histórias. Assim, em 2016, estreou o muito elogiado "Rogue One: Uma História de Star Wars", com tonalidades de filme de guerra e focado numa história lateral que decorre na transição para o Episódio IV, e em maio de 2018, o menos bem recebido "Han Solo: Uma História de Star Wars", sobre a juventude do carismático Han Solo.
Entretanto foi anunciado que Rian Johnson, realizador de "Os Últimos Jedi", está a trabalhar numa nova trilogia, mas afastada das aventuras de Luke Skywalker, e que Kevin Feige, o produtor dos filmes dos Marvel Studios e admirador de longa data da saga, tem também um filme de "Star Wars" em preparação. Há uma data confirmada para a estreia de uma nova fita da saga, dezembro de 2022, mas ainda não se sabe se será alguma destas ou outra ainda não divulgada, parecendo apesar de tudo certo que a numeração por capítulos terminará neste Episódio IX,
Com a mesma sofisticação dos filmes para cinema, está a ter grande popularidade a primeira série em imagem real do universo "Star Wars", "The Mandalorian", criada para a plataforma de streaming Disney+, desenvolvida por Jon Favreau ("Homem de Ferro"), que deverá chegar à Europa no primeiro trimestre de 2020 e responsável pela mais recente loucura a atravessar a internet, a irresistível personagem do "Baby Yoda". Em desenvolvimento também para o Disney+ estão uma série centrada na personagem de Obi Wan Kenobi, mais uma vez interpretada por Ewan McGregor, e outra em redor de Cassian Andor, o anti-herói encarnado por Diego Luna em "Rogue One".
Fora disto, há todo um manancial de livros, revistas, séries animadas de televisão e videojogos que compõem o universo alargado da saga, e que exploram todos os seus recantos. Mas atenção: até há pouco tempo, todo este manancial passava pelo crivo de George Lucas e era considerado canónico para os fãs da saga, ou seja, todos os eventos nele relatados, por mais laterais que fossem, faziam parte integrante da história principal, incluindo duas longas-metragens para cinema com os felpudos Ewoks.
Em abril de 2014, dois anos depois da compra da Lucasfilm pela Disney, foi anunciado que toda essa narrativa adicional deixava de contar para a cronologia oficial, para não atar de pés e mãos a criação dos futuros filmes da saga. Assim, esse material passa agora a existir com o “brand” “Star Wars Legends” e só contam para a história as longas-metragens oficiais, a série "Star Wars: The Clone Wars" e tudo o que tenha sido criado a partir dali, incluindo a popular série televisiva “Star Wars: Rebels” e a mais recente "Star Wars Resistence".
Quem goste de relíquias, encontra neste universo um dos maiores "guilty pleasures" do "fandom" ligado ao cinema: o mítico "Star Wars Holiday Special", um especial televisivo de Natal exibido uma única vez em 1978, que foi tão violentamente criticado pelo ridículo de muitas cenas que Lucas nunca deu permissão para que ele fosse reexibido ou reeditado em qualquer formato, e circula hoje em cópias piratas de escassa qualidade. Carrie Fisher disse que concordou em fazer comentários áudio para os DVDs da saga "Star Wars" em troca de Lucas lhe ceder uma cópia desse especial, que ela dizia que exibia "em festas, mais para o fim da noite, quando quero que as pessoas se vão embora".
Imagens de bastidores da saga que poucos conhecem
A história e as personagens
No início era tudo simples mas depois a coisa complicou. Para ajudar a perceber, é útil descrever a saga vista até agora em três blocos distintos, correspondentes às três trilogias.
Na trilogia mais antiga, correspondente aos episódios IV a VI, a coisa era razoavelmente fácil de entender: há um Império maligno que oprime toda a galáxia e um punhado de rebeldes que tenta devolver a liberdade aos povos subjugados. Dentro desta realidade, há duas personagens centrais: Luke Skywalker, o herói jovem e inocente, que inicialmente veste de branco, e Darth Vader, o vilão de máscara metálica e eternamente vestido de negro. Uma das surpresas de toda a história do cinema surgiu precisamente no final do Episódio V, com a revelação que Vader era afinal o pai de Luke, Anakin Skywalker.
O jovem embarca nesta grande aventura conduzido por Obi Wan Kenobi, um sábio ancião que lhe ensina os caminhos da Força, uma energia mística de extração quase religiosa que confere grande poder a quem a domina e que é venerada pelos cavaleiros Jedi. O senão é que, quem tenha grande sede de poder, poderá cair nos abismos do lado negro da Força e ser consumido por ela, que foi precisamente o que sucedeu a Vader, sendo a redenção da sua alma o que se vai jogar no capítulo final desta saga.
No elenco de personagens que acompanha o herói, destaca-se a dupla de robôs C-3P0 e R2D2, que vai atravessar todos os episódios da saga, o contrabandista Han Solo e o seu companheiro piloto Chewbacca (o icónico peludo de linguagem pouco elaborada), a princesa Leia, que mais tarde se revelará ser irmã gémea de Luke e que acaba por ter uma relação amorosa com Solo.
O veículo central das aventuras é a nave Millenium Falcon, e entre as demais personagens relevantes contam-se o Imperador Palpatine, a principal força maligna da saga, e o diminuto Yoda, o mentor de todos os cavaleiros Jedi, além de uma enorme variedade de criaturas de vários tamanhos e feitios, como o mercenário Bobba Fett, o traficante Jabba the Hut e os ursinhos Ewoks, que chegaram a ter direito a duas longas-metragens de orçamento reduzido nos anos 80.
Ainda não perderam o fio à meada? Avancemos então.
Nos Episódios I a III, George Lucas recuou aos primórdios da história para revelar como Anakin foi conquistado pelo lado negro da Força e passou de valoroso cavaleiro Jedi ao vilão Darth Vader. Aqui a coisa torna-se um bocadinho mais complicada porque a intriga política domina esta parcela da saga.
Tudo espremido temos Palpatine a manipular a ação nos bastidores e a levar a que a pacífica República, receosa de ataques externos, o eleja como Imperador vitalício e imponha a lei marcial na galáxia. Anakin é treinado por Obi Wan mas faz vista grossa ao celibato inerente à função para poder casar com a bela Princesa Amidala. O jovem intempestivo está constantemente em equilíbrio entre as duas faces da Força, e tomba definitivamente para Lado Negro com a morte da mãe e o receio de que o mesmo lhe suceda à mulher grávida. No fim, claro, Anakin torna-se Vader, Amidala morre ao dar à luz os gémeos Luke e Leia e tudo fica embrulhadinho de forma perfeita para encaixar nos episódios seguintes.
No Episódio VII, que arranca então uma terceira trilogia, a ação arranca 30 anos após a do Episódio VI, com a ditatorial Primeira Ordem a crescer a partir dos resquícios do Império para tomar conta da galáxia, sempre com a oposição da Resistência, agora liderada pela General Leia Organa. O motor da ação é a busca por Luke Skywalker, misteriosamente desaparecido há muitos anos após a eliminação da nova Ordem dos Jedi que ele tentara erguer.
Surge então um elenco de novas personagens centrado na jovem Rey, uma recolectora de detritos de origem misteriosa e estranha ligação à Força, rodeada por Finn, um soldado da Primeira Ordem que, chocado com a violência da sua primeira missão, resolve desertar, Poe Dameron, considerado o melhor piloto da galáxia, e o andróide redondo e ternurento BB-8. Han Solo e Chewbacca também se juntaram à aventura com o primeiro a ter um mau fim às mãos do próprio filho, Kylo Ren, que não conseguiu resistir ao lado negro da Força e parece ser a figura trágica desta nova trilogia.
No Episódio VIII, as reviravoltas sucedem-se, o eremita Luke Skywalker treina Rey no domínio da Força mas também ele acaba por perecer heroicamente, embora a morte tenha um significado menos definitivo para os Jedi. Junta-se ainda à ação Rose Tico, que também chega muito maltratada ao final do filme, e tudo termina com a Resistência feita em estilhaços e com apenas um punhado de combatentes, mas com um lampejo de esperança no retomar da luta.
Como terminará tudo afinal neste Episódio IX, qual é a verdadeira origem de Rey, que destino espera cada uma das outras personagens, nomeadamente o desequilibrado Kylo Ren, e que papel terá em tudo isto o regressado Imperador Palpatine são algumas das respostas a que o novo filme deverá responder. E, claro, como irá ser resolvida a personagem de Leia Organa, que deveria ter um papel central no Episódio IX, que teve de ser reestruturado devido à morte inesperada da atriz que a imortalizou, Carrie Fisher, com o seu papel a ser reconstruído a partir de cenas não utilizadas nos filmes anteriores.
Veja como foi o processo de casting de Rey
Mas como é que isto se tornou um sucesso tão grande?
Cada um apontará as suas razões, mas, como em tudo na vida, é essencial perceber o contexto. Hoje em dia é quase impossível ter a noção do quão radical e diferente era o primeiro “Star Wars” quando estreou em 1977. Não era só na dimensão do espetáculo e dos efeitos visuais, onde marca efetivamente um antes e um depois, mas era essencialmente no conceito: um filme para a família, com bons e maus bem definidos (o bom a vestir de branco e o mau a trajar de negro), e uma dimensão de grande espetacularidade, era tudo aquilo que Hollywood já não fazia há mais de uma década.
Fruto da abertura de mentalidades e da renovação de gerações, o cinema americano dos anos 70 era marcadamente adulto, com o sexo e a violência explícitos na ordem do dia. Entre os grandes êxitos do período contam-se “O Padrinho”, “O Exorcista”, “Tubarão” e “Taxi Driver”, filmes excecionais mas que dificilmente gerariam paixões entre os jovens que então descobriam o cinema. Para esses, nada existia, até porque a própria Disney estava então em decadência, uma década após a morte do fundador e com a entrada em cena da da equipa que renovaria o estúdio a outra década de distância.
Por incrível que hoje pareça, uma criança ou um adolescente que quisesse na altura ir ao cinema, nada teria para a sua idade, a não ser que apanhasse a reposição de algum clássico da Disney. Daí que toda a uma geração se tenha revisto naquele filme: para muitos, “Star Wars” foi a porta de entrada na paixão pelo cinema, que os filmes seguintes só aprofundaram. Não é por acaso que só a primeira trilogia parece despertar paixões assolapadas: na viragem para os anos 80, não havia nada assim no grande ecrã. Quando a segunda trilogia estreou, já à entrada do século XXI, boa parte do cinema americano era herdeiro de “Star Wars” e consequentemente o impacto ficou a uma galáxia de distância.
Claro que Lucas soube alimentar o fenómeno, com a criação de um verdadeiro império de produtos derivados que permitiu viver a série para lá do grande ecrã, algo que até então só os filmes da Disney e de James Bond trabalhavam, e em muito menor escala. E tão inesperada era essa abordagem que a Fox lhe cedera à cabeça a totalidade desses direitos, que considerava irrelevantes, algo impensável nos dias de hoje.
Mas, há que dizê-lo, o sucesso era improvável para todos os envolvidos, até para o próprio Lucas. Os atores queixavam-se que o argumento não fazia sentido e que os diálogos eram incompreensíveis e impossíveis de dizer (Harrison Ford ter-lhe-á dito “George, tu sabes datilografar esta m*rda mas de certeza que não a consegues dizer”), muitos dos efeitos visuais não eram perceptíveis durante a rodagem o que quer dizer que os atores não faziam ideia da dinâmica que o filme iria ter, e o próprio Darth Vader andava aos tombos pelo cenário com a voz fina do ator gigantesco que o encarnava, Dave Prowse, sem a potência vocal que James Earl Jones lhe daria na pós-produção.
De todos os que viram a primeira versão do filme, ainda sem a maioria dos efeitos visuais, só um achou que não seria um fracasso e apostou mesmo que seria um sucesso gigantesco: chamava-se Steven Spielberg e tinha, também ele, um filme de ficção científica prestes a estrear, “Encontros Imediatos do Terceiro Grau”. Lucas e Spielberg apostaram que seria o filme do outro a ser o grande campeão de bilheteira e como tal trocaram 2,5% de lucros da respetiva fita. Spielberg ganhou e ainda hoje recebe 2,5% de lucros de “Star Wars”…
Veja os atores do filme de 1977 de quem nos despedimos na última trilogia.
A família ... de atores
Quem são os atores da narrativa central de Star Wars, que a nova trilogia devolveu ou apresentou ao convívio de todos? Mesmo que já os conheça, de certeza que vai ter uma ou outra surpresa nas linhas que se seguem.
- Mark Hamill – O jovem Luke Skywalker ganhou o papel após o seu amigo Robert Englund (mais tarde imortalizado como… Freddy Krueger) o ter aconselhado a ir ao casting. Toda a sua carreira posterior foi feita à sombra da personagem embora tenha tido grande sucesso como voz de desenhos animados, nomeadamente do Joker nas séries animadas de Batman. Entre a rodagem do primeiro e do segundo filme, o ator teve um grave acidente de viação que lhe deixou cicatrizes no rosto e que ajudou à decisão de arrancar a segunda fita com uma sequência em que ele leva uma patada de uma criatura das neves, para justificar a alteração na cara.
- Harrison Ford – Deixou de vez a carreira de carpinteiro graças ao papel do piloto Han Solo e ao sucesso do filme, que o lançou na estratosfera da popularidade cinematográfica, alavancada com outras personagens tão populares como Indiana Jones, Rick Deckard (de Blade Runner) e Jack Ryan. Durante a rodagem do Episódio VII, a queda de uma porta hidráulica deslocou-lhe o tornozelo 90 graus mas, para espanto generalizado da equipa, a recuperação foi rápida e a rodagem não atrasou. Pior sorte teve o realizador J.J.Abrams que, ao tentar ajudá-lo, lesionou coluna, não disse nada à equipa e usou em segredo um colete para a coluna durante o resto da rodagem.
- Carrie Fisher – Imortalizada como Princesa Leia, tem um paralelo curioso com a sua mãe, Debbie Reynolds: ambas encarnaram aos 19 anos uma personagem central num dos filmes mais míticos de toda a história do cinema, ela em “Star Wars”, a mãe em “Serenata à Chuva”. A sua carreira de atriz nunca teve a mesma popularidade embora tenha conquistado sucesso como escritora e argumentista, por vezes expondo o lado mais negro da sua vida, incluindo a toxicodependência, a desordem bipolar e as relações tensas com os pais (ele, Eddie Fisher, também era uma estrela da canção, que se divorciou da mãe para casar com Elizabeth Taylor num dos grandes escândalos da época). A ligação à sua mãe estendeu-se tragicamente até à morte de ambas: Fisher faleceu tragicamente aos 60 anos de complicações cardíacas e a sua mãe morreu no dia seguinte na sequência de um AVC, provocado ou agravado pelo choque do sucedido.
- Anthony Daniels - É o único ator a participar em todos os sete filmes da saga, no papel do andróide dourado C-3P0. Tem vivido de dar voz e corpo à personagem em todo o tipo de produtos derivados, mesmo que nunca tenha sido particularmente fã de ficção científica. Antes de “Star Wars” o único filme do género que tinha visto no cinema era “2001: Uma Odisseia no Espaço”, e terá ficado tão mal impressionado que saiu da sala ao fim de 10 minutos.
- Kenny Baker – O ator de 1m12cm ganhou fama como o diminuto robô R2-D2 em todos os filmes da saga e, apesar ser lendária a sua parelha no cinema com Anthony Daniels, é sabido que eles se detestam na vida real. Em “O Regresso de Jedi” também deu vida ao Ewok que rouba a “speeder bike” ao soldado do Império. Faleceu em 2016.
- Peter Mayhew – Com 2m21cm, ficou imortalizado na personagem do wookie Chewbacca e confessa que a única coisa que fez para conquistar o papel foi levantar-se quando George Lucas entrou na sala. Nos Episódios VII e VIII, a artoplastia do joelho que lhe dificulta a locomoção obrigou-o a partilhar o papel com o jovem finlandês Joonas Suotamo, de 2m09cm, que assumiu por completo o papel em "Han Solo: Uma História de Star Wars" e neste Episódio IX. Faleceu em abril deste ano.
- Daisy Ridley – É a grande revelação da nova trilogia da saga, não só por ter o papel central de Rey mas por ser o único rosto completamente desconhecido do novo elenco, uma vez que antes tinha apenas surgido de forma breve em algumas curtas-metragens e num punhado de séries televisivas, como "Mr. Selfridges". Catapultada para o papel de estrela, vimo-la de seguida no elenco de imenso prestígio de "Crime no Expresso do Oriente", participou depois numa nova versão da "Ofélia", de William Shakespeare, secundada por Naomi Watts e Clive Owen, e deveremos vê-la em breve em "Chaos Walking", o primeiro episódio de uma nova saga de ficção científica ao lado de Tom Holland, o novo Homem-Aranha.
- John Boyega – O ator britânico tinha dado nas vistas em 2011 com o filme de culto "Attack the Block", que em Portugal foi amaldiçoado com título bizarro de "ETs in da Bairro", mas foi o Episódio VII que o catapultou para a fama. Agora surge um pouco por todo o lado, desde o drama "Detroit", de Kathryn Bigelow, à sequela de "Pacific Rim", estreado em 2018.
- Oscar Isaac – Nascido na Guatemala, Isaac, agora com 40 anos, é um dos mais versáteis e talentosos da sua geração mas, apesar de conhecido dos cinéfilos mas atentos, só atingiu o estrelato que merecia com o sucesso da personagem de Poe Dameron em "O Despertar da Força". O papel de José Ramos-Horta em "Balibo" (2009) chamou a atenção sobre ele, que se tornou mais intensa em 2013 com o papel principal de "A Propósito de Llewyn Davis", dos irmãos Coen, que soube fazer uso do seu talento para a música, de que já dera provas ao fazer parte da banda de ska-punk The Blinking Underdogs. Agora mistura com saber "blockbusters" ("X-Men: Apocalipse") com interpretações muito elogiadas em filmes de prestígio ("Ex-Machina", "Um Ano Muito Violento"). Em 2020, vamos vê-lo num dos papéis principais da muito aguardada nova versão de "Dune", assinada por Denis Villeneuve.
- Adam Driver – A figura trágica de Kylo Ren assenta que nem uma luva a este ator que, apesar de ser a peça central da nova trilogia da maior série de "blockbusters" da história do cinema, se tornou um símbolo do cinema independente americano. Após servir dois anos e oito meses no corpo de Marines norte-americano, em que se alistou na sequência do 11 de Setembro e de que saiu quando fraturou o esterno num acidente de bicicleta, participou em filmes dos irmãos Coen ("A Propósito de Llewyn Davis", com Oscar Isaac), Martin Scorsese ("Silêncio"), Jim Jarmusch ("Paterson"), Steven Spielberg ("Lincoln"), Noah Baumbach ("Enquanto Somos Jovens" e "The Meyerowitz Stories"), Jeff Nichols ("Midnight Special"), Steven Soderbergh ("Sorte à Logan") e Terry Gilliam, no malogrado "O Homem Que Matou Dom Quixote". No início deste ano teve a sua primeira nomeação aos Óscares por "BlackKlansman", de Spike Lee, e é um dos principais favoritos à estatueta de Melhor Ator na atual corrida às estatuetas douradas por "Marriage Story", uma vez mais assinado por Baumbach.
As novas estrelas de “Star Wars”: de onde vieram e para onde vão
O que não pode faltar a “A Ascensão de Skywalker”
Quem vai ver um filme da saga central de “Star Wars” está à espera de determinados elementos icónicos, e no último destes nove capítulos todos eles deverão estar presentes. Entre aquilo que se tornou emblemático conta-se:
O “crawl” de abertura – Todos os filmes da saga abrem com um pequeno texto a subir em perspetiva pelo ecrã, que contextualiza o espectador na ação do filme. Esse elemento homenageia os “serials” de Flash Gordon dos anos 30 e 40, que arrancavam precisamente da mesma maneira. No filme original, o texto era para ter mais de seis parágrafos mas houve um amigo que alertou para o disparate e o reescreveu e reduziu até à sua forma final. Esse amigo era Brian De Palma. Em 2016, "Star Wars: Rogue One", o primeiro dos novos filmes isolados da série central de episódios, marcou a diferença por prescindir do "crawl" de abertura, reservados apenas para os capítulos numerados.
A música – Um dos elementos centrais de qualquer filme da saga “Star Wars” é a mítica banda sonora de John Williams, cujos acordes arrepiam qualquer fã de carteirinha e cotas em dia. O compositor dispensa apresentações: é o segundo artista mais nomeado de sempre aos Óscares (51 nomeações, só atrás de Walt Disney) e compôs a partitura de praticamente todos os filmes de Steven Spielberg (incluindo as de “Tubarão”, “E.T. O Extraterrestre” e Indiana Jones) e outras tantas tão lendárias como as de “Super-Homem”, “Sozinho em Casa” e da saga de Harry Potter.
Os efeitos sonoros – Parece pouco mas não é. Há todo um universo de efeitos que ficaram no ouvido de todos e que vão da deslocação das naves ao barulho dos sabres de luz e dos disparos laser, passando pela respiração de Darth Vader e os sons de R2-D2. O génio por trás da façanha chama-se Ben Burtt e é um dos mais lendários especialistas de efeitos sonoros do cinema, tendo há não muitos anos brilhado a grande altura com o maravilhoso “Wall.E”.
As naves – Ora aqui há todo um manancial de veículos que têm feito as delícias dos fãs e enchido os bolsos dos vendedores de brinquedos. A nave mais célebre da saga é a Millenium Falcon, pilotada pela dupla Han Solo e Chewbacca, ganha ao jogo a Lando Calrissian, que fez delirar os fãs logo no primeiro teaser do novo filme. Do lado dos heróis, o modelo de nave mais popular é o designado X-Wing starfighter, reconhecível pelo formato em X das asas. Do lado dos vilões, o modelo mais célebre é o TIE Fighter, baptizada assim porque Lucas achava que se parecia com uma gravata borboleta. Também célebres são as Star Destroyers, naves gigantescas do Império em forma de adaga, sendo uma delas que surge na mítica abertura do Episódio IV. Sem esquecer a Estrela da Morte, uma estação espacial em formato de planeta, que tem sido o principal elemento a destruir pelos heróis nas fitas mais populares da saga.
Os extraterrestres – São imensos e surgem um pouco por todo o lado. No filme inicial da saga, uma das cenas mais lendárias passava-se num bar onde conviviam sem estranheza as mais diversas raças de alienígenas, a falar os mais incompreensíveis idiomas. Essa interação tem sido central à narrativa e atravessado todos os filmes e restantes derivados. Entre as raças mais populares contam-se os peludos wookies (a que pertence Chewbacca), entre as mais criticadas pelos espetadores estão a dos ursinhos Ewoks e, principalmente, os desajeitados Gungan, que têm em Jar Jar Binks a figura mais duramente criticada da saga. Em "Os Últimos Jedi", entraram em cena os delirantes Porgs, que parecem uma fusão de pinguins com porquinhos-da-índia: estarão de volta no Episódio IX?
Stormtroopers – Os soldados brancos do Império tornaram-se presença central no imaginário da saga e já fazem parte do cenário de qualquer Comic-Con que se preze. Na origem, eram clones do caçador de recompensas Jango Fett, cujo filho se tornou o mercenário Bobba Fett. Os fãs são aos primeiros a sublinhar que, para além dos stormtroopers regulares, há subgrupos mais especializados como os snowtroopers e os scout troopers, com significativas variações na armadura.
Os sabres de luz – Claro que há todo o tipo de pistolas laser nesta saga galáctica, mas a arma mais mítica é o sabre de luz, uma espada de cabo metálico e lâmina luminosa usada pelos Cavaleiros Jedi, que pode variar de formato consoante quem a usa. Simplificando, os heróis usam lâmina azul e os vilões usam lâmina vermelha mas mesmo dentro disto há variações: por exemplo, o de Mace Windu, encarnado pelo sempre elegante Samuel L. Jackson, é púrpura. Mesmo no formato, há algumas diferenças. Por exemplo, no Episódio I, Darth Maul usou um com um cabo central e uma lâmina para cada lado, e no Episódio VII Kylo Ren utiliza uma com pequenas lâminas laterais.
Veja o trailer de "Star Wars: A Ascensão de Skywalker"
As frases lendárias
No universo “Star Wars”, há uma enorme quantidade de frases que qualquer fã sabe dizer de cor. A mais popular, claro, é “May the Force be with you” mas a mais repetida é “I have a bad feeling about this”, utilizada em todos os filmes e na maioria dos produtos derivados. De tal forma a frase se tornou emblemática que o próprio Harrison Ford a usou, como piada, em “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”.
Também é de Ford a frase mais popular da nova geração de episódios, "Chewie, we're home", que apareceu no trailer de "O Despertar da Força" quando Han Solo e Chewbacca se dão a ver pela primeira vez aos espectadores após 30 anos de ausência e que fez derramar muitas lágrimas de alegria pelo planeta fora.
E se não vi os filmes anteriores ou quero revê-los? Por onde começo?
Tendo em conta que os Episódios IV a VI estrearam entre 1977 e 1983 e os Episódios I a III chegaram às salas entre 1999 e 2005, qual a ordem correta para os ver, a da estreia ou a da cronologia da série? A questão não é pacífica e divide os fãs da saga, principalmente quando se entra em linha de conta com espectadores que vão ver os filmes pela primeira vez, e quando se soma ainda o isolado "Rogue One" (RO), estreado em 2016 mas cuja ação antecede a do Episódio IV?
Muitos preferem a ordem da estreia, defendendo que os filmes devem ser vistos pela ordem que foram feitos. Portanto IV-V-VI-I-II-III-VII-RO-VII-HS-IX. Isso permite não só abrir com aqueles que são considerados os melhores filmes como também manter intactas todas as surpresas da saga, nomeadamente a de que Darth Vader é o pai de Luke.
Outros defendem a ordem cronológica da saga, ou seja I-II-III-HS-RO-IV-V-VI-VII-IX, o que permite acompanhar com maior detalhe toda a criação e desenvolvimento do universo tal como George Lucas o teria imaginado.
Mas para lá destas duas, os fãs foram criando uma série de outras, com as justificações mais desaparafusadas. Uma das que fez alguma escola por alturas da estreia do Episódio VII e de RO, é a ordem “Machete”, que defende que a sequência correcta deverá ser IV-V-II-III-VI. Ou seja, começar pelos dois filmes que lançaram a saga originalmente no cinema; no final em aberto de “O Império Contra-Ataca”, após Luke saber que é filho de Vader, ver depois os episódios II e III, que mostram como Anakin se tornou Darth; e fechar com o último episódio, que traz um final feliz à saga. E o Episódio I? É eliminado das contas por ser considerado mau demais e não acrescentar nada de realmente relevante à saga.
E finalmente, a ordem de qualidade dos seis primeiros filmes, do pior ao melhor (e isto não é subjetivo)
Esta também tem sido uma discussão popular entre os fãs, e aqui a coisa era relativamente consensual até à estreia do Episódio VII. O pior é unanimemente o “Episódio I: A Ameaça Fantasma” a que se seguem o “Episódio II: O Ataque dos Clones” e o “Episódio III: A Vingança dos Sith”.
A ordem destes dois é relativamente variável e não gera grande discussão mas o que é praticamente consensual entre os admiradores é que as prequelas assinadas por George Lucas são bastante piores que a trilogia original, apesar da imensa sofisticação dos efeitos visuais. Tornou-se, aliás, célebre a expressão indignada de um fã que afirmou que essas prequelas lhe “violentaram a infância”.
Segue-se, por ordem de qualidade o “Episódio VI: O Regresso de Jedi”, que quase todos consideram o pior da trilogia original, muito por responsabilidades dos fofinhos Ewoks. O segundo melhor da saga é o filme original, o “Episódio IV: A Nova Esperança” e o melhor o “Episódio V: O Império Contra-Ataca”.
A ordem aqui também é discutível uma vez que a fita inicial foi a que deu origem a tudo mas quando se leva em conta apenas o conjunto dos seis e não o contexto de produção, a opinião tende a favorecer a vitória do “Episódio V”.
Em 2015, a estreia do Episódio VII, "O Despertar da Força”, veio dificultar esta discussão embora talvez ainda não haja grande distância para enquadrar de forma segura o seu lugar no top. Apesar de algumas críticas de recuperar em demasia a estrutura do filme inicial, a maioria dos fãs parece tender a colocar o filme muito acima dos Episódios I a III e muitas vezes acima de "O Regresso de Jedi", assentando-o assim na terceira posição do podium.
Com a entrada em cena do isolado "Rogue One", que inverteu a tendência do anterior ao receber algumas críticas por se afastar em demasia da estrutura inicial (comprovando que não se consegue agradar a toda a gente...), a situação complica-se ainda mais. Ainda é cedo para dizer, mas a recepção entusiástica por esta aventura tão diferente e de desfecho tão corajoso já fez com que alguns fãs mais corajosos não hesitem em colocá-lo no topo da tabela.
A situação complicou-se ainda mais com a estreia de "Os Últimos Jedi", recebido de forma muito divisiva, com muitos fãs a elogiarem a coragem de seguir por novos rumos e outros tantos a criticarem o afastamento dos padrões habituais da série. De produção muito conturbada, com a dupla de realizadores Phil Lord e Chris Miller a saírem do projeto a meio da rodagem sendo substituídos atrás das câmaras por Ron Howard, "Han Solo: Uma História de Star Wars" desapontou nas bilheteiras e foi recebido com menos entusiasmo que o habitual, com muitos a criticar o facto de nada trazer de novo à saga embora outros também a elogiar o regresso a um registo inicial de pura aventura.
Só o tempo dirá que espaço ocuparão todos estes novos filmes nas afeições dos admiradores da saga e que impacto terá o novo "A Ascensão de Skywalker" na releitura das fitas anteriores da saga, nomeadamente no mais polémico "Os Últimos Jedi".
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