Em 25 anos, Ted Sarandos foi determinante para a Netflix se transformar de uma empresa de entrega de DVDs pelo correio para o colosso do streaming da atualidade nos filmes e nas séries, e a expandir-se por outras áreas.

Numa entrevista sobre o passado, o presente e o futuro, o presidente executivo falou do Óscar de Melhor Filme que continua a fugir ao estúdio apesar de muito investimento e muitas tentativas nos últimos dez anos.

Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2025
Veja aqui a lista completa de vencedores dos Óscares 2025
Ver artigo

"É-me difícil dizer "A Academia tem algo contra a Netflix?" quando fomos o estúdio mais nomeado nos últimos três anos. Há algo sobre [a Academia] — nomeiam-se os filmes que se respeitam e admiram, e vota-se para Melhor Filme no que se adora. Temos que fazer um filme que as pessoas adorem", resumiu à revista Variety.

A derrota mais recente foi a de "Emília Pérez", de Jacques Audiard, que liderava a corrida com 13 nomeações, um recorde para uma produção não falada em inglês, mas conquistou apenas duas estatuetas na cerimónia de 2 de março: Melhor Atriz Secundária para Zoe Saldaña e Melhor Canção para "El Mar".

Entre as derrotas, destaca-se a da categoria de Melhor Filme Internacional para o brasileiro "Ainda Estou Aqui", onde era o favorito praticamente desde a antestreia mundial no Festival de Cannes em maio, onde recebeu dois prémios.

Especula-se que terá sofrido o impacto de várias controvérsias, como ser um filme cuja ação se passa no México, mas com poucos mexicanos no elenco ou na equipa e filmado em estúdios de Paris. A representação de temas transgénero e da violência dos cartéis de drogas e contra as mulheres também gerou críticas.

Já após o anúncio das nomeações, afirmações antigas que ressurgiram da protagonista Karla Sofia Gascón, de caráter racista e xenófobo, quase fizeram a campanha da Netflix implodir. Numa recente entrevista de balanço, Jacques Audiard comparou a temporada de campanha a uma "guerra aberta".

No entanto, Ted Sarandos mostrou-se frontalmente contra todas as especulações.

"Detesto essa pergunta porque cria todos estes "E se...". Era o favorito, mas nunca foi uma certeza que "Emília Pérez" — com toda a sua inovação e emoção — ganharia o prémio de Melhor Filme. Era um belíssimo filme, uma grande campanha e estou chateado que todos esses 'E se' nos estejam a ser atirados", explicou.

À pergunta previsível se a Netflix passaria a examinar de forma diferente as pessoas com quem trabalha e o que andam a fazer nas redes sociais, Ted Sarandos respondeu que isso se aplica principalmente às notícias e não vai ver o que se anda a escrever no Twitter porque nem sequer está na plataforma (não usou a atual designação X).

No auge da controvérsia após o escândalo com a primeira pessoa abertamente transgénero nomeada numa categoria de interpretação nos Óscares, a relação entre Karla Sofía Gascón e a Netflix foi descrita como sendo de 'alta tensão' após várias entrevistas de justificação dadas à revelia do estúdio, que terá deixado de proporcionar as cortesias habituais oferecidas a alguém nomeado para os Óscares, como transporte e alojamento para participar em eventos.

Mas o estúdio pagou as despesas de deslocação para a grande noite de Hollywood e agora o seu principal responsável defendeu a atriz espanhola.

A resposta foi direta quando questionado se voltaria a trabalhar com ela: "Sim. Tem de se ter alguma graciosidade quando as pessoas cometem erros, e nós temos".