De origens cabo-verdianas, filho da cantora e atriz Ana Firmino e do pintor António N. Firmino, Boss AC é indissociável da origem do hip-hop em Portugal. O editor convidado do SAPO desta semana começou na música no final dos anos oitenta, influenciado pelas cassetes de rap norte-americano que o seu tio lhe enviava. Em 1994 já era dos melhores rappers e o reconhecimento surgiu com a participação na coletânea “Rapública”, que reunia a nata dos rappers nacionais. De todos eles é, ainda hoje, dos poucos que continuam no ativo e a somar êxitos.
A história de AC é paralela à do hip-hop português. “Não se pode falar do rap português sem falar no meu nome e não estamos a falar de gostar ou deixar de gostar, são factos. Passados estes anos todos ainda cá estou, um pouco pela minha persistência e teimosia”, conta-nos.
Durante os anos noventa, muito do que era feito no hip-hop em Portugal seguia o espírito “faz tu mesmo”. O MC que precisava de batidas tinha de começar a produzir e com a falta de editoras alguns DJs e MCs criaram as suas. AC tornou-se produtor e criou a sua produtora, a No Stress, juntamente com Gutto (então dos Black Company). “Eu não sou do tipo de estar parado à espera que as coisas aconteçam, sou mais de fazê-las acontecer e confesso que me dá um gostinho especial quando as coisas correm bem - mas dou a mão a palmatória quando correm mal”, confessa:
14 anos, cinco álbuns
Em 1998, Boss AC lançou o seu primeiro álbum em nome próprio, “Manda Chuva”, gravado nos Estados Unidos, registo que é considerado um clássico para muitos seguidores do hip-hop português.
O seu segundo álbum de originais, de 2002, “Rimar Contra a Maré”, foi inteiramente gravado, produzido e misturado por si. O videoclip do single “Quieres Dinero”, produzido com Gutto, foi nomeado para os African Music Video Awards, na categoria de "Melhores Efeitos Especiais", do canal sul-africano "Channel O".
Em 2005 surge “Ritmo, Amor e Palavra”, que contou com vários convidados de peso: Pos (Plugwon), dos americanos De La Soul, Da Weasel, Sam The Kid, Pedro Ayres Magalhães, entre muitos outros. “R.A.P.” atingiu a notável marca de Disco de Platina, tendo vendido cerca de 40.000 unidades.
“Preto no Branco”foi o quarto álbum de AC, pronto no final de 2008. O disco, que conta novamente com um excelente conjunto de convidados (Mariza, Toni Garrido, Olavo Bilac, Valete, Tó Cruz, entre outros), esteve várias semanas no topo dos discos mais vendidos em Portugal.
No dia 11/11/2011, às 11:11 lançou na sua página oficial do Facebook o single de avanço “Sexta-Feira (Emprego Bom Já)”, que teve excelentes críticas e foi igualmente bem recebido pelo público. O vídeo oficial alcançou as cem mil visualizações em apenas três semanas.
O seu quinto álbum, “AC para os Amigos”, conta novamente com a participação de vários nomes de peso: Deborah Gonçalves, Rui Veloso, Raul Reyes, Gabriel o Pensador e Shout.
AC além dos discos
Boss AC foi o autor do hino de campanha de Cavaco Silva em 1996, compôs música para televisão (“Masterplan” e “Último Beijo”) e cinema (“Zona J” e “Lena”). Participou em trabalhos de alguns dos maiores nomes da música nacional – como Xutos & Pontapés, Santos e Pecadores ou Da Weasel, e fez a primeira parte do concerto de um dos maiores nomes do hip-hop internacional: 50 Cent, em que foi a estrela da noite. Entrou ainda na edição portuguesa do disco de um dos maiores rappers norte-americanos, Akon - o tema “I Wanna Love You”, que na versão americana tinha a presença de Snoop Dogg, contou com a sua participação.
Entrevista e texto @Edson Vital/ Imagem @Gonçalo Sá e Magda Wallmont/ Edição @Magda Wallmont
Boss AC sucede a artistas como Aurea, José Cid, Dead Combo, Sérgio Godinho, Rita Redshoes, Maria João, Clã, Zé Pedro, David Fonseca, Peaches, Lloyd Cole, Manel Cruz, Ana Moura e The Legendary Tigerman como editores do SAPO Música. Vamos continuar a convidar figuras marcantes das mais diversas áreas do panorama musical português e internacional para que tragam o seu conhecimento e as suas opiniões ao site, enriquecendo-o com a sua experiência e visão do mundo da música.
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