"Mission" é integralmente preenchido com obras do compositor italiano Agostino Steffani (1654–1728), praticamente desconhecido até agora: árias, duetos, interlúdios instrumentais e coros. Quase todas as faixas são primeiras gravações a nível mundial. Bartoli é acompanhada pela orquestra suíça “I Barocchisti”, dirigida por Diego Fasolis. Relevantes são também os quatro duetos com outra estrela da música barroca, o contratenor Philippe Jaroussky.

Steffani é uma figura interessante da história europeia, padre, agente diplomático, bispo até a certa altura, espião talvez, compositor admirado certamente, numa época de disputas políticas religiosas e de cruzamento musical entre os estilos italiano, francês e alemão que dominavam o nascimento do grande barroco, ainda antes de Vivaldi, Handel e Bach. Bartoli professa o seu interesse na figura, que defende como génio musical esquecido, elo em falta na história da música europeia, e como em projetos anteriores, empenha-se na sua revelação.

Sim, o esforço de promoção à volta do lançamento é notável e devolve-me às palavras do início sobre estratégias pop na música erudita. Houve concertos com fogo-de-artifício, edições normais, especiais, em DVD, um romance histórico (da amiga Donna Leon), trailers, webisódios e está na estrada uma digressão. Bartoli entrega-se a tudo isto com dedicação e sentido de humor. Basta ver as fotografias promocionais.

Mais notável e relevante que tudo isto, é a música. E esse é o grande trunfo de Cecilia Bartoli e de "Mission", música brilhante, brilhantemente interpretada, efervescente, dançante, sonhadora, envolvendo-nos em cada momento no virtuosismo da voz e da orquestra que a acompanha. Deixem-se de coisas e vão ouvir, este era o rock e o jazz da Europa de então e a energia e inventividade seduzem qualquer um que seja um pouco menos duro de ouvido.

@Luís Soares