No início do milénio, Svein Berge e Torbjørn Brundtland ganharam lugar de destaque entre a vasta oferta musical norueguesa que então começou a despontar fora de portas. Kings of Convenience, Flunk, Sondre Lerche, Xploding Plastix, Slowpho ou Datarock foram outros dos que ajudaram a colocar Oslo, Bergen ou Tromsø (esta a cidade dos Röyksopp) no mapa da pop recente, quase sempre com ligações à folk ou à eletrónica mais contemplativa.

Se alguns foram ficando pelo caminho, a dupla não só deixou um dos discos de estreia mais populares - "Melody A.M." (2001), casa dos singles "Eple", "Remind Me" ou "Poor Leno", cujos videoclips foram apadrinhados pela MTV - como definiu um percurso consistente, vincado por originais ou remisturas ao lado de alguns dos nomes fortes da música de dança dos últimos anos.

"The Inevitable End" parece anunciar agora não o fim do projeto, mas pelo menos o fecho de um ciclo. Os Röyksopp revelaram que este quinto álbum será também o último, embora garantam que vão continuar a editar noutros formatos. A opção acaba por fazer algum sentido quando o registo de longa-duração nem sempre favoreceu especialmente as atmosferas contrastantes do duo, a viajar do downtempo e ambient iniciais aos ritmos mais enérgicos da electropop de "The Understanding" (2005) e "Junior" (2009), passando ainda pelos instrumentais cinemáticos de "Senior" (2010).

"Do It Again", o mini-álbum editado com Robyn em maio deste ano, já sugeria o interesse por outros formatos, mas se aí o contagiante single homónimo eclipsava grande parte do alinhamento, "The Inevitable End" mostra-se mais equilibrado, apesar de até ser dos discos mais longos dos Röyksopp (tanto pelo número de faixas como pela duração da maioria, acima dos cinco minutos).

O sabor a despedida do título tem continuidade em temas quase sempre dominados por uma sensação de fim, perda ou abandono, tanto no ambiente melancólico que percorre o alinhamento como pelas próprias letras - a dupla tem salientado, aliás, que nunca tinha dado tanta atenção às palavras como neste disco.

Mas se os Röyksopp de "The Inevitable End" podem estar mais amargurados do que os de registos anteriores, pelo menos não estão sozinhos. Mais uma vez, apostam em colaborações e continuam a ter pontaria para as companhias. A de Robyn já não é novidade, mas é sempre muito bem-vinda. "Monument [T.I.E. Version]" explica porquê, ao repescar um dos temas de "Do It Again" com uma versão revista e melhorada - e também mais curta e acelerada. A cantora sueca empresta ainda a voz a "Rong", onde a candura instrumental, com sintetizadores e orquestrações, contrasta com a crueza das palavras ("What the fuck is wrong with you?", repete no tom de ressentimento em que se tem especializado) e só é pena que o tema não chegue sequer aos três minutos de duração.

Outro convidado, o mais regular do álbum, Jamie McDermott traz a "The Inevitable End" a postura dolente e vulnerável pela qual se distinguiu ao lado dos The Irrepressibles (para quem os Röyksopp já assinaram uma remistura, por sinal muito aconselhável, do tema "In This Shirt"). Além da pop de câmara da sua banda, o britânico de voz maleável, entre o falsete e o registo grave, dá-se bem com a eletrónica nebulosa do duo norueguês. Habitualmente comparado a Antony Hegarty (Antony and the Johnsons), McDermott também chega a lembrar Jay-Jay Johanson na placidez de "You Know I Have to Go", enquanto que a enigmática "Here She Comes Again" não destoaria no ultimo disco de John Grant. Ainda melhor, o compasso mais dinâmico de "Compulsion" volta a desenhar outra atmosfera tão densa como sedutora, embora menos imediata do que a deliciosa "I Had This Thing", update inspirado da electropop dançável de uns Erasure.

Também apontada para as pistas e também assente em electropop, agora mais fria, "Save Me" reforça a pulsão rítmica e essa energia é acompanhada pela entrega de Susanne Sundfør. O timbre agudo da cantora norueguesa comanda ainda "Running to the Sea", descendente direta de "What Else Is There?", uma das pérolas do catálogo dos Röyksopp, que aí colaboraram com Karin Dreijer Andersson (dos The Knife e Fever Ray). Cristalina e intensa, com um crescendo a resultar numa explosão EDM que o alinhamento parece estar a adiar até aí, mostra a David Guetta, Calvin Harris e outras superestrelas como fazer um single direto capaz de conjugar pop e música de dança sem se sujeitar ao maior denominador comum.

No disco mais variado da dupla de Tromsø cabem ainda os ambientes nada sórdidos, antes sensíveis e ingénuos, de "Sordid Affair" (canção planante com a voz de Ryan James, dos britânicos Man Without Country), o arranque robótico e distorcido de "Skulls" (a remeter para a escola Daft Punk), o apropriado desfecho épico e instrumental de "Coup de Grace" e o epílogo de "Thank You", nota de agradecimentos que regressa ao vocoder do início do alinhamento.

"All that we were, all that we knew, fading away", ouvimos a certa altura de "The Inevitable End". "You know I have to go/ There's nothing more to say", sussurra-nos Jamie McDermott noutro momento. Mas não só os Röyksopp garantem que o seu percurso não vai acabar neste último álbum como há aqui várias pistas interessantes para o início de uma (outra) bela história. E a julgar pela quantidade e diversidade destas propostas (além dos doze temas do alinhamento, há cinco faixas extra na edição especial), a dupla nem deve esperar muito para começar a contá-la...

@Gonçalo Sá