“40.02” e “Madrugada” prometeram voos maiores ao grupo, mas os três anos de turbinas desligadas chegam ao fim com um conjunto de músicas desgarradas e poucos momentos a fazer jus ao seu currículo. Ou, então, estamos só a sentir a falta de passagens que nos firam e sarem, ainda com os vultos de “A Espera é um arame”, “Atiro ao alvo” ou “No jogo da Quimera” a encandear as nossas expectativas.
“Avesso” acusa-se logo como single. Mais robusta do que o resto do álbum e com mensagem mais directa, acaba por destoar, mas por culpa do conjunto: faltam ao álbum mais situações imprevisíveis. A arquitectura tentadora de “Ponto de Fuga” e a gingona “Amarras”, longe de serem grandes monumentos que se tornam históricos, são outros pontos altos que nos livram do desastre.
Videoclip de "Avesso":
Está em causa um estilo musical muito específico, ancorado no minimalismo e numa voz invariavelmente sofrida que não é imune a ligações a Thom Yorke e ao seu “Karma Police”. Mas a cisma no falsete é mais a palavra-de-honra dos peixe : avião do que uma solução útil: com, regra geral, ginástica mais lenta do que nos dois álbuns anteriores, é a própria voz que acaba por comprometer alguns temas, amarrando-os a si e impedindo-lhes outra vida.
A acompanhar os tempos, em quase todas as músicas se nota um maior investimento nos toques electrónicos. Em “Ecos” assentou na perfeição, mas condenou “Espirais” a um labirinto sem saída e sem razão.
“Espirais” são quatro minutos densos, escuros e sem voz. O ponto mais egoísta do álbum acaba por explicar a sua tónica: está demasiado virado para dentro; e aos diamantes discretos de antigamente, seguem-se assuntos tão íntimos e egoístas que se torna difícil absorver grande coisa.
Até nem se pede outro ritmo ou uma metamorfose do peixe que o leve para os outros corais, mas os peixe : avião têm um ingrediente especial e secreto para construir grandes músicas e desta vez quase tudo é insosso.
@Pedro Pereira
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