Videoclip de "Que Haja Festa Não Sei Onde":

A devoção religiosa de Manuel Fúria é conhecida e não haveria melhor pretexto para a destacar do que numa obra sobre as origens portuguesas. Mas “Procuro a Claridade” revela os primeiros inconvenientes: um cantor demasiado fechado em si mesmo e carência de subtilezas, suficiente para nos fazer perder a atenção.

O refrão acessível de “Vá Lá Senhora”, que sustentava praticamente toda a música, deixou Os Golpes perto do pedestal da música portuguesa. Neste álbum, Manuel Fúria investe na mesma fórmula, mas em quase todas as faixas. É certo que consegue deixar versos a marinar no ouvido, mas faltam aqui chavões devidamente fortes para viciar. E fazer sucumbir, regra geral, uma mensagem a dois ou três versos acaba por lhe tirar o fulgor que merecia.

As aceleradas “Que Haja Festa Não Sei Onde” e “Canção Para Casar Contigo” também não escapam à receita, mas são os melhores momentos deste trabalho. Cumprem plenamente a missão pop e são fiéis à realidade dos bailaricos populares e valores conservadores que se ainda se preservam fora das metrópoles. O falsete de Madalena Sassetti acompanhado pelo oboé na “Tempestade” também a tornam digna de registo, principalmente porque a modinha assenta muito bem na orientação do disco e consegue trazer-lhe frescura.

Pelo meio, uma versão acústica de “À Minha Alma” d’Os Velhos, que pouco acrescenta mas também não a prejudica, e um “Jogo do Sapo” que, apesar do nome e dos bons momentos instrumentais, não consegue deixar saudades. O final, com “Os Lírios do Campo”, é uma autêntica ode à natureza, um apelo direto (e hiperbolizado) ao não-pensar e à contemplação, tal e qual Alberto Caeiro. Mas soa sintético.

Manuel Fúria mostra-se, acima de tudo, um homem farto de muita coisa. E nisso, nisso estamos totalmente de acordo. Mas tem mais sucesso a fazer dançar do que a carpir, e nesta fuga da rotina moderna devia oferecer mais do que o marasmo.

@Pedro Pereira