“É o primeiro EP que vou lançar e pensei que a melhor forma de o fazer seria neste evento”, disse à Lusa Mariana Arroja, que reside em Los Angeles.
O evento vai incluir a exibição da curta documental da artista, “A Calçada Portuguesa Conhece-te”, e tem como convidados um guitarrista, um pianista e Pia Salvia, com quem vem desenvolvendo um trabalho que mistura fado e harpa.
“É uma combinação espetacular, porque a harpa é um instrumento muito versátil que consegue trazer tanto a viola como a guitarra portuguesa num só instrumento, e resulta muito bem”, afirmou.
O foco na calçada portuguesa começou quando a artista fez uma canção inspirada nela e foi investigar a sua história.
“Fui em busca dos últimos mestres calceteiros do país e a nossa geração que está a dar continuidade à arte”, referiu. Acabou por fazer um mini-documentário focado nas histórias destes artesãos e a sua opinião em relação ao futuro da arte.
“Nós temos cada vez menos calceteiros e apesar de haver uma escola de calceteiros em Lisboa, eles não têm aprendizes. Era uma arte que passava do pai para filho”, explicou a fadista.
“O que eu noto é que esta arte está a ser continuada noutros países. Macau tem uma presença gigante da calçada portuguesa e há um grande investimento”, continuou. “Em Portugal, sinto que ainda tem que haver mais incentivos para as pessoas aprenderem a arte e darem continuidade”.
Em “A Night in Portugal”, Mariana Arroja vai apresentar os seus originais do EP inaugural e também fados já conhecidos. A sua música inspira-se não só na calçada portuguesa, mas também noutras profissões antigas que estão a desaparecer.
“É um projeto que não só traz portugalidade, mas também tem o intuito de continuar a preservar artes em extinção”, explicou. “Há outras profissões em extinção e que nos caracterizam enquanto população”.
Uma delas é a dos amoladores, precisamente o título de uma das canções originais e que tem um vídeo que vai ser exibido durante a atuação.
Emigrante desde os 18 anos, Mariana Arroja começou a cantar o fado quando vivia na Escócia e encontrou na música a continuidade da sua ligação a Portugal.
“Acho que temos agora uma grande geração de jovens que emigraram e que acabam por se conectar com o nosso país através daquilo que nos caracteriza”, considerou. “E o fado é uma dessas componentes”.
Há também na Califórnia vários artistas lusodescendentes que se dedicam ao fado e o género tem vindo mesmo a atrair fãs que não entendem a língua.
“É um estilo de música que tem uma grande emoção, um grande sentimento e que as pessoas, apesar de não entenderem uma única palavra do que dizemos aqui, sentem a música”, sublinhou Mariana Arroja. “É aquela saudade que mais nenhum estilo de música consegue transmitir. De certa forma, as pessoas começam a apreciar cada vez mais o fado”.
A artista quer continuar a inspirar-se nas artes e na cultura portuguesa a partir de Los Angeles, onde vive. “Gostava de trazer a nossa cultura e dar a conhecer as nossas artes aqui nos Estados Unidos”, reforçou.
O primeiro EP da fadista inclui os fados “Alma Perfumada”, “Amoladores” e “Reencontro”. As letras resultam de uma colaboração com Maria de Fátima Martins, autora de um poema que Mariana Arroja recebeu como presente de aniversário.
“Foi um unir de duas gerações”, disse, referindo que Martins só começou a escrever depois dos 70 anos, já reformada. “Viemos a descobrir juntas que ela tem um dom inacreditável para escrever letras de canções e a partir daí começámos a colaborar e eu comecei a usar alguns dos poemas dela”, contou.
“A Night in Portugal” é um evento organizado pela Vera’s Heartbeat e os bilhetes custam 22,66 dólares online (20,9 euros).
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