“Infinite Roots”, hoje editado pela luso-neerlandesa Gris Gris Records, inclui versões novas, gravadas ao vivo em estúdio, de dez temas incluídos nos cinco álbuns que Freddy Locks editou ao longo dos últimos 20 anos.

“Houve umas que escolhi porque foram as que tiveram mais sucesso, mediático ou de público, outras devido ao ‘feedback’ que tiveram nos concertos, as músicas que as pessoas mais vibravam ao vivo ao longo destes anos, e houve outras que escolhi porque são importantes para mim de alguma maneira”, contou o músico Frederico Oliveira (Freddy Locks) em entrevista à Lusa.

Freddy Locks começou a tocar reggae em 1999, mas foi em 2004 que editou o álbum de estreia a solo. Naquela época teve dificuldade em encontrar músicos em Portugal com quem gravar o álbum, algo que hoje “ainda não é fácil, mas é mais fácil do que em 2004”.

“O reggae para quem ouve parece simples, mas é uma música muito complexa. É estudada em etnomusicologia como música de raiz, como o nosso folclore ou o nosso fado. Há pessoas que podem ser os melhores músicos do mundo, mas quando tentam tocar reggae, não soa a reggae”, referiu o músico.

O primeiro álbum de Freddy Locks foi todo gravado por ele e Asher G., um músico alemão que lhe ensinou “muitos dos truques do reggae”.

“Hoje em dia é mais fácil, foram surgindo mais pessoas e a malta mais nova consegue aprender uns truques, que naquela altura era muito mais difícil descobrir, nuns vídeos no Youtube”, referiu.

Freddy Locks assume que fazer reggae em Portugal não é fácil, visto tratar-se de uma música de nicho, embora tenha beneficiado de um ‘boom’ entre 2008 e 2012.

“Nessa época toquei nos festivais grandes, tinha muitos concertos. A partir daí passou para segundo plano, passou a ter muito pouco espaço. Houve uma altura que sentia alguma frustração: por que é que não havia espaço para o reggae? Até porque cada vez que tocamos as pessoas gostam muito”, recordou.

Desde então teve muitos momentos em que pensou desistir, mas nunca conseguiu “por gostar demasiado, por sentir demasiado”.

“É a minha verdade. A minha música, o meu reggae, acaba por ser a extensão daquilo que é a minha vida, daquilo que eu sou. Só quando morrer é que vou deixar de fazer reggae. É uma coisa espiritual, maior que o tempo e maior que o espaço, e maior que o dinheiro e a aceitação. Sou eu próprio, faz parte de mim”, disse.

Até há pouco tempo, por motivos pessoas e laborais, Freddy Locks tocava apenas em Portugal.

Entretanto, em 2018 deixou o emprego que tinha e decidiu dedicar-se só à música.

“Comecei a ir lá para fora e agora vamos entrar no mercado e o objetivo é dar três voltas ao mundo. Este álbum não é só o comemorar dos 20 anos, mas também é o início de uma nova fase da minha carreira”, contou.

Além de ter deixado o emprego fixo, os filhos cresceram e isso já lhe permite ausentar-se do país para tocar.

“Nos últimos três anos tenho ido tocar cada vez mais lá fora tocar, na zona da Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Países Baixos. Esta compilação não é só para assinalar os 20 anos, mas também é um cartão-de-visita para eu poder entrar no mercado internacional”, disse.

Em julho, tem concertos marcados na Alemanha e na Suíça, e em agosto duas datas em Portugal: dia 30 no Arredas Folk Fest em Barcelos, e dia 31 em Vendas Novas.

“Estou a ir para a Europa Central - onde há muito mercado, muitos concertos, dá para viver do reggae - e para o mundo. Quem quer viver do reggae tem de ir atrás do público. Não pode ficar aqui em Portugal à espera, porque o espaço que há é muito reduzido”, afirmou.

Viver só do reggae é difícil, por isso Freddy Locks tem também um projeto de hip-hop, outro de rock e faz trabalhos de freelancer de várias áreas.

“Do reggae não se vive. Acho que em Portugal não há ninguém que consiga viver”, lamentou.