O álbum foi apresentado no Convento dos Capuchos, em Almada, no distrito de Setúbal, e resulta da investigação que o pianista português dedica há uma década à obra de José Vianna da Motta (1868-1948) e que deu origem a “Viana da Mota: Piano Works” (2018) e ao primeiro volume de “Poemas pianísticos” (2020), distinguido com uma menção honrosa do Prémio Grémio Literário 2020.
Costa Ferreira revela agora mais 12 obras inéditas, escolhidas entre a cerca de meia centena de composições escritas por Vianna da Motta durante a infância e pré-adolescência, “uma grande parte delas perdidas”, explicou o pianista à agência Lusa.
“Continuo a investigar, mas estou um bocado pessimista. Não sei se alguma vez se vai encontrar” o que falta, porque é provável que algumas “tenham sido perdidas em vida ou sejam coisas que ele próprio rasgou”.
Atualmente, o espólio de Vianna da Motta está depositado na Biblioteca Nacional e, aí, o pianista encontrou “uma parte de repertório bastante significativo” deste primeiro período que culmina, que inclui a obra opus 52, “Rondino”, a última escrita antes da partida do compositor para a Alemanha, onde estudou em Berlim, onde iniciou uma nova fase criativa.
Este novo disco reforça o génio precoce de Vianna da Motta: “Tendo em conta a idade que o compositor tinha quando as compôs, as faixas 1, 2 e 12 são absolutamente extraordinárias” e confirmam Vianna da Motta enquanto “uma criança fora do comum”.
“Quanto mais nos debruçamos sobre a música de Vianna da Motta, mais a compreendemos e mais encontramos razões para nos admirarmos, sobretudo se não ignorarmos o facto de que tinha a idade que tinha quando compôs estas obras”, o que permite considerá-lo caso único em Portugal. “Não estou a ver nenhum compositor português que, com esta idade português, compusesse assim”.
Constituído por valsas e marchas, o novo disco inclui ainda obras dramáticas e referências a praias das ilhas de São Tomé, “onde Vianna da Motta nasceu”, mas também ao Jockey Club de Lisboa, que o compositor frequentava. Há ainda uma obra lírica, “Resignação”: “É muito curiosa porque foi composta para ser tocada apenas com a mão esquerda”.
Porque assume estar ainda a surpreender-se a cada descoberta sobre Vianna da Motta, João Costa Ferreira admite editar no futuro um terceiro volume de “Poemas pianísticos”: “É possível e é o meu desejo”, porque, desta fase inicial, “ainda há pelo menos três grandes obras a solo, dedicadas aos reis D. Fernando II, D. Luís I, e muita música de câmara”.
Entre esse espólio por gravar está, por exemplo, uma peça para seis mãos, “uma festa, com três pessoas ao piano”, ou uma sonata para piano e flauta.
Para acompanhar cada uma das músicas, João Costa Ferreira voltou, tal como no primeiro volume, a convidar a Mariana, a miserável para criar ilustrações. A artista imaginou um desenho original para cada uma das composições, ilustrando a capa do álbum com a evocação da partida de Vianna da Motta de Portugal para a Alemanha.
“Poemas pianísticos - Volume II” também será apresentado em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian no dia 30 de outubro, às 18h30, e nos dias 31 de outubro e 1 de novembro no Conservatório de Música e Dança de Vila do Conde, no distrito do Porto, no âmbito do Encontro Nacional da Associação Europeia de Professores de Piano.
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