David Ferreira, que trabalhou com nomes como Camané e Mariza, divide o ensaio em oito partes, da origem, no "Século XIX", a “O Fado hoje”, e escolheu 20 fadistas, de Alfredo Marceneiro a Carminho, passando por Amália Rodrigues, João Ferreira-Rosa, Mísia, Ricardo Ribeiro e Gisela João, para a coletânea.
Na primeira parte do ensaio, David Ferreira afirma que houve um “primeiro fado, descrito como uma dança”. “O corpo cede lugar à palavra” e o género deixa de ser dançado, escreve o estudioso. É neste contexto oitocentista que surgem figuras como Maria Severa, que afirma ter nascido na Mouraria, e identifica os três fados seminais: Corrido, Menor e Mouraria.
O segundo capítulo é dedicado à guitarra portuguesa, que o Rei D. Carlos aprendeu a tocar, e no qual cita Armandinho, Raul Nery e José Fontes Rocha, seguindo-se um intitulado “Uma evolução constante", afirmando que esta foi “profundamente dinâmica”, e situa-a entre finais do século XIX e as primeiras décadas do XX. A terceira parte é sobre “O Fado operário e a censura do Estado Novo”, o regime ditatorial imposto pela Constituição de 1933, depois do golpe militar de 1926, que se preocupa em "normalizá-lo", escreve David Ferreira.
A quarta parte intitula-se “O Teatro e os novos tempos”, na qual aborda a presença do género musical, não só nos palcos como na rádio e no cinema. Na sua opinião, “o teatro consolida a mitologia fadista”. Refira-se que o primeiro filme sonoro português data de 1931, e é sobre a vida de Maria Severa, numa realização de Leitão de Barros.
“Os escritores das canções”, quinto tema abordado por David Ferreira, refere-se a escritores como José Carlos Ary dos Santos e compositores como Alain Oulman, Pedro Rodrigues, Miguel Ramos, Armando Machado e Jaime Santos.
Sobre os “chamados letristas populares”, afirma o autor que há “inspirados poetas” e cita, entre outros, Linhares Barbosa, Silva Tavares, Carlos Conde, Júlio de Sousa, Frederico de Brito e Gabriel de Oliveira.
A penúltima parte é dedicada aos “Mestres” e cita, entre outros, Alfredo Marceneiro, Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Lucília do Carmo, João Ferreira-Rosa e Carlos Ramos, todos representados no CD, e também Manuel de Almeida, Fernando Maurício, Fernanda Maria, Beatriz da Conceição e Max.
O texto encerra com uma reflexão/guia sobre “O Fado hoje”, em que nomeia Paulo Bragança, Mísia e os “não fadistas”, como o grupo Madredeus, liderado por Pedro Ayres Magalhães, e a cantora Dulce Pontes. O autor lista um conjunto de novos intérpretes como Ana Moura, Katia Guerreiro, Ana Sofia Varela, Cuca Roseta, Marco Rodrigues e António Zambujo.
Entre os fados escolhidos para contar esta História do Fado, o estudioso escolheu, entre outros, “Ai meu amor se bastasse”, por Aldina Duarte, “Não é desgraça ser pobre”, por Cristina Branco, “Pode lá ser”, por Mafalda Arnauth, “A casa fechada”, por António Zambujo, “Os búzios”, por Ana Moura, e ainda “Pontas soltas”, por Carlos do Carmo, “Há festa na Mouraria”, por Marceneiro, “Saudade das saudades”, por Teresa de Noronha, e “Gaivota”, por Amália.
A capa do CD, que conta com o apoio do Museu do Fado e do Instituto Camões, reproduz o óleo “O Fado”, de José Malhoa, de 1910, quadro na época recebido com alguma crítica e que retrata duas personagens conhecidas do mundo marginal coevo lisboeta, Amâncio e a sua amante Adelaide da Facada. Para o pintar Malhoa usou de várias influências no Governo Civil de Lisboa para libertar Amâncio, sempre envolvido em desacatos, que ia detido, frequentemente.
David Ferreira está atualmente a coordenar o curso “Histórias das Músicas Ligeiras. Das invenções dos senhores Edison e Cros (1877) até ao ‘Chico Fininho’ (1980)”, no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa.
@Lusa
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