Azagaia era o nome artístico de Edson da Luz, autor de letras de intervenção que lhe valeram, entre outros, o título de "rapper do povo".
“Estou extremamente chocada. Sem dúvida que a música e a cultura moçambicana estão de luto. O mundo perdeu um rapper único“, disse à Lusa a ministra da Cultura moçambicana, Eldevina Materula, em reação à notícia avançada pela Televisão de Moçambique (TVM).
O rapper brasileiro Gabriel Pensador lamentou através das redes sociais a morte do moçambicano. “Nosso irmão Azagaia, ícone do rap lusófono, nos deixou hoje muito cedo, aos 38 anos, em sua casa em Moçambique”, escreveu Gabriel Pensador, na quinta-feira, no Facebook.
“Grande perda pra nossa música e cultura hip hop. Seu legado é eterno, mano, descanse em paz. Obrigado por tudo”, acrescentou.
Azagaia ficou célebre pela crítica aberta à governação do país, de tal forma que em 2008 chegou a ser questionado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Três dias depois de violentas manifestações que paralisaram a capital, Maputo, devido a aumentos de preços, lançou o tema "O povo no poder".
“Perguntaram-me se a música não pode incitar as pessoas à violência", disse à Lusa, depois de ouvido na PGR, onde respondeu que “não”, porque “uma obra artística é suscetível de interpretação”.
"Já não caímos na velha história/ Saímos p'ra combater a escória/ Ladrões/ Corruptos/ Gritem comigo p´ra essa gente ir embora/ Gritem comigo pois o povo já não chora", debitava Azagaia ao microfone.
As rimas não passavam na rádio e televisão públicas e os deputados da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder desde a independência, apontavam-no como intérprete da oposição.
Em 2014, suscitou polémica ao surgir num programa de televisão a enrolar um cigarro com ‘cannabis’, justificando-o com fins terapêuticos e depois de já ter sido detido pela polícia por duas ocasiões.
Poucos meses depois do escândalo, anunciava na Internet o fim da carreira.
“Acho que vou dar aquilo que me pode custar a vida e impedir de ver os meus filhos crescerem”, referiu, sem esclarecer o que o ameaçava, e dizendo que já estava tudo dito nos dois álbuns “Babalaze” e “Cubaliwa”.
Mudou-se para a Namaacha, terra natal, 75 quilómetros a sul de Maputo: “Se for para eu morrer, prefiro que seja lá", rematava o rapper, filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana.
Ainda em 2014, anunciou que padecia de um tumor cerebral e foi criada uma campanha de angariação de fundos que juntou 20.300 euros para lhe custear uma cirurgia na Índia.
A campanha juntou contribuições de fãs em Moçambique, África do Sul e Angola.
Edson da Luz voltou ao palco ano e meio depois, num concerto numa discoteca de Maputo em abril de 2016, mas desde então permaneceu numa posição muito mais discreta no panorama artístico moçambicano.
Entre outros títulos, os fãs chamavam-lhe “o rapper do povo” e muitos identificavam-no como autor do tema "As Mentiras da Verdade".
A faixa surgiu do seu álbum “Babalaze” (que significa "ressaca" na língua changana) uma adaptação da obra poética “Babalaze das Hienas” do defunto poeta moçambicano José Craveirinha.
“E se eu te dissesse/ Que a oposição neste país não tem esperança/ Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança/ Mas e se eu te dissesse/ Que a oposição e o governo não se diferem/ Comem todos no mesmo prato/ E tudo está como eles querem”, reza a letra de um dos temas icónicos de Azagaia.
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