A história dos Coldplay com Portugal começou a ser escrita a 13 de agosto de 2000, quando se estrearam no Festival Paredes de Coura, pouco mais de um mês depois de terem editado o primeiro álbum “Parachutes”. Se no Reino Unido a banda de Chris Martin já fazia bater corações no início do milénio, por cá era diferente: "Não sabemos se alguém já ouviu falar de nós aqui”, perguntou o vocalista no festival.
22 anos depois, a história é bem diferente e a pergunta é quase invertida: quem é que nunca ouviu falar dos Coldplay? Nos últimos meses, fãs (e não fãs) ouviram falar da banda e dos muito aguardados concertos em Coimbra. Depois do festival Paredes de Coura (2000), os britânico regressaram a Portugal em 2003 (festival Super Bock Super Rock, no Pavilhão Atlântico/ Altice Arena, em Lisboa), 2005 (MTV Europe Music Awards e concerto no Pavilhão Atlântico, em Lisboa), 2011 (NOS Alive, em Oeiras) e 2012 (Estádio do Dragão, no Porto) e, concerto após concerto, foram somando fãs e elogios. Mas nada equiparável à euforia vivida por estes dias.
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A histeria geral começou no dia do anúncio e ganhou eco quando os bilhetes foram colocados à venda. Durante a manhã de 25 de agosto, à medida que foram esgotando, foram anunciados novos concertos dos Coldplay no Estádio Cidade de Coimbra. No total, a banda britânica vai dar quatro espetáculos em Portugal (17, 18, 20 e 21 de maio de 2023 - no dia 19, o grupo faz um 'intervalo') e será recebida por mais de 220 mil pessoas. Mas muitas mais ficaram em fila de espera.
Além do recorde nos níveis de procura, quando os britânicos disseram “até já, Portugal”, vão levar consigo um novo marco histórico, o de maior audiência de sempre para uma banda/artista em Portugal (até agora, o recorde pertencia Ed Sheeran que, em 2019, juntou 120 mil pessoas em dois concertos no Estádio da Luz, em Lisboa).
Os números provam a dimensão, mas são só uma pequena parte da história. Esta quarta-feira, dia 17 de maio, a banda deu o primeiro de quatro concertos no Estádio Cidade de Coimbra. E talvez a palavra concerto seja redutora para descrever a noite: o que os Coldplay oferecem aos seus fãs é uma experiência coletiva, que toca em todas as emoções e sentidos. Há pele arrepiada, sorrisos, lágrimas, abraços, beijos e muito mais.
As mais de 55 mil pessoas que encheram o Estádio Cidade de Coimbra já sabiam, mais ou menos, o que iria a acontecer - são milhares os vídeos dos concertos da digressão “Music of the Spheres World Tour” que se tornaram virais e que cativaram os fãs, alimentando a ideia de FOMO (fear of missing out - medo de ficar de fora).
Depois de Bárbara Bandeira e Griff aquecerem o público durante a tarde, pouco depois do pôr do sol, foi a vez de Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion subirem a palco e darem início a uma noite de música, cor, luz e sonhos.
Aos primeiros acordes, o público respondeu com total energia: "Higher Power" foi o tema escolhido para o pontapé de saída do concerto. Com as milhares de pulseiras a criarem um manto de cor, as vozes do fãs fizeram-se ouvir a uma só voz e com considerável eco. Os arrepios foram imediatos e era só o início de uma noite de sonho (para fãs e banda).
Se “Higher Power” foi uma explosão de energia, “Adventure of a Lifetime” e “Paradise” multiplicaram as ondas e a euforia. Com as pulseiras luminosas sincronizadas, fogo de artifício e jogos de luz, o ambiente envolvente abraçou todos e cada um e ninguém se sentiu fora da festa.
Depois de toda a adrenalina, o primeiro momento para respirar e viver novas emoções: à quarta canção, Chris Martin e companhia atiraram a popular "The Scientist”. Ao piano, o vocalista contou com um coro de 55 mil vozes (muitas delas embargadas pelas lágrimas).
Depois de ser recebido com toda a energia pelos fãs, Chris Martin deu as boas noites e, em português, agradeceu o “esforço de todos” que viajaram até ao Estádio Cidade de Coimbra (“apesar do trânsito e dos problemas”). "O meu português não é o melhor, mas vou tentar. Estamos muito agradecidos”, confessou, seguindo viagem para “Viva la Vida”, um dos maiores sucessos da carreira da banda - e ninguém poupou a voz para cantar todos os versos do tema.
No alinhamento seguiu-se "Hymn for the Weekend" e, mais uma vez, o público abraçou a canção, que terminou com uma colorida chuva de confetes.
Ao contrário do que aconteceu nos concertos no Brasil, os Coldplay não convidaram um artista português para subir a palco. Mas Chris Martin decidiu realizar um sonho ao jovem Lourenço que, num cartaz, pedia para tocar “Hardest Part”. "Podes, com certeza”, respondeu o vocalista e o fã brilhou perante mais de 55 de mil pessoas.
"Obrigado, meu irmão”, agradeceu o músico, colocando a bandeira portuguesa às costas.
"Vocês são um público perfeito e fazem-nos sentir incríveis"
Já "In My Place" abriu caminho para "Yellow", com o estádio a pintar-se de amarelo. "Esta é a nossa melhor experiência em Portugal até hoje. Vocês são um público perfeito e fazem-nos sentir incríveis", frisou o vocalista, mais uma vez em português.
Sem tempo para pausas e numa montanha russa de emoções, a banda apostou em “Human Heart” e "People of the Pride", com Chris Martin a abraçar uma bandeira LGBTQ+, no Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.
Com um alinhamento certeiro e sem perdas de ritmo, seguiu-se “Clocks” e mais um grande momento de comunhão total entre a banda e os fãs. Logo depois, os níveis de energia voltaram a subir com “Something Just Like This”, colaboração com os The Chainsmokers.
Com luzes e cor, os Coldplay serviram “My Universe”, que serviu quase como pausa para respirar. E bem que público precisaria de todas as forças para o que viria a seguir (talvez o momento mais celebrado da noite). Depois de atirar o primeiro minuto de “A Sky Full of Stars”, Chris Martin interrompeu a canção e pediu que todos guardassem os telemóveis. O público não hesitou e a atmosfera no estádio transformou-se - os fãs podem não ter vídeos do momento, mas as memórias prevalecem.
Já na reta final do concerto, a banda caminhou pelo meio da multidão para um pequeno palco secundário na ponta do estádio, onde recordou “Sparks” e “Don’t Panic”. "Tocámos esta na primeira vez que viemos a Portugal, em 2000”, lembrou o vocalista.
Depois da viagem ao passado, uma surpresa: com uma guitarra acústica, Chris Martin cantou “Balada da Despedida" (“... Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”) e o público juntou-se num dos momentos mais emotivos da noite.
Para a despedida, os Coldplay regressaram ao palco principal e soltaram mais foguetes em “Humankind”. Seguiu-se “Fix You”, que ficou bem guardadinha para o final apoteótico, e “Biyutiful”.
Durante mais de duas horas, os Coldplay provaram porque é que enchem estádios em todo o mundo. Em Portugal serão quatro, mas muitos mais gostariam de viver esta experiência - e todas as palavras serão sempre poucas para descrever o que se viveu na noite desta quarta-feira, dia 17 de maio, em Coimbra.
ALINHAMENTO:
Viva la Vida
Hymn for the Weekend
The Hardest Part
In My Place
Yellow
Human Heart
People of the Pride
Clocks
Infinity Sign
Something Just Like This
Midnight
My Universe
A Sky Full of Stars
Sunrise
Sparks
Don't Panic
Balada da despedida
Humankind
Fix You
Biutyful
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