Sem as capas de vinil a ocultar os rostos, como sugere a capa do álbum, o quinteto formado por Sam the Kid, Fred (baterista dos Buraka Som Sistema), João Gomes (teclista dos Cool Hipnoise), Francisco Rebelo (baixista) e DJ Cruzfader levou o público do São Jorge ao rubro. E nem foi preciso dizer uma única palavra.

Porém, as palavras provaram não ser necessárias para quase 90 minutos de concerto. Estavam todas nos ‘samples’ que várias músicas contêm, alinhando de forma inteligente a actuação num crescendo de intensidade. Palavras que nasceram a partir de 2008 da livre vontade de experimentar e da memória musical de cada membro.

“A Memória” foi, por isso, o primeiro passo do concerto. Num cenário minimalista, sem outro aparato visual que não fossem os jogos de luzes e cinco músicos em palco, foi criado um ambiente mais intimista, quase pessoal, num ‘segredo’ guardado apenas por algumas centenas de pessoas.

A atmosfera começou a ser desfeita ao terceiro capítulo, com “Lord” a agitar as águas. Era o primeiro sinal, que ganhou força e dimensão com os vários medleys misturados por DJ Cruzfader e acompanhados pelos restantes elementos, onde houve direito a revisitações de Deee-Lite, MC Hammer ou até Beyoncé e Jay-Z. “Para criar caminhos de música alternativa”, como dizia uma das vozes num ‘sample’, em jeito de lema do grupo.

Sem perder muito das misturas e do alinhamento do álbum na transição para o palco, os Orelha Negra pareciam escutar a vontade dos fãs. Depois da força de “961696169” e da serenidade de “M.I.R.I.A.M.”, dois dos pontos altos da actuação, chegava a hora de bênção dada por “Blessed” antes do clímax que foi “A Cura”.

Sem conseguir ficar indiferente ao ritmo de fusão funk-soul-groove dos instrumentos, o público libertou-se das amarras das cadeiras e tornou o São Jorge numa ‘pista’ de dança. O filme que ali passava era agora uma festa e todos estavam convidados.

O encore contou ainda com “Saudade”, introduzida pela voz inconfundível de Júlio Isidro em tempos idos, e “We’re Superfly”, verdadeiro hino ao ‘groove’ e que os nomeava ali como ‘cool’. E as centenas de pessoas que lotaram a sala não podiam estar mais de acordo.

Texto @João Paulo Godinho

Fotos @David Oliveira

A banda fala do disco ao SAPO Música: