Pânico no palco: 10 memórias de episódios atribulados

Às vezes, a música é o elemento menos memorável de um concerto. Foi isso que nos lembraram atuações bem recentes de Justin Bieber, que vomitou em palco, ou dos Green Day, com Billie Joe Armstrong a destruir uma guitarra e a insurgir-se contra a organização, o público e... Justin Bieber. Como situações destas estão longe de ser caso único, recordamos outras 10 (muitas decorridas em palcos nacionais) que quem presenciou dificilmente terá esquecido. The Doors no Dinner Key Auditorium, em Miami, a 1 de março de 1969 É um dos episódios de palco mais inusitados e memoráveis da história do rock e ajudou a sedimentar o estatuto icónico de Jim Morrison. Sob o efeito de LSD, o vocalista dos Doors (na foto abaixo) liderou um concerto atribulado, com vários atrasos, onde se destacou pelos enganos nas letras das canções, insultos ao público e simulações de sexo oral ou masturbação. O episódio mais polémico deu-se, contudo, quando Morrison mostrou o pénis a 12 mil pessoas... ou será que não o fez? A banda sempre defendeu que não passou da ameaça, mas muitos espectadores garantiram que o cantor a concretizou. Certo é que Morrison não se livrou de ser acusado pelo FBI de profanidade, linguagem obscena, masturbação simulada, sexo oral simulado, nudez e embriaguez pública... Mão Morta no Rock Rendez-Vous, em Lisboa, a 2 de junho de 1989 O concerto da banda bracarense na mítica sala lisboeta, durante os seus primeiros anos, foi da euforia ao pânico quando Adolfo Luxúria Canibal auto-infligiu vários cortes na perna enquanto cantava "Bófia". E o sangue da letra da canção tornou-se tão real que foi necessário um garrote para o estancar - situação que despertou desmaios no público e a ida do vocalista para as urgências no fim do concerto. "O ambiente na sala estava pesadíssimo, havia necessidade de aplacar um bocado as coisas e eu pensei que o sangue poderia acalmá-los... o sangue assusta. Afinal o sangue acabou por ser demais, e aí é que eu vi que tinha feito asneira", contou o vocalista ao Académico, em 1993, ao recordar um imprevisto marcante na história dos Mão Morta. Guns N' Roses no Riverport Amphitheater, arredores de St. Louis, a 2 de julho de 1991 Axl Rose, inimitável como poucos, poderia facilmente protagonizar todos os destaques desta lista. Afinal, não são assim tão poucos os episódios de palco nada amenos que a voz dos Guns N' Roses foi colecionando ao longo dos anos. Mas como só podíamos escolher um, optámos por aquele em que o cantor saltou do palco para agredir um fã que insistia em filmar o concerto (outros tempos...). Quando voltou para junto da banda, o vocalista partiu o microfone, criticou os seguranças e terminou ali mesmo o concerto. Alguém falou em mau feitio? Lamb no festival Paredes de Coura, a 14 de agosto de 1999 1999 foi o ano da edição de "Fear of Fours", o segundo álbum dos Lamb e mais um passo para o alargamento do culto em torno da dupla britânica em Portugal. O concerto em Paredes de Coura era, por isso, um dos mais esperados do festival, e correu tão bem que houve quem não quisesse que acabasse... muitos espectadores, sim, mas também a própria banda, cujo entusiasmo a levou a permanecer em palco mesmo quando já deveria dar lugar à seguinte (os Suede). Foi o suficiente para que surgissem desentendimentos (e agressões) entre Andy Barlow, a metade masculina do duo, e os seguranças que o obrigaram a deixar o palco. O episódio não deixou grandes estragos, felizmente, mas ainda é daqueles que, volta e meia, regressa à conversa quando o tema são recordações (insólitas q.b.) de festivais nacionais. Kaiser Chiefs no festival Paredes de Coura, a 16 de agosto de 2005 Ricky Wilson é quase sempre imparável em palco e, por isso, um concerto dos Kaiser Chiefs que não conte com uma das suas surpresas mais ou menos improvisadas (como andar de slide ou correr até à banca da cerveja) arrisca-se a ficar abaixo das expetativas. Ainda assim, a atuação dos britânicos no festival Paredes de Coura ficou na memória por surpreender o próprio vocalista, que interrompeu a terceira canção quando partiu uma perna depois de um salto mal calculado. Mas Ricky não demorou muito a contornar a adversidade: poucos minutos depois, regressou a palco - menos imparável, é certo - e, com a ajuda de uma muleta, deu continuidade a um concerto que terá engordado a lista de fãs do grupo.    Amy Winehouse no Rock in Rio Lisboa, a 30 de maio de 2008 "Será que ela vem?" impôs-se como a pergunta dominante por alturas da edição de 2008 do Rock in Rio Lisboa. A resposta foi positiva, Amy Winehouse efetivamente veio à Cidade do Rock, e protagonizou o concerto de que mais se falou. Mas não pelos melhores motivos, uma vez que a cantora britânica se apresentou embriagada, cambaleou, chorou, enganou-se em vários momentos e teve uma prestação vocal muito abaixo do esperado, acabando por assumir que deveria ter cancelado o espectáculo. A banda, impecável e coesa, conseguiu apoiá-la o suficiente para que, mesmo com alterações de alinhamento, o concerto tenha decorrido. E foi daqueles únicos e irrepetíveis, para o melhor e (sobretudo) para o pior... The Legendary Tigerman no Sudoeste TMN, na Zambujeira do Mar, a 7 de agosto de 2009 A atitude assertiva de Paulo Furtado não será novidade para os seus admiradores, mas até estes terão ficado surpreendidos quando o músico deu por terminado o concerto no Sudoeste TMN de 2009 logo depois da primeira canção. "Ou baixam a puta da música ou vou-me embora", avisou The Legendary Tigerman, queixando-se do ruído do espaço Groovebox audível no palco do Planeta Sudoeste, onde atuava. Mas o alerta não serviu de muito e Furtado cumpriu mesmo o que prometeu, regressando apenas para se despedir do público. Kanye West nos MTV Video Music Awards, em Nova Iorque, a 29 de setembro de 2009 Não decorreu durante um concerto, mas marcou os prémios MTV dos últimos anos como nenhuma atuação conseguiu. Durante o discurso de Taylor Swift, que agradecia o prémio de Melhor Vídeo de uma Artista Feminina, Kanye West subiu ao palco, retirou o microfone das mãos da cantora e defendeu que Beyoncé é que merecia ter ganho. Recebendo apupos do público como resposta, o rapper acabaria, mais tarde, por pedir desculpa aos fãs de Taylor Swift e à própria, o que não fez esquecer um dos vários momentos em que o seu ego se destacou mais do que a sua música:<

Diabo na Cruz no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, a 2 de outubro de 2010
O corte abrupto do som, por parte da organização do arraial do Instituto Superior Técnico (aparentemente devido à hora já tardia), despoletou um final de concerto abrupto e tumultuoso, com os Diabo na Cruz a atirarem vários objetos do palco, incluindo o suporte do microfone, e a baixarem as calças em sinal de protesto. O público, apesar disso (ou talvez por isso mesmo), reagiu com euforia a uma cena que seria revista na internet, de forma viral, nos dias seguintes, já que não escapou à câmara de um fã (e felizmente para ele, Axl Rose não estava no palco).

Lana Del Rey no Saturday Night Live, a 16 de janeiro de 2012
Há poucos artistas recentes que tenham despertado opiniões tão polarizadas como Lana Del Rey. Mas a atuação da cantora de "Video Games" no Saturday Night Live obrigou grande parte dos admiradores a concordar com os detratores, já que a performance, insegura, apagada e desafinada, esteve longe do carisma que alguns esperavam. Não falta quem a aponte como a pior atuação de sempre do programa televisivo, como o atestam comentários disparados por gente como Juliette Lewis ou Eliza Dushku, entre outras celebridades. Daniel Radcliffe foi dos poucos que a defendeu, mas precisaria de vários feitiços para convencer as vozes mais críticas...

Texto @Gonçalo Sá / Fotos Green Day e Amy Winehouse @AFP