A 15 de junho, dia em que a justiça encerrou a sua liberdade condicional, Hinckley soube que os organizadores de um concerto que ele faria em Brooklyn haviam retirado o seu nome da programação por questões de segurança, depois de "ameaças reais e preocupantes".
"Foi uma deceção terrível", diz Hinckley, de 67 anos, que já havia passado pela mesma situação em outras cidades como Chicago, Virgínia ou Connecticut.
Numa conversa com a AFP em Williamsburg, Virgínia, onde divide um apartamento com o seu gato Theo, Hinckley diz que é um novo homem que gostaria de partilhar sua a música com um mundo que o considerava "violento e instável".
"Conhecem-me através de toda a negatividade que se afastou de mim ao longo de 41 anos. Agora sou uma pessoa diferente", diz.
A 30 de março de 1981, Hinckley atirou em Reagan e outras três pessoas em Washington. Todos sobreviveram, mas o então secretário de imprensa do presidente, James Brady, ficou paraplégico.
Hinckley alegou que atirou para chamar a atenção da atriz Jodie Foster, por quem era obcecado desde que a viu em "Taxi Driver", de Martin Scorsese.
Ele foi absolvido da tentativa de magnicídio, mas acabou por ser internado no Hospital St. Elizabeth, em Washington, onde passou mais de três décadas.
A sua imagem pública ficou ligada ao que aconteceu em 1981. Stephen Sondheim escreveu uma personagem baseada nele para o musical "Assassins" e a banda Devo transformou um dos seus poemas numa canção.
Em setembro de 2016, recebeu alta do hospital e foi morar com a mãe, agora falecida, em Williamsburg.
Todos os seus movimentos, dispositivos eletrónicos e atividades na internet eram limitados e monitorizados.
No verão passado, ficou livre dessa vigilância e passou a dedicar-se a pintar, compor música e fazer upload das suas atuações na internet.
No Twitter, tem mais de 50000 seguidores, e no Spotify, mais de 5000 downloads mensais.
Mas o músico autodidata, que costumava dar concertos no hospital, quer ter um contacto mais próximo com o seu público.
"Quero que se sintam melhor quando o concerto terminar do que quando entraram", diz Hinckley. "Há pessoas que me escrevem para dizer 'ouvi sua música e isso ajuda-me a passar o dia'".
"Sinto muito"
Durante anos, a Fundação Reagan opôs-se à libertação de Hinckley e especialmente às suas tentativas de "tirar proveito de sua infâmia".
Hinckley garante que tentou desculpar-se com a referida Fundação em várias ocasiões.
"Sinto muito pelo que fiz. Não sou a pessoa que era naquela altura", quando era "totalmente alienado, deprimido e instável", diz.
Neste ponto, a barreira para as suas ambições musicais parece ser uma questão ética.
"Não é fácil ver porque é que alguém como John Hinckley seria tratado de forma diferente de outras pessoas", comenta Paul Appelbaum, professor de psiquiatria da Universidade de Columbia.
As letras das suas canções de rock acústico com toques de folk não deixam espaço para qualquer ambiguidade.
"A liberdade está ao meu lado / toda a gente conhece a minha história", diz numa das suas letras. "O verdadeiro arrependimento é real/ Tem sido o que sinto", canta ainda.
Enquanto mantém a esperança de cantar ao vivo, Hinckley gravou um álbum de vinil com a Asbestos Records, uma editora de ska e punk, com lançamento previsto para este ano.
Hinckley afirma que tem milhares de canções, com influências que vão de Bob Dylan a Neil Young ou Beatles.
Além de comemorar a crescente pesquisa em saúde mental e tratamento, também pede o controlo de armas no país.
"Há armas demais nos Estados Unidos" e "os crimes e a violência devem-se a elas", conclui.
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