Os MGMT tinham tudo para ser felizes. Em 2008 lançaram “Oracular Spectacular”, disco pop com um travo a morangos psicadélicos que incluía pérolas como “Kids” ou “Time to Pretend”. O disco valeu-lhes a vénia do público e da crítica, e nomeações como o 18º disco da década (Rolling Stone) ou a rodela sonora de 2008 (NME). Chegado o ano de 2010, a banda lançou “Congratulations”, disco que dividiu os fãs e ao qual a maior parte da crítica colou o rótulo de “suicídio musical”. Afinal, a pop psicadélica que convidava ao abanar de anca dava lugar ao rock cósmico, num disco que parecia negar a aparição de singles que pudesse ser tocados em rádios ou figurar em genéricos de programas televisivos. O desvio criativo fez a balança tremer, incerta sobre escolher entre a coragem e a cobardia. Afinal, que caminho vão os MGMT trilhar em 2011? Certamente uma questão que passava pela cabeça dos muitos espectadores que, ontem à noite, deram ao Campo Pequeno um ar muito bem composto.

Descrito por um adepto do consumo desenfreado de substâncias psicotrópicas, o concerto de ontem foi algo como uma viagem a bordo de um colorido tapete voador, tendo por companhia um cogumelo mágico; na opinião de um médico, uma febre de 40 e muitos graus propensa a delírios, vertigens e sonhos instáveis.

“The Youth” (Oracular Spectacular) foi a primeira faixa a ser tocada, quem sabe se em homenagem aos muitos adolescentes que marcaram presença. O tema terminou com a bandeira lusitana a ser atirada para cima do palco, sinal de apoio incondicional de gente que tinha vindo para fazer a festa no concerto que fechava a digressão.

A set list foi uma viagem entre a pop adocicada de “Oracular Spectacular” e o delírio cósmico de “Congratulations”. Num ecrã gigante, a acompanhar o passeio musical, projecções de mata-borrões de tinta viva, imagens de praias lamacentas ou retratos de pôr-do-sol outonais adensavam a ideia de um concerto-experiência, de uma viagem de ida garantida e regresso incerto aos anos setenta ao volante de um renovado DeLorean.

“Time to Pretend”, “Electric Feel” e “Kids”, todos de “Oracular Spectacular”, foram os temas onde se fez a festa – uma imensa festa -, alternados com o grande experimentalismo de outros como “Siberian Breaks” ou “Flash Delirium”, onde a festa deu lugar à introspecção e ao fruir do sentimento psicadélico. Pena o som do Campo Pequeno não ter permitido que, ao vivo, se pudessem desfrutar de todos os requintes musicais inventados em estúdio pelos MGMT.

O encore, precedido de um coro imenso a cantarolar a melodia de “Kids”, foi uma visita ao limbo criativo onde os MGMT decidiram assentar arraiais. Depois de “The Handshake”, um tema que teria feito sucesso no Woodstock original, terminaram com uma versão quase acústica de “Congratulations”, um dos grandes temas do novo longa-duração. Chegava ao fim a viagem a bordo do carrossel mágico, numa noite muito bem passada no Parque de Diversões MGMT.

A pergunta para um milhão de dólares permanece sem resposta: o que se segue agora? O regresso ao formato pop politicamente correcto, feito de temas curtos, refrões para serem gritados aos céus e sons instigadores à dança? Ou uma viagem a territórios experimentais, trocando o açúcar da canção pop por altos índices de mescalina? Qualquer que seja a escolha – saberemos já em 2011 -, uma coisa parece certa. Os rapazes têm tudo para voltar a surpreender.

Pedro Miguel Silva