Palco Principal - “Nociceptor” é o título do vosso álbum de estreia, mas também o nome dos recetores sensoriais do corpo que nos dão a perceção da dor. Porque é que escolheram este título para o vosso disco?
Thunder & Co. - O Sebastião andava a tentar descobrir o funcionamento dos comprimidos, por exemplo, como é que um Ben-u-ron fazia parar as dores de cabeça... Pelo caminho, descobriu um vídeo no YouTube que explicava os nociceptores e a espécie de anestesia a que são sujeitos quando tomamos um comprimido. Estas canções estão cheias de dor e o melhor a fazer para parar essa dor é manifestando-a através de música.
PP - "Canções cheias de dor" num álbum de música de dança. Um pouco contraditório, não?
T&C - É irónico ter uma toada dançante com letras tão inseguras e tristes. Mas é assim que expurgamos as nossas dores. Lágrimas para a pista de dança!
PP - Músicas carregadas de energia e boas vibrações com letras sentimentais. Como surgiu esta ideia de juntar dois mundos, aparentemente inconciliáveis, num só álbum?
T&C - Surgiu natualmente. Eu (Rodrigo)escrevo as letras sozinho e são quase sempre tristes, mas depois a parte de fazer a música já é mais divertida, porque é em conjunto. Talvez seja por isso que esses dois mundos, à partida dissonantes, vivem bem em consonância. Mas já há muita gente a fazer isso desde os anos 70... Vejam a letra da música “Boogie Wonderland”, dos Earth Wind & Fire: “Midnight creeps so slowly into hearts of men who need more than they get/ Daylight deals a bad hand to a woman who has laid too many bets/ The mirror stares you in the face and says, 'Baby, uh, uh, it don't work'/ You say your prayers though you don't care; you dance and shake the hurt”...Talvez haja aqui uma mensagem de redenção e esperança que não se encontra nas nossas letras, mas, caraças, é muita tristeza e frustração numa letra cuja música explode alegria para todos os lados. Ou podemos, também, ir para outras referências mais escuras, como uns New Order, que fizeram música para dançar muito sombria.
PP - No novo single, “Apples”, ouve-se no refrão: “I! Addicted to extremes / You! Bring me close to my dreams / all my fantasies are hard to please”; já em “O.N.O.” encontramos uma veia mais romântica (“I want more than one night only…”) - os vossos temas têm alguma componente autobiográfica?
T&C - Totalmente. A “Apples” fala de falta de rumo e álcool… Uma fase normal de um recém-adulto normal. Não fui alcoólico, apesar da minha mãe achar que sim. Saía à noite, quinta, sexta e sábado, e muitas vezes acordava em casa sem saber como… Depois disso, vinham momentos de angústia muito grandes. Não gostava de sentir que não tinha controlo sobre a minha idiotice.No caso da “O.N.O.”, é também uma história normal de um rapaz que se apaixona por alguém que ele acha que é perfeita demais para ele e não percebe por que motivo é que ela lhe dá tanta bola, e tem medo que aquilo possa acabar a qualquer momento.
PP - As vossas canções já rodam nas rádios e em diversas pistas de dança. Na vossa opinião, quais os ingredientes que ditaram o seu sucesso? Anteciparam, em algum momento, todo este entusiasmo por parte do público?
T&C - Ficamos contentes com esta pergunta e com a vossa opinião em relação a nós. Contudo, não sentimos que tenhamos grande sucesso. A nossa música ainda não chegou a quase ninguém. Há uma grande apatia em relação a tudo que não seja uma moda, sabe-se lá bem porquê. Temos tido, sim, um apoio muito grande por parte de pessoas que acreditam em nós, como é o caso da NOS DISCOS, da ANTENA 3 e dos promotores de alguns festivais que já nos contactaram e que em breve anunciarão a nossa ida aos mesmos.
PP - Os Thunder & Co. apostam numa componente gráfica muito marcante. É para vocês uma prioridade que a música se faça acompanhar por imagens fortes, chamativas?
T&C - Achamos importante ter uma imagem forte que nos defina e nos distinga. Talvez o caminho que temos feito em termos de imagem não seja o mais chamativo, mas é aquele que nós gostamos e acreditamos neste momento.
PP - Os vossos videoclips são bastante peculiares: desde o de “O.N.O.”, que nos mostra uma mistura de vários vídeos pertencentes a bancos de imagens, até ao de “Apples”, onde nos deparamos com um grafismo recheado de tons. De onde surgiram estas ideias?
T&C - A ideia da “O.N.O.” partiu do Sebastião que, para além de membro dos Thunder & Co., também é designer. Ele quis fazer um anti vídeo, mas com um conceito que me cativou imediatamente... A ideia era fazer pesquisa de vídeo em bancos de imagens com a letra da música e usar o que saía... É por isso que no refrão, onde eu canto “Oh Oh Oh”, aparece um Pai Natal.A ideia para o vídeo da “Apples” veio de um designer nosso amigo chamado AqueleSimões. O AqueleSimões é uma pessoa que admiramos e tem carta-branca para fazer o que lhe apetece. Tínhamos falado com ele para nos ajudar a fazer uma imagem que tivesse uns toques de animação esporádicos, de forma a podermos lançar a música como single. Ele disse que fazia a tal a imagem, mas depois entusiasmou-se e enviou-nos esse vídeo. Ficámos malucos com aquilo!
PP - Enquanto Thunder & Co., existe algum projeto (internacional ou nacional) com que se identifiquem e pelo qual se deixem influenciar?
T&C - É inegável que a nossa estética vai um pouco ao encontro das bandas da editora DFA.
PP - Disponibilizaram “Nociceptor” para download legal e gratuito, através da NOS Discos. Estrategicamente, tem-se revelado uma boa opção?
T&C - Na nossa opinião, é a melhor opção. Para uma banda completamente nova e sem história (por exemplo, não viemos dos Da Weasel nem dos Xutos e Pontapés...), a NOS DISCOS investe no projeto, fazendo a comunicação, dando exposição, cobrindo alguns custos de produção do álbum, dá-nos CD’s que nós podemos vender onde e ao preço que quisermos, e permite-nos ter as músicas à venda em todas as lojas digitais e serviços de streaming. Sentimos que, se as pessoas quiserem sacar a nossa música de borla, o vão fazer, quer a NOS DISCOS disponibilize ou não disponibilize o download gratuito e, por outro lado, quem quiser mesmo comprar para apoiar os artistas, irá comprar na mesma.
PP - O Sebastião trabalhava como designer gráfico e o Rodrigo como produtor de conteúdos na RFM. O que é que vos levou a entrar no mundo da música?
T&C - O normal. Crescemos a ouvir música, a sonhar e a tocar um instrumento, a arranjar as ferramentas necessárias para a produção de música, a experimentar, a perceber que das nossas cabeças e da nossa vontade poderia sair música que pudesse agradar a outras pessoas e, principalmente, a nós próprios (pelo menos enquanto a estamos a fazer.)
Catarina Soares
Fotografia: Arlindo Camacho
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