A obra, que teve “dois a três meses de preparação mais quatro semanas de trabalho com os calceteiros” da Câmara de Lisboa e da Escola de Calceteiros de Lisboa, é a primeira de Vhils em calçada portuguesa, contou o próprio à agência Lusa.

Alexandre Farto escolheu trabalhar com este material, “muito importante para a história de Lisboa”, para “valorizar o lado artístico da calçada portuguesa e os calceteiros”. “A ideia era mais fazer uma colaboração com os calceteiros do que ter uma obra minha, misturando duas linguagens e fazendo um paralelismo com a arte pública mais antiga da cidade”, disse.

O desafio para criar o rosto da fadista partiu de Ruben Alves, o realizador de “A Gaiola Dourada”, que quando idealizou a capa do disco que andava a preparar - “Amália, As Vozes do Fado”, uma homenagem com fadistas da nova geração – se lembrou que “o fado é uma música urbana que nasceu nas ruas”, tal como o trabalho de Vhils.

“Ele aceitou logo o desafio e foi mais longe do que a minha proposta, sugerindo que o rosto fosse feito em calçada portuguesa”, contou Ruben Alves à Lusa.

Apesar de ser em calçada portuguesa, o retrato “aparece como uma onda do mar que [começa no chão e] subiu a parede”, explicou Vhils, acrescentando: assim, quando chover, “faz chorar as pedras da calçada”, havendo uma ligação ao fado.

Neste rosto de Amália, o ‘background’ de Vhils, ligado à cultura de rua (ao hip-hop e ao ‘graffiti’), e a Lisboa de hoje e de ontem encontram-se, referiu o artista.

A obra será desvendada na quinta-feira ao final da tarde, em Alfama, na mesma altura em que será apresentado o disco “Amália, As Vozes do Fado”, com direção artística de Ruben Alves.

Com o disco, no qual participam, entre outros, António Zambujo, Carminho, Camané, Gisela João e Ricardo Ribeiro, o realizador quer passar “uma imagem atual do fado, sem desvirtuar as músicas originais”.

“Amália, As Vozes do Fado” conta ainda com a participação da irmã da fadista, Celeste Rodrigues, “que canta um tema que Amália nunca tinha gravado”, do brasileiro Caetano Veloso, da cabo-verdiana Mayra Andrade e do angolano Bonga, que faz um dueto com Ana Moura numa música produzida por Branko (dos Buraka Som Sistema).

Ruben Alves admitiu que este último tema, “Malhão”, poderá ser alvo de algumas críticas, por ter sido produzido por um músico mais ligado à música eletrónica, mas Amália “também foi muito criticada e será super visionária, sempre à frente”.

O realizador garantiu que “Malhão”, tal como os outros temas, não foi desvirtuado, mas “tem uma sonoridade de 2015”.

Deste projeto faz ainda parte um documentário, que está em fase de preparação. “Quando me convidaram para preparar o disco pensei: já que vou fazer isto, vou filmar e mais à frente vou fazer um documentário”, contou.

A ideia de Ruben Alves é mostrar “como é o fado nos dias de hoje”, falar “sobre o fado numa maneira urbana”.

O disco, editado pela Universal, estará disponível a 17 de julho e o documentário, a ser exibido pela TVI, deve estar pronto no final do ano.

@Lusa